Na visita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final da manhã desta quarta-feira (3), a presidente eleita, Dilma Rousseff, entrou no Palácio do Planalto por volta de 9 horas e saiu no final da manhã de forma discreta. Há oito anos, Lula chegou ao Palácio para um encontro com o então presidente Fernando Henrique Cardoso acompanhado por batedores de polícia e pela militância petista, que soltou fogos no trajeto do aeroporto à Praça dos Três Poderes.
À época, funcionários da Presidência disputaram autógrafos e beijos de Lula. Hoje, a visita de Dilma não alterou a rotina dos funcionários do Palácio. Ela trabalhou numa sala do quarto andar do Planalto, de 2005 até abril deste ano, como ministra da Casa Civil. Depois de uma conversa de cerca de uma hora, no gabinete presidencial do terceiro andar, Lula e Dilma desceram a escada para o segundo andar, onde os jornalistas esperavam.
Eles começaram a entrevista de forma descontraída. Lula e Dilma, no entanto, usaram palavras e metáforas diferentes nas respostas às perguntas dos jornalistas. Lula disse que, nos últimos dias no poder, não fará "sacanagem", como a adoção de medidas impopulares. Comedida, a presidente eleita concordou, mas classificou o conjunto dessas ações como um "saco de maldades". Repetidas vezes, Lula disse que Dilma iria "preparar o time para entrar em campo". A sucessora dele afirmou que sua lista de "técnicos" ainda não estava madura.
Diante de perguntas incômodas, Lula dava respostas longas e vagas, sem demonstrar irritação. Dilma, por sua vez, foi curta nas respostas e, na insistência dos repórteres, dizia que já tinha respondido à pergunta. Na tentativa de demonstrar que Dilma terá o poder de fato a partir de janeiro, Lula esbanjou humildade e cortesia. "Eu pedi essa conversa com a Dilma", disse o presidente. Ao falar dos projetos do pré-sal, Lula ressaltou que era apenas um "estudante" no assunto e quem entendia da questão era a sucessora. Já Dilma repetiu que irá "avaliar" e "analisar" ações e projetos.
Palpites
Lula deixou a entrevista afirmando que não daria palpites na formação do novo ministério. "Nem o Mano Menezes, quando convocado para a Seleção, pediu ao técnico (que entrou no seu lugar) no Corinthians que mantivesse os jogadores", disse o presidente. "Ela tem de montar o time dela", completou. Dilma, por sua vez, evitou comentar nomes da futura equipe.
Diferentemente de Lula em 2002, Dilma chegou ao Planalto para encontro com o presidente com sua equipe de transição montada. Há oito anos, Lula aproveitou a visita a Fernando Henrique Cardoso para anunciar o primeiro nome da equipe de transição, o do deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho (PT-SP). O parlamentar, que faz parte da cota pessoal de Lula, também faz parte do "time" de transição de Dilma.
A presidente eleita não abriu mão de uma metáfora política ao comentar sobre o peso de nomes influentes num governo. A uma pergunta se aceitaria "sombras" durante seu mandato, ela respondeu que "os ministros devem ser competentes e não sombras".
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