Aliados do vice-presidente Michel Temer estão preocupados com a viagem da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, na próxima quinta-feira (21). Na avaliação de peemedebistas, a petista usará a agenda internacional na ONU para ventilar entre chefes de Estado que está sendo vítima de um golpe arquitetado pelo próprio companheiro de chapa.
Em entrevistas para correspondentes internacionais, tanto ela quanto o ex-presidente Lula reiteram que Temer não tem legitimidade para assumir o país e que o processo de impeachment é uma farsa. A preocupação aumentou depois que Temer foi chamado de “traidor” e “golpista” por um ambulante na tarde de terça-feira (19) em frente ao seu escritório em São Paulo, dando alerta aos aliados de que a imagem negativa pode pegar o vice. Temer está em São Paulo nesta quarta-feira (20), onde se reúne com peemedebistas, como o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha. Ainda não se sabe quando ele vai a Brasília assumir a presidência por conta da viagem de Dilma.
Interlocutores de Temer afirmam que estão preparando contra ofensiva internacional. Para isso, contam com a ajuda do jornalista Thomas Traumann, ex-ministro da Comunicação de Dilma. Também foi consultado o embaixador e ex-ministro de estado de Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Amaral. Temer cogita dar também entrevistas a correspondentes estrangeiros, como têm feito Lula e Dilma. Aliados acreditam que o próprio ex-presidente Fernando Henrique, com seu prestígio internacional, poderá reduzir os danos sobre Temer.
Conselhos de Delfim Neto
Até por querer diminuir o desgaste sobre o vice, acusado de ser conspirador, a equipe de Temer se movimenta com cuidado em São Paulo em busca de nomes e definições para a equipe econômica do governo. Essa é a prioridade agora. Temer tem se aconselhado com Delfim Netto e deve se reunir nos próximos dias com o senador tucano José Serra, aspirante ao posto de ministro da Fazenda. Temer, no entanto, preferiria alocar Serra no Planejamento ou na Saúde.
Eliseu Padilha no escritório de Temer
Principal articulador de Michel Temer, o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha foi o primeiro dos peemedebistas a chegar para participar de uma reunião num dos escritórios do vice-presidente, na Praça Pan-Americana, em São Paulo. A jornalistas, ele tentou repetir o mesmo discurso de Temer, de aguardar respeitosa e silenciosamente a decisão do Senado sobre o impeachment, mas não se furtou a comentar as declarações do ex-presidente Lula de que o PT vai lutar para derrubar a decisão.
Um dos mais fiéis aliados de Temer, Padilha deixou o governo após a deflagração do impeachment. Antes da decisão na Câmara, no último domingo, pela abertura do processo de afastamento de Dilma Rousseff da presidência, ele mantinha planilhas com os votos de cada deputado, atualizadas várias vezes ao dia. Quando atuou na articulação política de Dilma, mapeou os cargos de cada partido em Brasília e nos estados.
“A luta política é esperada. O que melhor podemos fazer é observar, observar, observar e definir. Estamos ainda vivendo um processo de impeachment. Não se tem certeza do que vai acontecer. Temos que raciocinar como alguém que está fora do governo, e o governo tem que cumprir o seu papel. O presidente Lula, pelo que vejo, fala em nome do governo”, disse Padilha, antes de entrar rapidamente no escritório de Temer.
- Estratégia do governo para tentar barrar impeachment é liberar créditos aos estados
- Dilma prepara ida a Nova York e cogita denunciar golpe em cerimônia da ONU
- Dilma repete gesto de Collor e desce rampa do Planalto para saudar manifestantes
- ‘Desde Getúlio, país tem um veio golpista adormecido’, critica Dilma
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado