Um estudo indicou que quando eram feitas palestras para sensibilizar os moradores de comunidades africanas sobre temas do cotidiano, como ferver água antes de beber, por exemplo, a adesão era de no máximo 10%. Quando identificaram em quem realmente a comunidade confiava, quem era o líder e ele passou a explicar o mesmo tema, a adesão saltou para 80% dos moradores. A pesquisa foi realizada pelo sociólogo Everett Rogers.
Nas empresas acontece a mesma coisa. O pesquisador TJ Larkin, PhD em Comunicação, utilizou essa pesquisa do sociólogo e aplicou no ambiente empresarial. O resultado destaca que o colaborador adere nove vezes mais a informações passadas pelas chefias diretamente, comparada com as difundidas pelos meios formais de comunicação da empresa. TJ Larkin afirma que os gerentes próximos a suas equipes são sempre os mais confiáveis pra transmissão de informações, tese comprovada por várias empresas globais que ressaltam que esses gerentes estão mais próximos dos colaboradores, participam das conversas na hora do cafezinho, circulam pela organização, enfim, fazem parte do ambiente do funcionário, têm a mesma referência de linguagem e de vivência, inspiram confiança.
E se o estudo realizado pelo sociólogo não fosse em uma comunidade africana, mas no ambiente digital atual? Como seria a reação de seus colaboradores, seus fãs nos meios digitais? A mesma reação do ambiente físico.
Destaco aqui o fato do engajamento público do CEO, resultado da pesquisa realizada com 1,7 mil executivos sêniores em 19 países, inclusive o Brasil, que mostra que 81% dos entrevistados são a favor (“The CEO Reputation: Conseguindo Destaque na Era do Engajamento”). Mas engajamento público é muito mais do que manifestação digital. Essa mesma pesquisa aponta, na visão global e de alguns executivos brasileiros, que 35% dos entrevistados consideram que é importante se posicionar sobre as questões atuais de nosso país sobre política e políticas públicas, quando 48% consideram inadequado.
Tudo bem, mas qual o resultado do engajamento digital de um gestor no comportamento de seus colaboradores e mesmo, no segmento em que a empresa atua e o que pode afetar nos negócios da empresa?
Em uma consultoria orientei os líderes da empresa pra que não se manifestassem sobre suas preferências políticas, considerando o momento atual, econômico e político partidário. Por que isso? Porque sua empresa lidava com turismo e estava em uma fase de apresentação da marca ao segmento e isso poderia restringir alguns contratos. Minha orientação é que precisa de muita cautela. O gestor deve ser consciente de que sua opinião irá refletir internamente e em seu ambiente de negócios e… até que ponto vale a pena se manifestar e quanto disso irá respingar em seu mercado de atuação?
Certa vez um gestor ficou muito incomodado e até demonstrou seu desconforto com agressividade na voz quando lhe falei sobre isso… mas tenho certeza absoluta que sua posição nos meios digitais não só inibia o diálogo interno com sua equipe, como causava nela mal-estar quando participa de algumas reuniões em que ele podia falar livremente, por ser o gestor, mas seus funcionários tinham que ficar quietos caso discordassem dele.
Se essa exposição dificultar o dia a dia do trabalho e o resultado dos negócios, por que não encontrar outras formas de se manifestar, como participar de algum grupo que discuta soluções para superar o posicionamento de políticas públicas que não aprova ou apoiar colocando em prática o que aprova? Talvez seu exemplo conte muito mais que suas palavras no meio digital, ditas muitas vezes em um momento de raiva ou de apoio a alguma situação pontual.