O primeiro carregamento de cestas básicas e remédios para as vítimas da seca no estado do Amazonas começa a ser entregue nesta sexta-feira. Mas as localidades mais distantes de Manaus ainda vão ter de esperar. As Forças Armadas ainda dependem da liberação de recursos para a compra de combustível que será usado nas aeronaves.

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Segundo o Comando Militar da Amazônia, os barcos só conseguem chegar até determinado ponto dos rios. De lá o carregamento seguirá em helicópteros das Forças Armadas. Mais de 900 pequenas comunidades serão atendidas. A operação contará com 700 homens, entre eles 200 do Corpo de Bombeiros e 300 da PM.

O estado de calamidade foi decretado há cinco dias, mas até agora as áreas isoladas não foram abastecidas, segundo o governo por causa da dificuldade de acesso.

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Esta é a pior seca das últimas três décadas no estado do Amazonas. Ao todo, 28 municípios foram afetados, sendo que quatro deles (Anori, Atalaia do Norte, Caapiranga e Manaquiri) encontram-se em estado de calamidade pública. Os outros municípios são Anamã, Benjamin Constant, Canutama, Jutaí, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Tapauá, Tefé, Alvarães, Uarini, Nova Olinda do Norte, Novo Aripuanã, Boca do Acre, Pauini, Envira, Amaturá, Tonantins, Coari, Codajás e Iranduba.

As famílias receberão cestas básicas com 12 itens: arroz, farinha, feijão, macarrão, leite, açúcar, biscoito, café, óleo comestível, sal, leite e charque. A quantidade é para um mês. Serão distribuídas 50 mil cestas básicas em três meses.

O Ministério da Saúde deve enviar kits de medicamentos para atender às vítimas da seca no estado do Amazonas, totalizando 2,8 toneladas de remédios. Cada kit é composto por 25 itens e a remessa do Ministério da Saúde será suficiente para atender a 84 mil pessoas durante um mês, com o fornecimento de analgésicos, antibióticos, antiinflamatórios, anti- hipertensivos e antiparasitários, entre outros.

De acordo com a Coordenação de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde, o estado do Amazonas conta com estoque de hipoclorito de sódio para atendimento emergencial. O hipoclorito é utilizado no tratamento da água consumida pela população, evitando contaminações que provocam, por exemplo, diarréia aguda. Além disso, o Ministério da Saúde já enviou 135 mil frascos de 50 mil de hipoclorito de sódio, o que corresponde ao envio trimestral do produto aos estados. Na próxima semana, serão enviados mais 135 mil unidades do produto. Cada frasco trata 500 litros de água.

O plano de distribuição de alimentos e remédios foi estabelecido após um sobrevôo feito pelo governador do Amazonas, Eduardo Braga, e por militares. A intenção era observar quais as comunidades permitem o pouso de helicópteros e aviões de pequeno porte.

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Nesta sexta-feira, balsas com mantimentos começam a ser deslocadas para quatro cidades: Anamã, Caapiranga, Anori e Manaquiri. Como esses são municípios na calha do médio Rio Solimões, mais próximo a Manaus, a expectativa é que os ribeirinhos comecem a receber assistência no sábado.

A cada dia, aumenta o drama de milhares de famílias. Em algumas localidades, há racionamento de água e comida. O solo rachado avança quilômetros de rios e lagos. A água está cada vez mais escassa na maior bacia hidrográfica do planeta.

Para as comunidades mais isoladas, a saída é estocar um pouco que resta até que ajuda chegue, ou andar dias em trilhas até as cidades mais próximas.

- No Rio Manacapuru e a região de Araras estão totalmente isoladas. Lá se comportam mais de 6 mil pessoas. As escolas já estão paradas por falta de merenda escolar, que não chega até lá. Há dias também não chega energia às comunidades - diz o funcionário público Rogério Silva.

O medo toma conta de milhares de famílias. Com a morte de peixes, boa parte da água está poluída em algumas localidades, o que aumenta os riscos de doença, como a cólera.

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- É difícil, porque até a gente chegar em Manacapuru, nós podemos pegar uma doença. E se for grave, a gente pode até morrer - disse a agricultora Eliane Nascimento.

- A gente tem que esperar encher o rio. Se não encher o rio, em que situação nós vamos viver? Não podemos viver na vida que estamos passando - lamenta o agricultor Jorge Almeida.

A seca provocou a perda da produção da fécula de mandioca, uma das principais fontes de renda de Manaquiri, um dos municípios mais atingidos. Segundo o prefeito, a saca que custava R$ 20 é vendida agora por R$ 100. O quilo do frango pulou de R$ 2 para R$ 5. A prefeitura espera pelas 2.500 cestas básicas e dez mil litros de combustível. Os 68 agentes de saúde, a pé, visitam as famílias com hipoclorito de sódio para tornar potável a água das residências.

Em Anamã, a 168 quilômetros de Manaus, o lago que abastece a localidade já perdeu mais de 80% de seu volume, afetando a pesca, principal fonte econômica de 14 comunidades. O município está em calamidade pública.

- Tudo aqui chega de barco. Agora é feito a pé. E já começa a faltar água potável - disse o prefeito Luiz Brandão.

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A pecuária também começa a ser atingida. Em alguns municípios, cerca de 20% do rebanho já morreu. Na pesca, já passam de três toneladas de peixes mortos.