Análise
Falta de interesse político e restrições orçamentárias são maiores obstáculos à modernização militar
O investimento de R$ 397 bilhões em reequipamento das Forças Armadas brasileiras tem dois principais obstáculos a serem vencidos. O primeiro é de orçamento: injetar R$ 20 bilhões ao ano em compra de armamentos e veículos militares seria aumentar a verba de Defesa em cerca de 50% em relação ao que se gasta atualmente com o setor no país.
Barreira talvez maior seja de ordem política. Ninguém sabe dizer ao certo é se o governo brasileiro e o Congresso terão interesse em aprovar gastos deste montante com um setor que não traz benefícios imediatos para a população. O governo de Dilma Rousseff tem maioria no Parlamento, mas a presidente teria de gastar cacife político para aprovar o aumento dos gastos militares.
Para o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília, as despesas com as Forças Armadas não são exorbitantes embora de início possam parecer. "Gastos militares são sempre altos, portanto os valores sempre parecem absurdos. Mas o valor estimado [no plano de reequipamento militar] não é fora da realidade". Mas isso, segundo ele, não garante aprovação do orçamento pedido. "Se o Congresso vai aprovar? Só testando", diz o cientista político. (RWG)
Uma canetada do general Augusto Pinochet, ditador do Chile entre 1973 e 1991, tornou as Forças Armadas chilenas as mais bem equipadas da América do Sul até hoje. A Lei do Cobre obriga o país a destinar 10% das receitas com exportação do metal, o principal produto do Chile, para a compra de material bélico.
"Os chilenos têm blindados melhores, aviões tecnologicamente mais avançados e uma frota de navios superior à brasileira", afirma Expedito Bastos, especialista em Defesa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bastos diz que os chilenos não são os únicos que têm algum tipo de superioridade sobre o Brasil no continente. "A Colômbia está se equipando. O Uruguai tem forças terrestres mais modernas", afirma ele. Apenas a Venezuela, na opinião do professor e de outros especialistas blefa ao anunciar compras de mais equipamentos. "Talvez eles até tenham material, mas a dúvida é se sabem usar", afirma.
Erro brasileiro
Para o coronel Geraldo Cavagnari, os presidentes-generais que governaram o Brasil depois do golpe de 1964 erraram ao não criar uma lei semelhante à que vigora no Chile. "Foi a maior bobeada que deram", afirma o pesquisador, lembrando que hoje as Forças Armadas brasileiras não têm orçamento anual garantido para reequipamento.
O modelo chileno, porém, hoje é questionado dentro do próprio Chile. O atual governo, de Sebastián Piñera, cogita anular a Lei do Cobre. A presidente anterior, Michelle Bachelet, tentou o mesmo. A alegação é de que o porcentual fixo destinado às Forças Armadas elimina a possibilidade de crescimento maior da indústria do cobre.
Democracia
Os especialistas em defesa afirmam, porém, que não foi apenas a ditadura brasileira que errou na área militar. Depois do fim da redemocratização, sem lei para garantir investimentos, as compras de novos equipamentos foram minguando e não se investiu no setor. Expedito Bastos, da Universidade Federal de Juiz de Fora, lembra que, com a Nova República, em 1985, tudo que era militar passou a ser malvisto.
Para Bastos, devido à má visão dos militares, o Brasil deixou de se modernizar em um momento importante da evolução do armamento. "Perdemos a nossa indústria da defesa no início dos anos 90. E isso aconteceu exatamente na hora em que a mecânica estava interagindo com a eletrônica."
Apesar dos problemas, a análise dos especialistas é de que o Brasil, por seu tamanho, ainda não tem rivais à altura na América do Sul. "Quem atacar o Brasil vai perder", afirma o coronel Geraldo Lesbat Cavagnari, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. Para ele, a própria ausência natural de inimigos levou o Brasil a ter sempre uma postura pouco ativa na compra de armamentos. "Se você não tem perigo à vista, a tendência é se acomodar. Mas há um velho ditado militar que diz que, se você quer a paz, precisa se preparar para a guerra", diz o coronel, defendendo a necessidade dos novos investimentos.
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