"Come si mangia in Italia, non si mangia da nessuna parte" (Como se come na Itália, não se come em nenhuma outra parte do mundo). A frase foi dita por um amigo italiano. Tentei debater mas foi como entrar no ringue tendo à frente Mike Tyson. Não há argumentos convincentes. Seja no norte ou no sul do país. Tudo, rigorosamente tudo é saboroso. E na maioria das vezes extremamente saudável.
Falar sobre esse país que me adotou, há mais de uma década, e seus sabores é o tema desse blog que faz sua estreia em um momento histórico e difícil. Foram 70 dias de quarentena, trancados em casa, os italianos tiveram de se acostumar ao new normal. Hoje, em pleno verão europeu, trago um pouco da dolce vita italiana.
Minha história com o país vem de longe. A primeira vez que desembarquei em Milão, em 1993, foi para fazer um estágio na redação de Internacional do jornal "Corriere della Sera". Posso dizer que virei jornalista com J maiúsculo aqui. Foram 10 meses de intenso aprendizado. Cruzei nos corredores com correspondentes de guerra, personagens icônicos da reportagem local e aperfeiçoei um novo idioma. E quem diria que anos mais tarde me casaria com um jornalista esportivo genovês e teria um filho milanês.
Em julho deste ano, completo 16 anos - entre idas e vindas contabilizo 26. Aprendi muito. Inclusive a cozinhar um pouquinho. Acho que o amor das mulheres italianas pela culinária está no DNA assim como o bom gosto na hora de se vestir. Incorporei alguns hábitos e mantive outros bem brasileiros. Arroz e feijão é o prato do almoço de domingo. O feijão carioquinha foi substituído pelo borlotti, muito usado para fazer o famoso minestrone, a sopa daqui. O arroz agulhinha ainda trago do Brasil assim como a farofa. De resto, muita verdura, peixe, azeite extra-virgem e fruta.
Nasci em São Paulo, mas minha casa agora é Milão que pode ser a capital do design e da moda mas é com certeza da gastronomia. Vinte são os restaurantes com estrelas Michelin na cidade; 1 com três, 3 deles com duas, e 16 com uma. Mas há também cantinas e trattorias com preços acessíveis e um cardápio simples de dar água na boca. Sem falar, nos estrangeiros Ou seja, tudo para agradar gregos e troianos.
Pandemia e dolce vita
E a comida caseira aqui vale às vezes mais que prêmio no Guia Michelin, a bíblia da gastronomia mundial. Muitas receitas passam de mãe para filha. Agora até para filhos. Cozinhar é parte integrante do dia-a-dia. Virou moda nos últimos anos com os programas de televisão e realities shows mas mesmo assim, sentar-se à mesa é quase como ir à missa. Um ritual sagrado. Em tempos de pandemia, por exemplo, nunca se cozinhou tanto. Nunca se comeu tanto em casa e em família. Nos supermercados, não faltou macarrão, mas sim farinha de trigo e fermento para fazer o pão e a mítica pizza. Os italianos redescobriram o prazer de colocar a mão na massa. O que porém não mudou foi o gosto pela "dolce vita".
Socializar diante de um bom cálice de vinho e um prato de frios. Quando o governo decretou o fim da quarentena para bares e restaurantes, no dia 18 de maio, os milaneses foram os primeiros a saírem às ruas. A chegada da primavera e o calor contribuíram para o convívio social. As mesas ganharam as calçadas e a tradição gastronômica de Milão, o badalado aperitivo (happy-hour), se mostrou um ótimo antídoto para a crise econômica e psicológica. A alegria de voltar ao normal, ou new normal, é evidente.
E é exatamente com esse espírito que pretendo apresentar aqui no Blog novidades, lançamentos, curiosidades, dicas sobre gastronomia na Itália. Buon appetito!
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