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Pelo menos seis vereadores de Curitiba têm parentes nomeados pela prefeitura municipal. Julieta Reis (PSB), José Roberto Sandoval (PSC), Paulo Frote (PSDB), Jair Cézar (PTB), Custódio da Silva (PAN) e Mário Celso Cunha (PSDB) admitem ter gente da família com cargo comissionado no Poder Executivo do município, mas negam que a prática seja uma troca de favores entre os dois poderes.

A prática – chamada de nepotismo cruzado – é considerada normal pelos parlamentares e pelo secretário municipal de Governo, Maurício De Ferrante. Eles alegam que os parentes de vereadores que atuam na prefeitura são capacitados, competentes e, portanto, merecedores da vaga.

Segundo Ferrante, muitas pessoas nomeadas na Secretaria de Governo ou no gabinete do prefeito trabalham nas diversas regionais espalhadas pelos bairros. "Elas fazem parte da estrutura da secretaria", disse.

Não é isso, porém, o que afirma Benedito Ferreira da Costa, 55 anos, ex-funcionário comissionado da prefeitura. Segundo ele, há vários casos de familiares de vereadores nomeados pelo Executivo municipal, mas que não cumprem expediente. Ele conta o caso de um parente do vereador Sandoval que foi nomeado pela prefeitura, mas trabalha em uma loja de materiais de construção durante todo o dia.

A reportagem apurou e confirmou que Francisco Pereira da Silva, cunhado do parlamentar, realmente está prestando serviços durante o dia para uma empresa comercial particular. Silva afirma nunca ter tido cargo na prefeitura, mas apenas na Câmara Municipal de Curitiba. A nomeação dele na Secretaria Municipal de Governo, porém, foi publicada no dia 4 de maio de 2006. "Trabalhei na Câmara em 2005. Na prefeitura não", disse ele.

Sandoval confirmou que o parente tem cargo na prefeitura. "Ele é nomeado no gabinete do prefeito. Mas está em férias. Deve estar voltando, não sei direito", disse o vereador, garantindo que o cunhado conseguiu a nomeação por méritos próprios. "A gente tem boa ligação. De vez em quando ele vai lá em casa. Mas eu nunca o indiquei", afirmou Sandoval. "O Francisco está trabalhando lá por méritos dele, que trabalhou na campanha do prefeito."

Além de ter o cunhado empregado pela prefeitura, Sandoval nomeou parentes na Câmara Municipal. "Tenho um filho que trabalha comigo. Exonerei um e vou exonerar o outro filho. O Ministério Público Estadual (MPE) acha que não pode, então vamos exonerar."

O secretário municipal de Governo garantiu que já está apurando a denúncia e, se confirmada a situação, o cunhado do vereador será exonerado. "E caso ele esteja em férias e haja alguma irregularidade, terá esses dias descontados. E se nunca trabalhou, será demitido", disse Maurício De Ferrante.

Insatisfeito

O próprio denunciante, Benedito da Costa, contou que trabalhava para a vereadora Julieta Reis e que recebeu o cargo em comissão, mas nunca foi à prefeitura para exercer sua função. Ele foi exonerado após protocolar uma carta ao prefeito Beto Richa (PSDB) revelando sua história e se dizendo insatisfeito com a situação. "Eu trabalhava para a vereadora. Era nomeado no gabinete do prefeito, mas nunca fui lá. Fui exonerado no meio do ano de 2006. Fiquei sem trabalhar lá porque me disseram que eu deveria ficar à disposição, pois a qualquer momento me chamariam", diz. Do mesmo decreto que nomeou Costa, publicado no dia 10 de outubro de 2005, consta a exoneração de uma parente de Julieta Reis.

Maurício De Ferrante explicou que Benedito trabalhava como agente comunitário na regional do Bairro Novo e, por isso, não ficava na sede da prefeitura. A vereadora Julieta Reis negou a versão de Benedito, mas se enrolou para dar a explicação sobre o caso e disse que o ex-funcionário está fazendo a denúncia por chantagem.

"Esse senhor trabalhou no comitê do Osmar Bertoldi quando ele foi candidato a prefeito em 2004, no primeiro turno. No gabinete do Bertoldi trabalhou com todos nós, inclusive trabalhou no nosso comitê de campanha na época. Mas ele era contratado pelo comitê do Bertoldi. Depois, no segundo turno, trabalhou na campanha do Beto Richa", disse a vereadora.

Julieta Reis explicou que Benedito foi nomeado no gabinete do prefeito para trabalhar na regional do Bairro Novo e depois na do Cajuru. Em seguida, ela confirmou que Benedito atuava no escritório dela. "Quando ele estava trabalhando no Cajuru, e eu tenho um escritório no Sítio Cercado, que fica ali do lado da regional, ele trabalhou, realmente, entre a regional e o meu escritório", disse Julieta Reis, frisando que o ex-servidor está fazendo chantagem.

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