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Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar| Foto: Roberto Custódio/JL

Após meses de pressão, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi entregou sua carta de exoneração na tarde desta quarta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes disso, em mais de duas horas de entrevista coletiva, Zuanazzi disse que está saindo porque tem divergências com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a quem acusou de não entender de aviação. Ele classificou de temerárias as ações de Jobim frente ao ministério e afirmou que o resultado de propostas como a de mais espaço entre poltronas dos aviões será o aumento de preços nas passagens:

- Muita gente não quer que o povo viaje de avião - comentou ele, que estava no cargo desde março de 2006, quando deixou a função de secretário nacional de Políticas do Turismo.

Jobim foi contido ao comentar a saída de Zuanazzi, seu notório desafeto. Segundo ele, houve uma discordância de metodologia de trabalho. O ministro enfatizou que, para o Ministério da Defesa, a segurança é o ponto principal da agenda do setor aéreo, ao lado de regularidade e pontualidade dos vôos:

- O senhor Milton Zuanazzi disse que não gostaria de trabalhar comigo e, efetivamente, não deverá trabalhar, tendo em vista o trinômio que eu afirmo: segurança, regularidade, pontualidade. Se esse trinômio não serve, não serve o trabalho e nós viramos a página - afirmou o ministro.

Também nesta quarta-feira, foi aprovado na CPI do Apagão do Senado um relatório alternativo, que exclui os indiciamentos da ex-diretora da Anac Denise Abreu e do ex-presidente da Infraero Carlos Wilson.

Jobim vinha tentando tirar Zuanazzi do cargo sem sucesso desde julho, quando assumiu o ministério. Foi preciso uma operação do Planalto para solucionar a crise política. O acordo foi costurado na terça-feira e teve à frente da negociação o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. Indicação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de Walfrido, o executivo resistiu o quanto pôde. Ele tem mandato e só poderia sair pedindo demissão.

Zuanazzi disse que só não pediu demissão antes para não prejudicar os trabalhos da Anac. Com menos de três diretores a agência fica impedida de atuar. E condenou o fato de Jobim já ter dito publicamente que quer na presidência da Anac a economista Solange Vieira "sem nem mesmo consultar o presidente Lula".

Em tom de desabafo, Zuanazzi respondeu ainda a Jobim, que na semana passada acusou a Anac de leniência no tratamento do caos nos aeroportos. Segundo Zuanazzi, sua única leniência foi não ter respondido às críticas do ministro.

- A única leniência que tivemos foi com o ministro Jobim porque não respondi às críticas dele, sequer respondi em off. Não respondi porque entendo que não ajudaria a aviação brasileira criando polêmica num momento tão delicado. O que precisávamos não era polêmica, era de soluções - afirmou.

Zuanazzi admitiu que sofreu pressão do ministro para sair, mas afirmou que não aceitou ser escorraçado do cargo.

- Apesar da pressão brutal não gostaria de sair escorraçado. Quero prestar contas ao Brasil. O ministro pressionou, mas não me senti pressionado.

Zuanazzi era o único dos diretores da agência que ainda não tinha deixado o cargo após a posse de Jobim no Ministério da Defesa. Na terça-feira o presidente em exercício, Arlindo Chinaglia, assinou a nomeação de dois novos diretores da Anac: o economista Marcelo Guaranys e o engenheiro Alexandre Gomes de Barros. Eles substituirão Leur Lomanto e Denise Abreu, respectivamente. Já o brigadeiro Allemander Pereira Filho tomou posse na segunda-feira, como diretor de segurança operacional, investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos, no lugar de Jorge Luiz Brito Velozo. Também já havia deixado o cargo de diretor de relações internacionais o economista Josef Barat.

Zuanazzi usa coletiva para fazer balanço da gestão

Em tom de desabafo, defendeu-se das críticas, ironizou o ministro da Defesa, e tentou mostrar que a a agência fez muito mais do que o antigo Departamento de Aviação Civil (DAC) na gestão do espaço aéreo.

O presidente demissionário da Anac afirmou que muitas acusações à sua gestão eram injustas e que houve muita confusão em torno das competências dos órgãos do setor aéreo, sobretudo da Anac. Segundo ele, a responsabilidade pela greve dos controladores, por exemplo, foi atribuída à agência, quando na verdade eles respondem à Aeronáutica.

Zuanazzi repetiu que o apagão aéreo começou em 29 de setembro de 2006, depois do acidente com o Boeing 737-800 da Gol, e terminou em 22 de junho de 2007. Afirmou que os atrasos que persistem no setor sempre existiram e estão dentro da média. Ao ser lembrado que o ministro da Defesa anunciou o fim da crise do setor aéreo para março do ano que vem, ele respondeu que os atrasos vão continuar existindo devido aos equipamentos nos aeroportos que ainda não permitem que as aeronaves pousem com menos visibilidade, por problemas meteorológicos.

Zuanazzi reagiu também às críticas de que a agência não multa as empresas do setor, apresentando números dos últimos anos. Segundo ele, somente este ano foram aplicadas 167 multas. Ele se queixou ainda das restrições do orçamento para a Anac. Segundo o executivo, a agência "não pode ficar de chapéu na mão" na porta dos ministérios da área econômica.

Valor: Zuanazzi teria agido para evitar paralisação da BRA

Segundo resportagem do jornal "Valor Econômico" publicada nesta quarta-feira, Zuanazzi agiu nos bastidores, como uma de suas últimas medidas, para evitar a paralisação das operações da BRA. Zuanazzi contrariou recomendação da equipe técnica da agência, em dois pareceres, de suspensão total dos vôos e vendas de passagens da companhia aérea, por supostos descuidos na manutenção de aeronaves e mau atendimento aos passageiros, entre outros problemas. A BRA enfrenta a pior crise desde sua fundação, em 1999. Técnicos da Anac constataram descumprimento de várias normas pela empresa e encaminharam ao presidente do órgão regulador, há cerca de dez dias, relatórios em que sugeriam a suspensão das operações, por tempo indeterminado, até que os problemas fossem corrigidos. Zuanazzi, então integrante único da diretoria, vetou a recomendação sem dar explicações.

O presidente demissionário da Anac é do ramo de turismo e uma das possibilidades cogitadas pelo governo é remanejá-lo para um cargo na Embratur. A família Folegatti, principal acionista da BRA, é oriunda do mesmo setor e dona também de uma das maiores operadoras de turismo do país, a PNX Travel.

Pilotos têm omitido panes para preservar empresas, diz Cenipa

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) emitiu comunicado nesta terça-feira, afirmando que comandantes de vôos têm omitido panes nas aeronaves para não expor as companhias aéreas para as quais trabalham. O documento diz que o problema tem ocorrido "constantemente" e relata pelo menos dois casos no Aeroporto de Congonhas. Em ambos, os comandantes não acionaram a chamada situação de emergência através de comunicação à torre de controle, e apenas solicitaram "QAP" (comando para permanecer na freqüência) aos serviços contra incêndio.

O procedimento evitou a entrada na pista dos carros de bombeiros, o que daria divulgação aos episódios. No primeiro caso, um avião ATR-42, com 29 pessoas a bordo, havia sofrido uma pane no motor direito, com o aquecimento da turbina e o conseqüente risco de incêndio.Assembléia por salários provoca fila em Cumbica

Uma assembléia de aeroportuários causou muitas filas no embarque do Terminal 1 do Aeroporto de Cumbica entre 8h40m e 9h20m desta quarta-feira. Tudo porque a maior parte dos funcionários da Infraero que trabalhava nas máquinas de raio-x deixou o local para participar da reunião, que discute as reivindicações da categoria, como aumento salarial e promoções. Das 6 máquinas de raio-x, apenas duas funcionaram normalmente durante esses 40 minutos tanto no Terminal 1, que teve 21 embarques no período, quanto no Terminal 2, onde os impactos foram menores, pois saíram apenas oito vôos. No momento, segundo a Infraero, a situação está normalizada. A assembléia continua.

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