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Aerosmith em SP + Noite Infeliz, a sua ouvidoria boêmia
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Salve, geral! Escrevo revigorado por ter sido testemunha de mais um grande show de rock: do Aerosmith, que fez a penúltima apresentação latino-americana da turnê Cocked, Locked, Ready to Rock no Palestra Itália, sábado passado, diante de 38 mil pessoas. E mais uma vez lamentei pelo abandono da Pedreira Paulo Leminski, que poderia ter recebido o espetáculo no lugar de Porto Alegre – na quinta, dia 27, a banda norte-americana se apresentou no estacionamento(!) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) para 15 mil (!!) pessoas. É inadmissível perdermos um show desse porte para um estacionamento gaúcho…

Chororô à parte, eu queria dividir com vocês a sensação de ver Steven Tyler e Joe Perry juntos no palco. Por isso, reproduzo abaixo o texto bruto (pré-edição) da crítica que saiu hoje no Caderno G. Antes, uma constatação: embora seja um ícone do hard rock, gênero marcado pelo visual extravagante e pelas performances teatrais, o Aerosmith dispensou a pirotecnia para arrebatar o público de São Paulo. Os elementos cênicos se limitaram a uma gigantesca cortina com a logo da banda, uma pequena passarela, três telões – um deles, de alta definição, mostrou o duelo entre o Joe Perry do Guitar Hero e o guitarrista de carne e osso – e efeitos de iluminação. Parodiando os Stones, foi apenas rock’n’roll, mas eu gostei tanto… leia agora o texto original, na íntegra:

Aerosmith cura as feridas no palco

Confesso que eu estava com medo de que veria a última apresentação do Aerosmith em solo brasileiro, sábado, no Palestra Itália. O tombo de Steven Tyler (que resultou num ombro fraturado e 20 pontos na cabeça em agosto do ano passado), o sumiço dele em novembro – para se tratar numa clínica de recuperação – e a consequente busca por um novo cantor (o guitarrista Joe Perry chegou a anunciar um concurso para substituir Tyler) deixaram cicatrizes profundas na banda norte-americana, o que poderia comprometer o seu futuro depois de 40 anos de estrada.

MRossi/Divulgação
Joe Perry e Steven Tyler abraçados, no palco do Palestra Itália: bom sinal.

Não parece ser o caso. Quem não soubesse de nada disso e tomasse por base o show em São Paulo, diria que a banda continua em plena forma e que o relacionamento entre seus integrantes permanece cordial e saudável. E olha que, em se tratando do Aerosmith – o grupo que ressurgiu das próprias cinzas nos anos 90, depois de quase sucumbir às drogas na década anterior – até pode ser que tudo esteja bem mesmo. Do momento em que Steven Tyler gritou “Sao Paulo, are you reaaaady?”, às 21h35, até a despedida, por volta das 23h40, o que se viu foi um grande espetáculo de rock, cheio de hits, executado por uma banda competente e bem disposta. O único reflexo do acidente de agosto foi um Steven Tyler um pouco mais comedido em suas estripulias em cima do palco. Aos 62 anos, dessa vez ele não arriscou saltos mortais ou outras piruetas mais ousadas. Em compensação, sua voz continua a mesma: poderosa, rasgada e estridente. Perfeita para o Aerosmith, enfim.

No início do show, duas mudanças em relação à performance de Porto Alegre, no dia 27: “Eat the Rich” (com o refrão cantado em uníssono pelas 38 mil pessoas presentes) e “Back in the Saddle” – na qual Tyler já mostrava que continua berrando como um garoto. Com a máquina aquecida e as engrenagens funcionando, engataram uma segunda e dispararam mais três petardos: “Love in a Elevator”, “Falling in Love (It’s Hard on the Knees)” e “Pink”. Então veio o primeiro momento de arrepiar: os inconfundíveis acordes de “Dream On”, o primeiro sucesso do álbum de estreia, Aerosmith, de 1973. É aquela música em que toda a plateia fica esperando para ver se o cara (no caso, Tyler) vai conseguir reproduzir os absurdos guinchos da parte final – “Dream on, dream on, dream on, ooooooooooooooooh…”. E o velho pai da Liv Tyler foi lá e fez igualzinho, como se tivessem passado 37 dias e não 37 anos.

Depois vieram “Living on the Edge”, a ensolarada “Jaded”, e uma nova surpresa: a ótima “Kings and Queens”, do álbum Draw the Line, de 1978. Retomaram o script com as irmãs “Crazy” e “Crying” (famosas pelos clipes com Alicia Silverstone), e com o solo de bateria de Joey Kramer – que emulou John Bonham, do Led Zeppelin, tocando com as mãos. Em seguida o clima esfriou um pouco, com “Lord of the Thighs”, do disco Get Your Wings, lançado em 1974. Foi a senha para acionar o turbo e incendiar de novo a galera com a grande sacada performática da noite: com a ajuda de uma intérprete, o guitarrista Joe Perry (que está com cara de latin lover, de cavanhaque e uma mecha branca no cabelo) lembrou do videogame Guitar Hero – do qual existe uma versão só com músicas do Aerosmith. E disse que as pessoas sempre perguntam como vencê-lo no duelo de guitarristas do jogo. “Pois vocês vão poder conferir, aqui e agora, quem é o melhor: o Joe Perry do videogame ou o real”, avisou. Então apareceu no telão de alta definição o avatar de Joe Perry no Guitar Hero, esmerilhando sua guitarra virtual, enquanto o guitarrista respondia ao vivo, no palco, até explodir a sua imagem computadorizada. “Bom, agora vocês já sabem quem é o melhor”, disse ele, antes de assumir os vocais no blues “Stop Messing Around”.

Nova catarse se sucedeu com a galera cantando a capella a parte inicial de “What it Takes”, power ballad de Pump, de 1989, que culminou com Steven Tyler exibindo mais uma vez sua impressionante boa forma vocal. E “Sweet Emotion”, a hora de jogar os holofotes sobre o baixista Tom Hamilton, seguro e envolvente na cozinha. Então apareceu no palco um aparelho esquisito, com uma antena espetada. Era um teremim, o exótico instrumento que produz som sem contato físico, popularizado no Brasil nos shows do Pato Fu. Joe Perry se divertiu nele antes de começar o blues “Baby Please Don’t Go”, clássico de Big Joe Williams regravado no álbum de covers Honkin’ on Bobo, lançado em 2004. Por fim, o rockão “Draw the Line” foi tocado com vontade antes de a banda deixar o palco pela primeira vez. Depois de uns poucos minutos, ecoou no estádio o poderoso riff de “Walk this Way” – a tábua de salvação do Aerosmith, quando regravada pelo Run-DMC, em 1986. A exuberante apresentação no Palestra Itália terminou com outra surpresa, “Toys in the Attic”, faixa de abertura do álbum homônimo, de 1975.

Para o meu gosto, só faltou a açucarada “I Don’t Want to Miss a Thing” (do filme Armageddon), que constava do setlist de Porto Alegre, assim como “Mama Kin” (regravada pelo Guns N’ Roses), “Rag Doll” e “Train Kept a Rolling”. Uma pequena frustração, compensada com a forma carinhosa com que Joe Perry apresentou seu companheiro Steven Tyler: “o maior cantor do planeta, o demônio dos gritos”. Parece que o Aerosmith ressuscitou outra vez. Cocked, locked, ready to rock…

SETLIST

1) Eat the Rich

2) Back in the Saddle

3) Love in a Elevator

4) Falling in Love (It’s Hard on the Knees)

5) Pink

6) Dream On

7) Living on the Edge

8) Jaded

9) Kings and Queens

10) Crazy

11) Cryin’

12) Solo de bateria

13) Lord of the Thighs

14) Duelo Guitar Hero + Stop Messing Around

15) What it Takes

16) Sweet Emotion

17) Baby Please Don’t Go

18) Draw the Line

19) Walk this Way

20) Toys in the Attic

***

Noite Infeliz

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