Citados rebatem as denúncias
A assessoria de imprensa do PP afirma que vai colaborar com a Justiça, mas que não irá comentar "partes do processo" ligados à operação Lava Jato. A assessoria ressaltou ainda que o atual presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), não comandava o partido à época dos fatos. Os advogados do ex-deputado José Janene e do seu ex- assessor João Cláudio Genu não foram localizados.
Os advogados de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef também não foram localizados na noite de ontem. Em entrevista na quarta-feira, Antonio Figueiredo Basto, advogado de Youssef, disse que o cliente não iria se manifestar até o fim das investigações. Procurada, a Petrobras não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.
O PT e o PMDB foram procurados no fim da tarde de ontem, mas não foram localizados representantes dos partidos para comentar o assunto.
Por e-mail, a Construtora Camargo Corrêa afirmou que "repudia as acusações sem comprovação contidas nos referidos depoimentos, e reitera que a contratação da Costa Global [empresa de Paulo Roberto Costa] e a prestação dos respectivos serviços se deram após a saída do ex-executivo da empresa".
Segundo o relato de Costa à Justiça Federal, os pagamentos pela construtora teriam ocorrido por pendências de contratos firmados antes de sua saída. Ele ressaltou no mesmo depoimento que, dos R$ 3 milhões recebidos, aproximadamente R$ 100 mil se deviam a trabalho efetivamente realizado.
(AA com Guilherme Voitch)
Vaccari deixa Itaipu
O tesoureiro do PT, José Vaccari Netto, comunicou, informalmente, na noite da última quinta-feira, na reunião preliminar do Conselho de Itaipu, que vai se desligar do órgão. No encontro, que antecedeu a reunião oficial do conselho, realizada ontem, em Foz do Iguaçu, Vaccari afirmou que "estava sendo injustamente acusado" e negou que seria o operador de um esquema de corrupção que envolveria desvio de recursos da Petrobras e de fundos de pensão para o PT. Dizendo-se "inocente", Vaccari explicou que, como tesoureiro, tem o papel de arrecadar recursos para o partido e sempre fez isso, "mas não junto a Petrobras". "Não seria adequado", afirmou.
Em depoimento à Justiça Federal, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmaram que o esquema de propina para políticos investigado na operação Lava Jato na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi replicado nas obras da refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
INFOGRÁFICO: Veja os partidos envolvidos no esquema de propina
Ambos deixaram claro que os recursos operados por eles em obras da Petrobras em refinarias, através da diretoria de Abastecimento da estatal, eram distribuídos entre políticos ligados ao PP. Os dois ressaltam, porém, que parte dos desvios também seria enviada a outros partidos por meio de outras diretorias da estatal.
Youssef e Costa afirmam que o esquema ocorria em várias obras da estatal. A Repar, em específico, foi citada por Youssef quando perguntado sobre supostos pagamentos de propina recebidos por Paulo Roberto Costa da construtora Camargo Corrêa. O doleiro teria intermediado as transações. "Olha, a Camargo Corrêa tinha várias obras dentro da Petrobras, na Repar, na Rnest, se não me engano do alcooduto. Os valores se somavam", afirma.
Segundo o esquema de corrupção relatado pelos dois, grandes empreiteiras teriam combinado a divisão das maiores obras no país, inclusive as da Petrobras. Essas empresas estariam cientes de que deveriam repassar parte do valor das obras para partidos políticos. No caso da Petrobras, cada diretoria seria ligada a um ou a dois partidos políticos. No Abastecimento, PP e PT supostamente receberiam 3% do valor dos contratos, sendo 1% ao PP e 2% ao PT, segundo Costa.
Nas diretorias de Serviços, Gás e Energia e Exploração e Produção, o PT seria beneficiado. E na Internacional, os recursos seriam divididos entre PMDB e PT. "Eu não operei em outra diretoria [a não ser a de Abastecimento], mas sei que existia nos mesmos moldes em outras diretorias. Eu sei por conta dos próprios empreiteiros e dos próprios operadores", disse Youssef no depoimento prestado no último dia 8.
A Gazeta do Povo revelou, ontem, documentos juntados pela Polícia Federal (PF) de contratos fictícios e supostos pagamentos de propina de R$ 35,8 milhões ligados às obras da Repar. Os documentos foram apreendidos na casa de Alberto Youssef e teriam ligação apenas com o PP, levando em conta as informações dos depoimentos de Costa e Youssef. Como a reforma da Repar seria ligada à diretoria de Abastecimento, a investigação da PF e do MPF irá apurar se houve repasses de suposta propina também para o PT.
Divisão
Costa chegou à chefia da Diretoria de Abastecimento por indicação do ex-deputado José Janene, morto em 2010. Quando Janene adoeceu, Youssef teria assumido o lugar dele na função de receber e distribuir o dinheiro repassado ao PP.
Segundo o doleiro, 30% dos recursos destinados ao PP ficariam com Paulo Roberto Costa; 60% seriam distribuídos entre políticos; 5% ficariam com o próprio Youssef e outros 5% iriam para João Cláudio Genu, ex-assessor do PP e de Janene. Réu do Mensalão, Genu foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2013. A Corte entendeu que ele era "um mero intermediário do esquema de recebimento de recursos".
Youssef disse que as porcentagens sempre foram calculadas seguindo este modo. "Que eu me lembre, sempre foi assim. Às vezes tinha contrato que recebia 0,5%, 0,75%,[no lugar de 1%] , mas a divisão se respeitava", disse. "Eu não fui o criador dessa organização, eu simplesmente fui uma engrenagem."
Costa cita que Renato Duque titular da diretoria de Serviços e indicado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu seria o operador do PT. E Nestor Cerveró, da diretoria Internacional, teria ligação maior com o PMDB, apesar de ter sido indicado pelos senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Renan Calheiros (PMDB-AL).