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De boca fechada: Costa não fez nenhuma revelação na CPI | Ueslei Marcelino/Reuters
De boca fechada: Costa não fez nenhuma revelação na CPI| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Ex-diretor da Petrobras fica calado e CPI vira "ringue" político

O silêncio do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimento no Congresso, frustrou a expectativa de um "depoimento-bomba" sobre as investigações de corrupção na estatal. Preso em Curitiba desde março, Costa viajou a Brasília sob forte esquema de segurança, mas se negou a responder às perguntas dos membros da CPI Mista da Petrobras. Ao final, a sessão se restringiu ao embate político-eleitoral entre governo e oposição.

O ex-diretor fez recentemente um acordo de delação premiada com a Justiça Federal do Paraná, no qual teria apresentado uma lista com mais de 30 nomes de deputados federais, senadores e governadores que teriam recebido propina em contratos fechados pela estatal. Nada sobre o caso foi detalhado à CPI, apesar da insistência dos parlamentares. Costa, com autorização da Justiça, ficou calado para não comprometer a delação premiada. Em cima da hora, os governistas reviram a estratégia de que o depoimento fosse secreto, sem a presença da imprensa. Já a oposição tentou que ele falasse pelo menos sob sigilo, o que supostamente não prejudicaria o acordo judicial feito por Costa.

O deputado paranaense Fernando Francischini (SD) disse que o caso é uma ramificação do mensalão "Esse não é o mensalão dois. É o mesmo mensalão com fontes diferentes pagando políticos. O operador lá atrás [no caso do mensalão] era Marcos Valério e o operador dentro do governo era Paulo Roberto Costa", disse.

Para os governistas, o depoimento de Costa acabou não servindo para nada e confundiu as informações sobre políticos envolvidos no esquema. "O que está sendo divulgado são peças soltas, insuficientes para incriminar ou para as pessoas se defenderem", disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

André Gonçalves, correspondente

O doleiro Alberto Youssef foi condenado ontem a quatro anos e quatro meses de prisão por corrupção ativa devido a empréstimos fraudulentos que ele fez no Banestado, banco do governo do Paraná privatizado em 2000. O processo estava suspenso desde 2004 porque Youssef havia feito um acordo de delação premiada com a Justiça Federal no caso Banestado – escândalo de evasão de divisas nos anos 1990 operado por Youssef por meio das chamadas contas CC5 do banco paranaense (por meio das quais era permitido a estrangeiros manter dinheiro no Brasil). O acordo previa que ele não voltaria a trabalhar no mercado paralelo de dólar. Com a prisão de Youssef pela Operação Lava Jato, ficou caracterizado o descumprimento da delação do caso Banestado. E o processo foi reaberto.

INFOGRÁFICO: Entenda a Operação Lava Jato

"Em síntese, na assim denominada Operação Lava Jato, foram colhidas provas, em cognição sumária, de que o ora acusado dedicar-se-ia habitual e profissionalmente à lavagem de dinheiro e igualmente à corrupção de agentes públicos, entre eles parlamentares federais, estes com processos já desmembrados no Supremo Tribunal Federal", diz na sentença o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo caso Banestado e pelos processos da Lava Jato.

Além da pena de prisão, Youssef terá ainda de pagar multa, cujo valor não foi divulgado. Segundo decisão do juiz Sérgio Moro, a ação penal provou que o doleiro, depois de pagar US$ 131 mil de propina ao diretor de operações internacionais do Banestado, obteve um empréstimo em agosto de 1998 de US$ 1,5 milhão da agência do banco que ficava nas Ilhas Cayman,

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com o advogado de Youssef, Antônio Augusto Lopes Figueiredo Basto, mas ele afirmou não ter sido notificado oficialmente da decisão. "É lamentável que, antes de a defesa ser comunicada da decisão, o juiz informe a imprensa", disse Basto. O advogado afirmou que vai recorrer quando tiver acesso ao teor da sentença.

Entenda o caso

Alberto Youssef foi um dos principais doleiros envolvidos no caso Banestado. A evasão de divisas ocorreu na década de 1990 por meio de contas CC5 de agência do banco em Foz do Iguaçu. Durante a investigação, descobriu-se que o doleiro controlava diversas contas no Brasil em nome de outras pessoas, que eram usadas para alimentar as CC5.

Uma das principais contas estava em nome da empresa Proserv Assessoria Empresarial S/C Ltda, que foi usada para depositar R$ 172,96 milhões em contas CC5. A investigação também revelou que Youssef enviava boa parte do dinheiro para duas contas no exterior abertas na agência do Banestado em nome das off-shores Ranby International Corp. e June International Corp. A movimentação das duas contas, entre 1997 a 1998,foi de US$ 163 milhões e de US$ 668,6 milhões, respectivamente.

Ao ser acusado pelo crime de evasão de divisas, Youssef aceitou fazer um acordo de delação premiada para reduzir a pena. Mas ele voltou a lavar dinheiro – o que foi descoberto neste ano pela Lava Jato. O novo esquema teria movimentado R$ 10 bilhões. Youssef está preso desde março em Curitiba.

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