O doleiro Alberto Youssef afirmou na acareação com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, nesta terça-feira (25), que uma nova delação premiada vai esclarecer a divergência entre os dois sobre o repasse de recursos para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, por meio do ex-ministro Antonio Palocci. Youssef tem habeas corpus para ficar em silêncio, mas quebrou o silêncio e aceitou responder a essa pergunta.
“Ratifico meus depoimentos dados como réu colaborador. E vou dizer mais ainda. Vou me reservar ao silêncio com referência a esse assunto porque existe investigação desse assunto do Palocci que vai ser revelado e logo vai ser esclarecido. Outro réu colaborador está falando. Eu não fiz esse repasse. Assim que for revelado vocês vão saber”, disse Youssef.
Costa reiterou que, “pelo que se lembra”, o assunto chegou até ele através do doleiro. O ex-diretor da estatal afirmou ainda que foi liberado R$ 2 milhões da cota do PP para contribuir.
“Pelo que me lembro esse assunto veio através do Youssef de um pedido de R$ 2 milhões e autorizei repassar recursos do PP para a campanha de Dilma Roussef”, afirmou o ex-diretor.
Youssef obteve um habeas corpus do ministro Teori Zavascki do Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe garante o direito de não se autoincriminar e de ficar em silêncio. Youssef tinha avisado que ficaria em silêncio logo na primeira pergunta feita pelo relator, Luiz Sérgio (PT-RJ).
“Eu vou me reservar ao direito ao silêncio por conta do salvo conduto dado pelo Supremo Tribunal Federal. Vou me reservar ao silêncio”, disse o doleiro.
“Pau mandado”
Luiz Sérgio começou perguntando a Youssef quem da CPI o teria intimidado e seria o “pau mandado” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A expressão foi usada pelo doleiro em depoimento em Curitiba ao juiz Sergio Moro. Youssef, porém, se negou a responder.
Paulo Roberto Costa já fez juramento e não tem habeas corpus. Ele afirmou que não vai trazer novidades à comissão por já ter prestado 126 depoimentos ao longo do processo.
“Não vou ter novidade para falar para vocês. Vocês já sabem de tudo. Já conhecem todos os meus depoimentos. Repito. Não tenho novidade para colocar. Todos os pontos já coloquei para o Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz Sergio Moro”, afirmou o ex-diretor.
Os deputados reclamaram da decisão do habeas corpus concedido pelo ministro Teori. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) afirmou que o acordo de delação assinado por Youssef afirma que ele renuncia o direito ao silêncio. Com base nisso, afirmou que a CPI deve acionar judicialmente o doleiro para que ele perca a delação. O deputado Carlos Marun (PMDB-RS) afirmou que as decisões do STF têm inviabilizado a comissão.
“Essas decisões estão permitindo que a CPI vire saco de pancadas”, protestou Marun.
Houve um pequeno bate-boca entre o deputado Onyx e alguns dos cinco advogados que acompanham o doleiro e o ex-diretor. Onyx se referiu aos dois como “bandidos”. O advogado João Mestieri cobrou “respeito”.
Pasadena
O ex-diretor da Petrobras reafirmou ter recebido propina para não atrapalhar a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006. Ele afirmou que os recursos lhe foram repassados por Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano. Costa reiterou algumas vezes que a responsabilidade pela compra é do Conselho de Administração, presidido na ocasião por Dilma Rousseff.
“Se existe alguém responsável (pela compra da refinaria) o Conselho de Administração e vários órgãos não entenderam isso. A responsabilidade pela compra é do Conselho de Administração. Se o Conselho entendesse que não era bom negocio, morreu e acabou”, afirmou.
Youssef e Costa reiteraram o que já disseram em outros depoimentos sobre os repasses de recursos do esquema. Youssef confirmou que repassava os recursos a parlamentares do PP e a afirmação de que “o Planalto sabia de tudo”. Costa, por sua vez, reiterou nunca ter falado do esquema com Dilma ou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dois confirmaram ainda a informação sobre o pagamento de R$ 10 milhões pela construtora Queiroz Galvão para o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, já falecido. Os recursos, nas palavras de Costa, eram um pagamento para que a CPI da Petrobras “não prosseguisse”.
O ex-diretor disse que optou pela delação premiada por que era uma “parte pequena” do esquema:
“Esse processo não era do Paulo Roberto. Muita coisa vai ser descoberta. Minha família atentou, olhou com clareza a responsabilidade, que não era só minha, eu era uma parte pequena no contexto geral. Por isso eu fiz (a delação).”
Youssef afirmou que optou pela colaboração por ser apenas uma “peça na engrenagem”. Disse ainda que a outra delação, feita em 2003, “não teve omissão ou mentira”.
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