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Estimados notívagos, hoje estou um pouco nostálgico. De repente lembrei das baladas das antigas, das casas nas quais me esbaldei em boas noites do passado e que já não existem mais, e decidi dividir com vocês essas reminiscências boêmias.

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Por exemplo, em meados dos anos 90, foi no saudoso Dolores Nervosa – que funcionava ali na Vicente Machado, em cima de um bareco tosco – que eu dei o primeiro beijo na primeira garota por quem eu fui realmente apaixonado (e que eu namoraria por três meses depois). Foi também o primeiro bar da Ieda Godoy, atual proprietária do Wonka, e depois mudou de nome para Dromedário.

Antes disso, no começo da década, lembro de ter gostado do Bronx (na esquina da Rua Almirante Barroso com a Avenida Jaime Reis, se não me falha a memória). Ali na região do Largo também existiam o Ópera Prima e o Amnésia, mas essas eram casas de “playboys” e eu, que era duro, cabeludo (insira sua piada aqui) e roqueiro, não chegava nem perto. Preferia ficar tomando cerveja nos eternos Tuba’s e Firefox – que resistem até hoje –, ou vinho barato no Cavalo Babão. Também gostava muito do Aeroanta (quantos shows inesquecíveis!), do Porko Jones e depois do Syndicate (ambos na Cândido de Abreu, em frente ao Mueller) e da dupla Joe/Viking, dois botecos, um em cima do outro, cujo movimento era tamanho que fechava a rua Comendador Araújo. Sem falar nas tardes etílicas na praça de alimentação e na sinuca do Omar, o shopping da galera do rock.

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Mas foi no Hangar Bar (quando ele se mudou do Jardim Social para o número 1.111 da Muricy) e no El Potato Medieval (lá na Avenida Paraná, no mesmo terreno do Studio 1250) que eu vivi os melhores momentos da minha juventude. Era vocalista da banda Led Zeppelin Cover – que ajudei a criar em 1995, com o nome de Kashmir –, e nos dois anos seguintes me apresentei muitas vezes no palco das duas principais casas de rock da cidade.

Tive o orgulho e o privilégio de tocar ao lado de grandes músicos da cidade, como o pessoal da Gypsy Dream (o vocalista Rodrigo, o guitarrista base Marcelo e o baixista Marcão formaram o The Elder, enquanto o guitarrista solo Édson está há mais de dez anos na Nega Fulô), Via Appia (da qual o vocalista, Paulo, e o baterista, Sílvio, também integram a Nega Fulô), Gethsêmane (atual Sid Vinicius) e todos os outros “covers”, que eram uma febre na época: Ramones (tinha uns três), The Doors (dois, com a Mister Mojo), Bookmakers, o primeiro do Led Zeppelin, Deep Purple (do meu velho amigo e impressionante vocalista Wigando), Black Sabbath (outros dois, pelo menos), Metallica, Pantera, Sepultura, Danzig (!), Pearl Jam, Nirvana e o melhor de todos na minha opinião, o AC/DC do Marcelus, que se transformou no Motorocker de hoje.

No circuito Hangar-Potato conheci grandes figuras, como outro excelente vocalista, o Rod e sua indefectível bandana (por onde ele anda?), o Fábio Negão (poseur convicto, de usar pulseiras, camisas e calças skinny), o Julian Barg (músico genial, que também era poseur naquele tempo, à frente da banda Ícarus), o Napoleão da Mister Mojo, o Miguel (baterista da Lakeside, que depois tocou comigo) e a galera toda do bar – o técnico de som Papa (outro que está na Nega Fulô), o Roy do Capeta, o Beto (que ajudava o Roy e cantava Iron Maiden), Dario, Negão, Roadie, Careca e muitos outros. Também vivi intensas aventuras amorosas com as meninas da tribo “metaleira”, e me diverti muito brincando de “rockstar”: fui o primeiro músico do Hangar a cantar de cima dos PAs, por exemplo, numa performance que levava a galera ao delírio (não sei se pela ousadia ou pela torcida para que eu enroscasse os cabelos no ventilador, que girava a centímetros da minha cabeça).

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Só sei que era uma farra, principalmente no Hangar – tanto que a balada invariavelmente só acabava de manhã, com o dia claro, e mesmo assim porque os seguranças enxotavam a galera para a rua. Também não havia nenhuma separação entre “músicos” e “público” – o pessoal das bandas assistia aos shows uns dos outros, ficava no meio da galera antes e depois das apresentações, e volta e meia subia alguém da plateia para tocar ou cantar algum clássico do rock com quem estava se apresentando. Chegava a ser engraçado: num instante eu estava bancando o Robert Plant no palco, dali a pouco já estava chacoalhando a cabeleira no meio do público no show de outra banda – ou enfurnado num canto com alguma menina –, no fim da noite era gentilmente expulso da casa, às vezes ficava cantando mais um pouco com a molecada no meio-fio da Muricy, e depois ia cambaleando até a Praça Ruy Barbosa, pegar o busão que me levaria para casa. Cozido, exausto, duro (levava altos calotes no Hangar), mas quase sempre feliz da vida…

E vocês, quais são os bares e casas noturnas que marcaram as suas vidas? O que eles tinham de tão especial?