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Uma inocente montagem amadora de teatro em Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, acabou indo parar nas páginas de política dos principais jornais brasileiros. "Quem Roubou o Meu Futuro?", do grupo de alunos do colégio estadual da cidade, foi encenada no domingo. O tema principal da peça é a corrupção e os seus efeitos para os brasileiros. Sem querer, os alunos levaram os jornais a fazer uma ligação irônica entre o prefeito da cidade, Zeca Dirceu, e a situação política em Brasília. Eleito no ano passado para comandar a cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, Zeca é filho de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e um dos principais nomes na atual crise.

Na peça, uma aluna vestida de bruxa fazia o papel da Corrupção. Espantava os bons filhos da pátria para outras terras, ao tirar a chance de o país se desenvolver e de se tornar mais igualitário. No texto recitado pelos alunos, havia frases duras contra a classe política. "Ei, vocês, que roubaram meu futuro por 30 dinheiros da corrupção", dizia um trecho. "Subiu o arroz, subiu o feijão, mas eu ouvi falar que acabou a inflação", dizia outro pedaço do texto.

Zeca Dirceu, nascido durante a fase em que seu pai se escondia do regime militar no Noroeste do Paraná, prestigiou a peça, assistida por cerca de 300 pessoas. Embora não renegue suas ligações com o PT, ao qual é filiado, o prefeito tem tentado se manter distante da crise política. O tema da peça, segundo sua assessoria, foi uma mera coincidência. Em todo caso, o discurso contra a corrupção e o mau uso do dinheiro público é o mesmo que vem sendo feito pelo filho de Dirceu na cidade.

Cortando na carne

Em seus sete meses diante da prefeitura, Zeca diz estar reduzindo custos e combatendo irregularidades no município. Seu discurso é de combate à corrupção. Reduziu pagamentos de horas-extras e eliminou adicionais noturnos a funcionários públicos por considerar as práticas mal explicadas, o que lhe rendeu uma greve de servidores com apenas um mês de mandato. "Estamos cortando na própria carne", diz o prefeito, repetindo a frase do presidente Lula sobre a crise do mensalão.

Com os recursos que poupou diminuindo as despesas, Zeca garante que conseguirá pôr em prática um programa que beneficia os produtores rurais da região. "Vamos usar esse dinheiro para dar subsídios na compra de adubo", diz ele. O programa "Terra Fértil"deve sair do papel nas próximas semanas.

A única ligação feita a sério entre o nome de Zeca e as irregularidades investigadas pelas CPIs do Congresso Nacional é uma suposta doação de R$ 3 mil que o prefeito teria deixado de registrar em suas contas de campanha. A doação seria do PT nacional e poderia ser associada ao nome do publicitário Marcos Valério. Zeca nega que tenha recebido qualquer doação ilícita. "Registramos tudo o que arrecadamos e tudo veio de fontes lícitas", garante.

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