Pelo menos R$ 1,5 milhão repassado pela prefeitura de Curitiba, em 2010, à ONG Associação Reimer foi parar na conta de uma empresa de fachada que pertencia a um ex-funcionário da própria Reimer. O valor corresponde a um terço do total de R$ 5,4 milhões pagos à associação para ministrar um curso profissionalizante para jovens de Curitiba durante a gestão Luciano Ducci (PSB). O esquema de suposto desvio de dinheiro público foi descrito em auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
O caso já havia virado notícia, na época, pelo fato de a Reimer ser voltada ao atendimento de indígenas e não ter qualquer experiência na área para a qual havia sido contratada.
A auditoria do TCU cita que a Reimer contratou a empresa Club Sul Eventos logo após ter acertado o convênio com a prefeitura, assinado em maio de 2010. O diretor da Club Sul era funcionário da Reimer, e só foi desligado da entidade quase um mês depois da assinatura do acordo.
A compra da Club Sul pelo funcionário foi intermediada pela proprietária de uma das empresas do grupo administrado por L.M.M, presidente da Reimer entre 2010 e 2011. A auditoria cita que o período foi "praticamente coincidente ao dos pagamentos" recebidos pela empresa.
Ainda segundo os auditores, a Club Sul não tinha funcionários registrados nem endereço de funcionamento ativo. A empresa encerrou as atividades em julho de 2011, logo depois do recebimento dos últimos pagamentos.
A reportagem localizou uma das alunas que se matriculou para o curso de estética oferecido pela Reimer. Sara Santana da Silva, 29, afirma que desistiu das aulas porque o curso era "muito bagunçado". Sara relata nunca ter recebido a bolsa de R$ 100 mensais que é destinada a todos os participantes do programa Projovem Trabalhador, do governo federal, no qual o curso estava inserido. Também não teria recebido vale-transporte, outro benefício previsto pelo programa.
Apesar de ter desistido do curso, Sara aparece na prestação de contas apresentada pela Reimer como uma entre os 2.893 jovens que teriam se formado pelo programa.
As irregularidades na prestação de contas da Reimer e de uma outra entidade contratada para ministrar os cursos, a Sociedade Educacional de Santa Catarina (Sociesc), motivaram uma notificação do TCU para que a prefeitura de Curitiba devolva R$ 10 milhões, em valores corrigidos, pelos dois convênios.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de Ducci e relatou o caso, mas não obteve resposta. Também tentou falar com o secretário do Trabalho na época da assinatura do contrato, Paulo Bracarense, mas ele não retornou. Nenhum representante da Associação Reimer foi localizado.