Brasília (AE) Para escapar da cassação, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), renunciou ao mandato de deputado sete meses depois de ter assumido o comando da Casa. No discurso de despedida, previu que será eleito novamente em 2006: "Voltarei. O povo me absolverá. O povo pernambucano mais uma vez não me faltará". Severino culpou a elite parlamentar por sua derrocada: "A elitezinha, essa que não quer jamais largar o osso, insuflou contra mim seus cães de guerra". Disse ainda que a mídia participou de sua derrubada.
Severino é o primeiro presidente da história da Câmara a renunciar por causa de denúncias de corrupção. O discurso do deputado durou 33 minutos. Foi assistido por 321 deputados, que permaneceram o tempo todo em silêncio. Assim que terminou de comunicar sua decisão, e quando parlamentares amigos se preparavam para aplaudi-lo, começou uma confusão nas galerias, onde um grupo de estudantes e professores protestava aos gritos. Severino foi embora do plenário como entrou: inquieto, aparentemente assustado, mexendo ora o ombro esquerdo, ora o direito, num terno novo que parecia apertado. Saiu pelas portas do fundo.
Com a renúncia de Severino, o vice-presidente José Thomaz Nonô (PFL-AL) ocupará a presidência da Câmara interinamente. Os líderes de partidos vão se reunir hoje para decidir a forma como se dará a eleição do novo presidente da Casa.
Propina
Severino renunciou ao mandato depois de perder, há uma semana, as condições políticas para continuar à frente da Câmara. Ele é acusado de ter cobrado propina do empresário Sebastião Buani para renovar o contrato de concessão de restaurantes. O empresário apresentou a prova da corrupção um cheque de R$ 7,5 mil, descontado por Gabriela Kenia, secretária de Severino.
No discurso de renúncia ao mandato, Severino alegou inocência: "As acusações contra mim são inconsistentes. Na verdade, são falsas e mentirosas e vou comprovar isso nos tribunais." O agora ex-deputado disse que sempre defendeu a liberdade de imprensa. Mas, para ele, no Brasil ela tem servido a objetivos nefastos.
Católico, na certeza de que vai voltar, Severino citou o profeta Jó: "O júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas um momento".
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