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Rodrigo, Marina e Pedro: boiada.

Seres da noite, prometo me esforçar ao máximo para não me deixar contaminar pelo ranço provinciano tão caro a nós, curitibanos. E também pretendo não contribuir para a síndrome do caranguejo, aquela fábula que diz que em Curitiba os caranguejos podem ser cozidos vivos em panelas destampadas, pois cada vez que um tenta escapar, os outros o puxam de volta.

Mas fala sério! Mesmo com boa vontade, é difícil engolir que a banda curitibana de maior sucesso planetário em todos os tempos seja o Bonde do Rolê – uma brincadeira dos ex-indies Rodrigo Gorky, Pedro D’Eyrot e Marina Ribatski, misturando funk carioca (!) com samplers de hard rock e música eletrônica, tudo isso com letras de fazer corar os tigrões e tchutchucas dos proibidões do Rio.

Ah, você acha que eu estou exagerando na importância dada aos “funkeiros” curitibanos no cenário pop extramuros? Então entre no profile do Bonde do Rolê no MySpace, e dê uma olhada na agenda do trio. Eles estão escalados para os mais importantes festivais de Verão no Hemisfério Norte, de Dublin a Tóquio (sábado, por exemplo, se apresentam no espaço Lounge do Glastonbury Festival).

Além disso, já colheram elogios em publicações acima de qualquer suspeita, como a revista Rolling Stone e o jornal The New York Times, e são o ÚNICO verbete de Curitiba, Brazil no allmusic.com, o maior portal de música do mundo.

Que banda ou músico da terra das araucárias conseguiu façanha igual? Os músicos paranaenses mais bem-sucedidos comercialmente (Chitãozinho & Xororó?) ganharam muito mais dinheiro, é verdade, mas nunca chegaram nem perto de ter essa visibilidade.

Tudo culpa (ou mérito) da internet. O trio gravou a primeira música, “Dança da Ventoinha”, em meados de 2005, “só para zoar”. Depois dessa vieram outras, como “Melô do Roborock”, compostas a toque de caixa para que eles pudessem tocar numa festa em um iate em Floripa (SC).

Detalhe: a “musa inspiradora” do trio foi o Lanches Rolê, perto do Positivo da Vicente Machado, uma lanchonete tosquíssima, famosa pelas sfihas gigantes, que só toca hard rock – onde surgiu o nome do grupo e a idéia de samplear os riffs de AC/DC, Alice in Chains e outros e adicioná-los ao pancadão carioca.

Mas o golpe de mestre foi incluir toda a “produção” no MySpace. A zoação dos funkeiros desbotados de Curitiba chegou aos ouvidos do DJ e produtor norte-americano Diplo, que os levou a sério, e mais que isso, pirou o cabeção com o som dos piás. O resto é história. Hoje eles são contratados do selo inglês Domino, o mesmo do Fraz Ferdinand, e fazem turnê mundial – enquanto a “cena local” padece de uma dor-de-cotovelo incurável.

O lado triste dessa história é que as músicas, tirando o casamento harmonioso entre os riffs roqueiros e a batida funk, são em geral MUITO ruins. Tá, os clipes de “Solta o Frango” e “Office-boy” são engraçadinhos, fora isso pouca coisa se salva. As letras são grotescas (dê uma olhada em James Bond, que eles entoaram a plenos pulmões esses dias na terra da Rainha), e a impressão que a gente tem é que Marinha Ribatski daria tudo para ser a Luisa Lovefoxxx (do Cansei de ser Sexy, outro fenômeno da internet).

Mas se eu fosse um dos três também estaria rindo à toa: não importa que daqui a dois anos ninguém mais lembre da minha música… se uma palhaçada que eu fiz com os amigos caiu na internet e me transformou num popstar, com direito a turnê mundial, cachê em euro e matéria no New York Times, vou vestir a fantasia e me jogar! De lambuja, Curitiba e o Lanches Rolê agora constam no mapa da música pop.

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