Porta-voz do movimento Vem pra Rua, o empresário Rogério Chequer diz que o grupo está disposto a dar “o benefício da dúvida” ao presidente interino Michel Temer em nome da governabilidade. Mas lamenta a falta de especialistas no novo governo, estando disposto a cobrar uma reforma ministerial.
Como o “Vem pra Rua” vê os primeiros passos do governo Temer?
Vemos um direcionamento para que o Estado diminua seu tamanho, disposição para cortes nos funcionários comissionados. A redução de ministérios é muito positiva, mas precisa ser acompanhada de uma redução também de quadros. De nada adianta você fundir dois ministérios e a estrutura ficar do mesmo jeito.
É o caso, por exemplo, da AGU e Banco Central, que perderam apenas o status de ministério?
O número de ministérios é apenas uma variável, o mais importante é o custo e a eficiência deles. A sinalização de nomes técnicos para o Banco Central é importante, investimentos em infraestrutura e parcerias publico privadas também. Por outro lado, percebemos a possibilidade de fisiologismo na nomeação de alguns ministros. Leonardo Picciani (PMDB) nos Esportes, uma pessoa sem qualquer experiência e comportamento errático no final do último governo, não é positivo. Vamos aprofundar os nomes do novo ministério, para separar aqueles que foram apenas mencionados na Lava-Jato daqueles que podem ter implicações maiores. Ser mencionado, a princípio, não deveria se constituir culpa ou evidência de mal feito. Agora, existem alguns casos que deveriam ser tratados com mais cuidado, em razão de antecedentes ligados a corrupção.
A que casos o sr. se refere?
Preciso investigar. Tenho alguns nomes na cabeça, mas prefiro não colocar agora.
Dois investigados formalmente na Lava-Jato foram nomeados. Não deveriam ter sido?
Nomes com suspeitas de envolvimento em corrupção não deveriam fazer parte do governo. A luta pelo fim da impunidade e contra a corrupção é inegociável. Esperamos a curto prazo o governo anunciar apoio às 10 medidas contra a corrupção propostas pelo MPF.
O ministro da Transparência, Fabiano Silveira, é indicado por Romero Jucá e Renan Calheiros, investigados na Lava-Jato. Isso é preocupante?
Eu não sabia, preciso olhar. Fisiologismo escancarado não será tolerado. O povo deu sinais claros nas ruas e nas redes sobre o que não quer mais. Existem brasileiros talentosos, especializados nos assuntos da República e de governo. Ministérios não precisam ser ocupados de forma totalmente política, como vinha sendo feito no governo Dilma. Mas não observo o mesmo padrão sendo repetido agora.
Não observa? Que nomes atuais atendem ao critério de especialidade e talento para a área?
Vejo Mendonça Filho (DEM-PE) na Educação como um deputado sério, que já se envolveu com isso antes, que tem conhecimento na área e fez bons trabalhos no Legislativo.
O que ele liderou na Câmara que o sr. considera que o qualifica para o comando da Educação e Cultura?
Em primeiro lugar, ele já teve experiência em educação em Pernambuco. Termos um ministro hoje que já teve algum contato com o tema do ministério é raridade, que não vimos nos últimos 13 anos.
Mas qual contato ele teve com educação?
Acho que teve um envolvimento muito grande — a gente tem que verificar —, com a própria secretaria de educação de Pernambuco.
Mendonça Filho é herdeiro de agroindústrias. Atuava com avicultura e foi secretário estadual agricultura. Não há registro de qualquer atuação nessa área...
Então eu estava enganado. Vamos ter que ver. É mais um que vamos ter que ver.
Não foi fisiológica a escolha do novo governo? Não são nomes da velha política assumindo o poder?
Não falei que estava satisfeito com este ministério. Vejo algumas pessoas que pelo menos na sua experiência legislativa atuavam de forma diferente do que eu acredito ser a da maioria. Nesse ponto, isso é pura percepção.
E do ponto de vista da eficiência do estado, da necessidade de especialistas que mencionou?
O nível de especialização na área em que eles estão atuando raramente é encontrada lá (no ministério Temer). Tem uma parte desse ministério que pelo menos vejo como legisladores que atuavam de forma eficiente. Que tem experiência na própria área, acho que tem pouquíssimo.
Mas isso não é um problema?
O que precisamos para acabar com o fisiologismo é ter especialistas lá. Ainda não temos.
E o que o movimento vai fazer em relação a isso?
Vamos investigar quais são os ministros, preciso ter um nível de conhecimento mais adequado. Já disse uma informação errada sobre o Mendonça Filho. Mas quero saber se estamos passando por um período transitório até a votação de dois terços do Senado. O debate é: este é um ministério ótimo ou o possível diante da temporariedade do mandato, onde, se não houver algum tipo de preocupação política, a gente vai voltar a viver enorme instabilidade? Ainda assim, não acho que isso justifica a ausência de conhecimento técnico nos ministérios.
O “Vem pra rua” está dando carta branca ao governo em nome da governabilidade?
Vamos ficar em cima, da mesma forma que atuamos com Dilma. Não escolhemos o governo Temer. O país estava sendo levado à bancarrota com o governo que tínhamos, e a solução foi o impeachment. Tenho esperanças de que o governo temporário seja superior ao anterior. Isso não significa carta branca. Daremos o benefício da dúvida em alguns pontos, que não comprometam lisura, corrupção, representatividade e eficiência. Estamos cientes de que até a votação dos dois terços, algumas concessões políticas têm que ser feitas, senão você não retoma a governabilidade. Mas isso tem limites. Vamos analisar agora como é o ministério, aprofundar nomes, verificar se tem aberrações. Aí o movimento vai atuar.
Atuar de que forma?
A gente vai protestar e, se for necessário, pedir a troca desses ministros. Não teremos constrangimento em pedir troca do que não se enquadrem.
Isso pode acontecer mesmo durante a julgamento do impeachment?
Sim. Não é um momento fácil para o país. A retomada da governabilidade é uma pré condição da retomada do crescimento. Ainda temos um presidencialismo de coalizão com regras político eleitorais que permitem aberrações de representatividade. O movimento está ciente de que não vai conseguir consertar todas as coisas no primeiro mês.
O ministro da Fazenda admite a aplicação de tributos emergenciais, como a CPMF. Como o sr. avalia isso?
Devemos primeiro buscar o corte de gastos antes de ampliar receitas.
Mas e se não for suficiente?
O ideal é que não se aumente impostos. Agora, se for impossível, o governo deve apresentar demonstrativos transparentes, para mostrar que não há onde cortar. (Aumentar impostos) às vezes é uma solução necessária, e, se for necessária, que seja temporária. Agora, o Brasil não consegue mais suportar uma carga tributária acima de 36% do PIB. Existem países com metade de carga e nível de serviços semelhante. Temos países desenvolvidos com carga na mesma magnitude e níveis de serviço bem superiores.
A população vai aceitar isso?
Nosso interesse é o crescimento do país, não é derrubar governos. Só vamos crescer quando aumentarmos a eficiência e a transparência da gestão pública. Se eles chegarem em um ponto e verificarem que chegaram em um limite, tenho certeza de que a população vai entender isso muito melhor.
E como vocês farão para acompanhar este discurso? Saber se ele é verdadeiro ou propaganda?
Nos disponibilizamos a ajudar o governo a instituir um painel de controle, com indicadores de performance. Se esses indicadores são acordados com a sociedade civil, vai ficar muito mais fácil para o governo tomar decisões aparentemente impopulares.
O que ameaça o governo Temer?
A Lava-Jato pode chegar a pessoas do círculo mais próximo do poder. A narrativa de destruição do governo, de uma minoria e setores que não têm interesse de que este governo seja bem sucedido, também é uma ameaça.
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