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As apresentações em Curitiba deviam ser no formato “peep show”
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Estimados notívagos, permitam-me um desabafo: enquanto a Pedreira Paulo Leminski continua interditada aos “jovens bárbaros”, as senhoras e senhores “respeitáveis” da cidade têm toda a liberdade para dar suas aulas de maus-modos em teatros como o Guaíra e o Positivo.

Já tinha essa percepção há bastante tempo, mas depois do que vi ontem no show da Diana Krall, cheguei à conclusão de que, em Curitiba, as apresentações musicais mais intimistas deveriam ser feitas naquelas cabines individuais comumente dedicadas a performances eróticas em países como Espanha, Japão e Holanda – os peep shows. Tamanha é a falta de respeito de alguns “espectadores” com o restante do público e com o próprio artista.

Silvio Aurichio
Diana Krall ontem no Teatro Positivo. A propósito: foto feita por um profissional credenciado, sem o uso de flash.

Sozinhas numa cabine de peep show, essas criaturas poderiam fazer seus comentários em voz alta, dar seus gritinhos, filmar, tirar fotos, mandar torpedos (já que ignoram solenemente os reiterados avisos para desligar o celular e sobre a proibição de filmar e fotografar), tossir, fungar, espirrar, pigarrear, levantar, ir ao banheiro ou ao raio que os parta sem incomodar mais ninguém – exceto talvez o coitado do artista do outro lado da cabine…

Ontem fiquei com a nítida impressão (esta também antiga e sempre reforçada) de que aqui as pessoas não vão a determinados espetáculos porque gostam do artista ou se interessam por sua música. Vão para badalar, exibir seus modelitos e fazerem de conta que são cool e sofisticadas.

Afinal, o que leva alguém a desembolsar entre R$ 73 e R$ 403 (!), para ir a um show de jazz e bossa nova e não ouvir praticamente nada, porque prefere ficar tagarelando em voz alta – como o insuportável casal que se sentou ao meu lado ontem. “Tá vendo? O baterista tá usando uma vassourinha ao invés da baqueta… ele fica esfregando na caixa… aquilo é um violoncelo? O contrabaixista é isso… o guitarrista aquilo… ela tá conservada, hein?”. Além de uma cabine individual, essas pessoas teriam que ter um microfone, para ir “narrando” cada momento do espetáculo.

Sem falar nas pessoas que se levantam e ficam perambulando pelo teatro no meio do show. Ontem deve ter havido um surto de incontinência urinária na platéia do Positivo, a julgar pela quantidade de gente que se levantou, saiu e voltou durante todo o espetáculo. E tem também os apressadinhos, cuja única preocupação é sair correndo do teatro para pegar o seu carro antes dos outros. Que artista vai se animar a conceder um bis, quando viu uma galera sair correndo antes do fim do show?

Por sorte Diana Krall é uma lady, além de linda e extremamente talentosa. A parte musical foi impecável, com a canadense e sua banda afiadíssima (um guitarrista/violonista, o tal baterista da vassourinha e um contrabaixista) executando clássicos de Burt Bacharach, Nat King Cole, Frank Sinatra e outros, além de um set com versões de canções emblemáticas da bossa nova, como “Corcovado” (“Quiet Nights of Quiet Stars”), de Tom Jobim. Aliás, Diana até se arriscou no português com outra música de Tom, “Esse seu Olhar” – que ficou fofíssima no seu sotaque canadense. Mas não cantou “The Boy from Ipanema”, como estava previsto, limitando-se a dedilhar ao piano a introdução do clássico de Tom e Vinicius.

Simpaticíssima, brincou com a platéia, e chegou a comentar momentos prosaicos de sua intimidade: “Desde a última vez em que eu estive no Brasil, há 3 anos, eu tive dois meninos… ao mesmo tempo! Gostaria muito de tê-los trazido junto, mas por sorte tenho um marido maravilhoso, Elvis Costello, que ficou cuidando deles”. Em resumo, Diana Krall não merecia a falta de sensibilidade de alguns curitibanos.

E vocês? O que mais os irritam nas apresentações em teatros?

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