Em depoimento prestado ontem à Justiça Federal de Curitiba, o doleiro Alberto Youssef admitiu ter movimentado dinheiro que, segundo o Ministério Publico Federal (MPF), era do esquema do mensalão. Youssef admitiu que operava o dinheiro de propina recebida pelo ex-deputado José Janene, filiado ao PP e morto em 2010. Mas, no depoimento, o doleiro não chegou a dizer se tinha conhecimento de que sabia que movimentada verba do mensalão, conforme denúncia do Ministério Público. "O caixa dele [Janene] ficava em minhas mãos", disse o doleiro ao juiz Sérgio Moro.
De acordo com denúncia do MPF ao qual o doleiro responde, Janene teria recebido indevidamente R$ 1,1 milhão do esquema operado pelo publicitário Marcos Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão por sua participação no mensalão. Por meio de Youssef e outras pessoas citadas na denúncia, esse dinheiro teria sido movimentado irregularmente.
Do R$ 1,1 milhão, cerca de R$ 537 mil teriam sido transferidos de contas controladas pelo doleiro Carlos Habib Chater a pedido de Youssef. Outros R$ 618 mil teriam origem na empresa CSA Project Finance Consultoria que, de acordo com o MPF, era controlada por Youssef (o doleiro nega ser o controlador da empresa). O dinheiro teria sido investido na empresa londrinense Dunel Indústria, que teria sido usada para ocultar e dissimular a origem ilícita dos recursos investidos, segundo o MPF.
Outro réu do processo, Ediel Viana da Silva, é acusado de ser laranja de Chater na empresa Angel Serviços, que teria sido usada no esquema ao firmar um contrato com a CSA, no valor de R$ 130 mil. A Torre Comércio de Alimentos, de Carlos Chater, também firmou um contrato com a CSA no valor de R$ 145 mil. E o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, outro réu, é acusado de ser laranja de Youssef na empresa CSA. Tanto os R$ 130 mil como os R$ 145 mil teriam passado pelas empresas de Chater antes de chegar à Dunel
Durante o depoimento, Youssef admitiu que, a pedido de Janene, intermediou a negociação dos R$ 537 mil para que o dinheiro saísse da CSA e fosse para a Dunel, passando pelas empresas controladas por Chater. O doleiro negou que o objetivo fosse dissimular a origem do dinheiro. Segundo ele, Janene queria investir na Dunel porque acreditava no retorno financeiro que seria proporcionado pelo investimento.
O advogado de Youssef, Tracy Reinaldet, que acompanhou a audiência, afirmou que todos os réus concordaram em falar, abrindo mão do direito de permanecerem calados. "O Alberto Youssef colaborou com a Justiça mais uma vez, como vem fazendo nos últimos tempos. Esse é o intuito dele", disse o advogado.
O advogado de Carlos Habib Chater, Roberto Brzezinski Neto, não quis comentar o teor do depoimento de seu cliente. "O Carlos [Habib Chater] prestou depoimento e se defendeu das acusações", se limitou a dizer o advogado. Carlos Alberto Pereira da Costa, que atua na própria defesa no processo, não falou com a imprensa. Ricardo da Silva Pereira, advogado de Ediel Viana da Silva, também não falou com a imprensa ao sair da audiência.
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