A recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Moçambique, em 8 de novembro, colocou o Brasil na primeira página dos jornais do país por mais de uma semana. "Entre Moçambique e Brasil: crise mundial não afeta cooperação econômica", escreveu o estatal Notícias. No semanário A Verdade, um dos destaques era "Brasil vai continuar com a política de aproximação a África".
O tratamento dispensado ao continente rendeu um artigo do colunista Belisário Cumbe no jornal O País, no qual ele lembra que, em oito anos, o presidente esteve em 27 países africanos, em 12 viagens. "Superou o presidente chinês Hu Jintao, que visitou 19 em oito viagens, desde que assumiu o cargo a 15 março de 2003", escreve o articulista, que lembra que, apesar do esforço institucional brasileiro, "a balança comercial entre a China e o continente africano é seis vezes superior a estabelecida entre a África e o Brasil".
"Acho que o Brasil está cada vez mais próximo da África que é o seu berço", afirma o ministro do desenvolvimento de Moçambique, Ayuba Cureneia. "Aliás, o presidente Lula foi muito pragmático nesse sentido. Abriu o Brasil para a África e a África para o Brasil. Intensificamos as nossas relações, principalmente econômicas, onde praticamente não tínhamos nada".
Com a crise econômica internacional de 2008/2009, a busca por mercados alternativos tornou-se mais comum em todo o mundo. Mas a opção brasileira foi feita antes. Algo valorizado pelos africanos.
"Neste momento, temos grandes empresas brasileiras trabalhando no país e há uma grande perspectiva de exportação dos nossos produtos para o Brasil", afirma Cureneia. "Também há uma grande expectativa de importação da tecnologia brasileira, principalmente para a agroindústria. Temos agora a fábrica de antirretrovirais sendo montada, que é importante para o país. Penso que essas relações vão se incrementar cada vez mais. E isso é importante".
Entre 2002 e 2008, as exportações para o Continente Africano mais do que triplicaram. Angola, o principal parceiro comercial brasileiro na África, é um dos maiores destinos das vendas nacionais no exterior, à frente de Canadá, Emirados Árabes Unidos, Austrália e Índia. Lá os investimentos superam U$ 4 bilhões (R$ 6,8 bilhões).
A presença mais forte nem sempre é interpretada como positiva. É mais comum nos jornais africanos aparecerem referência sobre o que chamam de "neoimperialismo" brasileiro, bem como críticas endereçadas aos grandes empregadores no continente, como a mineradora Vale e várias empreiteiras, bem como aos projetos de exploração de recursos minerais, que podem gerar passivos ambientais.
Durante a última visita a Moçambique, entre os dias 8 e 10 de novembro, o presidente Lula enfatizou que as empresas brasileiras não podem ser "predatórias". "É preciso que todo o processo de investimento leve em conta o desenvolvimento, mas também a preservação ambiental", afirmou.
Além da economia, o Brasil aumentou as ações de apoio à pesquisa e troca de tecnologias com a África. Na Agência Brasileira de Cooperação são cerca de 150 projetos de cooperação, com prioridade para países lusófonos (Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde) e em outras nações como Benin, Burkina Faso, Chade, Mali, Gana e Botsuana.
"Essa viragem [virada] foi muito importante, não só para os africanos como também para a comunidade brasileira, porque, finalmente, reencontramos o que há de comum", acredita o embaixador angolano em Moçambique, João Garcia Bires. "Foi o reencontro do Brasil com sua parte que estava esquecida. Não sei se mãe, ou pai; mas uma é parte importante".
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