Houve confronto com integrantes da Marcha das Mulheres Negras.| Foto: /

Em novo confronto entre manifestantes da Marcha das Mulheres Negras e manifestantes contrários à presidente Dilma Rousseff que defendem a intervenção militar e social, acabou com a prisão de pelo menos dois manifestantes nesta quarta-feira pela Polícia Militar do Distrito Federal. Um deles estava portando uma arma. Segundo relatos, houve disparos durante a confusão. Os nomes ainda não foram divulgados.

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Cunha diz que é preciso investigar tumulto e que não admitirá falta de ordem

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que ainda é preciso investigar o tumulto desta tarde no gramado do Congresso Nacional antes de decidir sobre a retirada do acampamento instalado no local por defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Hoje, o gramado foi palco de manifestações que terminaram em tiros, duas pessoas presas e parlamentares atingidos por spray de pimenta durante a votação dos vetos presidenciais.

Cunha declarou que ainda não tem elementos para comentar sobre o episódio - que chamou de “estranho” -, mas disse que não admitirá “falta de ordem”. Ele disse “que alguma coisa tem de ser feita”. “Sempre que a ordem estiver em perigo, vou intervir”, enfatizou.

O peemedebista afirmou que autorizou a permanência do acampamento desde que a segurança fosse preservada. “Claro que isso também depende do Renan (Calheiros, presidente do Senado)”, emendou. O presidente da Câmara acredita que o episódio desta tarde pode ser fruto de provocações mútuas e “gente infiltrada”.

Críticas

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que, apesar da Câmara ser uma Casa aberta ao povo, é preciso melhorar a segurança dos parlamentares. “Nós deputados estamos aqui muito vulneráveis”. O petista destacou que a manifestação das mulheres negras era em comemoração da semana da Consciência Negra e que não havia intenção de montar acampamento.

Para o petista, a “falta de respeito” no plenário incentiva a ambiente negativo fora do Congresso e criticou o clima desrespeitoso na Casa. O deputado disse que “não há democracia” sem ordem e lembrou que o presidente do Congresso, Renan Calheiros, era contrário ao acampamento. “Há que se tomar providências. Acho que tem que fazer uma limpeza geral aqui. Do jeito que está não dá”, pregou.

O líder do governo disse sentir saudades dos tempos dos deputados Ulysses Guimarães, de Mário Covas, de José Genoino e Fernando Henrique Cardoso. “Era outro plenário. Esse plenário brilhava. Não tem mais nada disso, virou um vale-tudo. Até os discursos estão pouco qualificados”, criticou.

Guimarães fez uma analogia aos atentados que vitimaram os franceses nos últimos dias e disse que o terrorismo tem de ser condenado, seja da esquerda ou da direita. “A ordem democrática não pode permitir esse tipo de coisa. Isso não pode continuar desse jeito”.

Em nota, a liderança do PT diz que “o manifestante não identificado arremessou bombas caseiras contra os participantes da Marcha das Mulheres Negras e foi perseguido por isso”.

Participante da Marcha das Mulheres Negras, Janete Rocha Pietá conta que viu quando um homem deu um tiro em direção à marcha, que seguia rumo ao Palácio do Planalto, onde estão sendo recebidas pela presidente Dilma Rousseff. Segundo Janete, ele deu o tiro e correu em direção às barracas dos manifestantes pró-impeachment que estão acampados em frente ao Congresso Nacional. Para ela, foi um ato de preconceito racial. “Isso aconteceu por preconceito. Nunca tinha acontecido antes de darem tiros em manifestantes no Congresso. Esse disparo foi feita contra nós por sermos mulheres negras”, disse Janete, ao chegar alarmada no Planalto.

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Na sessão plenária do Congresso, indignada, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) , relatou o acontecimento e pediu que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tomasse providências. “Hoje acaba de acontecer uma atrocidade, nunca vi coisa dessa natureza. Não pode dizer que é partido, que é direita e esquerda. Eles têm armas, bombas, estão agredindo a população civil. Não é possível um descalabro desses. Era uma marcha de mulheres, não são mulheres armadas. Tudo o que estamos fazendo foi acordado com a Câmara e com o Senado, não aceitamos essa agressão, peço que tome as providências”, disse Benedita da Silva, reclamando que a polícia não deu segurança e proteção às mulheres.

O desentendimento aconteceu com manifestantes que estão acampados no gramado em frente ao Palácio Itamaraty e que defendem intervenção militar. Segundo relatos, as mulheres negras estavam marchando próximo ao acampamento e foram surpreendidas com rojões atirados em sua direção. Há relatos de que um dos manifestantes fez disparos em direção aos manifestantes e foi preso pelos policiais militares no gramado em frente ao Itamaraty, onde estão acampados os manifestantes pró-intervenção.Outros disparos, segundo relatos, foram feitos já no gramado próximo ao espelho d’água do Congresso Nacional.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), foi atingido por gás de pimenta disparado por policiais militares, que tentavam conter o tumulto. Pimenta foi atendido no serviço médico da Casa. Além de Benedita, outros líderes também ocuparam os microfones do plenário para protestar e pedir providências a Renan para a retirada dos manifestantes que estão acampados nos gramados próximos ao Congresso. O presidente do Senado afirmou que irá conversar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que também pedirá que as polícias Militar e Federal investiguem a existência de bombas e armas nestes locais.

“Para permanecer ( no gramado em frente ao Congresso) precisaria da anuência dos dois presidentes. Eu não concordo com isso (o acampamento), mas mesmo assim a ocupação se fez. O presidente do Senado sozinho não pode nem permitir, nem tirar os manifestantes. Vou conversar com o presidente Cunha em função dos fatos novos. Minha solidariedade às mulheres, da minha parte vou pedir que a PM e a PF investiguem a existência de bombas, de armas e tome as providências na forma da lei”, avisou Renan.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) está em posse de duas cápsulas de revólveres que teriam sido disparadas em tiros na confusão da tarde desta quarta-feira no gramado do Congresso Nacional. Ele entregará as cápsulas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “Vai terminar muito mal isso daqui se não agir logo”, disse Valente.

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A deputada Benedita da Silva, que foi uma das coordenadoras da 1.ª Marcha das Mulheres Negras, afirmou que o grupo - ela estima em cerca de 10 mil mulheres — foi surpreendido por ação de militantes políticos que já estão acampados há semanas no gramado. “Fomos impedidas de seguir com o ato. Fomos surpreendidas por agressão, teve tiros e bombas”, disse a deputada.

A confusão teria começado quando a marcha passou próximo ao acampamento dos grupos que defendem o golpe militar. Um dos coordenadores desse agrupamento, Regis Callegari, disse que eles é que foram vítimas das mulheres e afirmam que tinham também homens na passeata. Ele disse que os manifestantes teriam ido para cima do acampamento e destruído faixas e também derrubaram o boneco inflável do general Hamilton Mourão, cultuado pelo grupo. Mourão é o oficial que foi afastado do Comando Militar do Sul após críticas ao governo Dilma Rousseff.

NOVO GRUPO

Um terceiro grupo apareceu nesta quarta do gramado. São sindicalistas caminhoneiros de São Paulo. Eles tentaram acampar num dos lados do gramado, em frente ao Senado, mas foi impedido pela Polícia Legislativa.

Apenas do lado do gramado da Câmara, onde estão os integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), há autorização do presidente Eduardo Cunha para permanência dos jovens que querem o impeachment de Dilma. Do lado do Senado, precisaria de autorização de Renan Calheiros. Ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), esses sindicalistas presenciaram a confusão e, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística, Paulo João Estausia, a ação começou com o grupo pró-golpe militar.

O pessoal da CUT estendeu no gramado faixas em defesa da presidente, com os dizeres “Fica Dilma” e “Não ao golpe”.

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