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Down no high society
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Lamento, mas vou ser obrigado a botar mais lenha na fogueira da luta de classes – pelo menos no que diz respeito ao quesito vida noturna.

Antes que me acusem de demagogo, bolchevique ou chavista: sou um legítimo representante da classe média, mas por força da profissão já estive tanto em favelas como em palácios, e conheci mendigos e aristocratas.

Mas confesso ter ficado surpreso com a forma como alguns ricos se divertem. Explico: no último sábado, cometi a ousadia de me apresentar com a minha banda, a DeLorean, numa festa no Graciosa Country Club, a Love is in the air.

A propósito, somos uma banda performática de new wave e rock dos anos 80, com um repertório ultra-dançante, e por onde passamos é difícil ver alguém parado – pelo menos entre as pessoas acima dos 25 anos.

No Graciosa, embora a faixa etária fosse bastante heterogênea, não conseguimos estabelecer contato com o público. A maior parte parecia estar gostando, mas o máximo que se permitiam era balançar o corpo levemente para um lado e para o outro.

Aplausos então, nem pensar. Com muito esforço, consegui arrancar umas palminhas constrangidas depois de me estrebuchar dançando enquanto a vocalista Francine cantava “What a Feeling”, da trilha do Flashdance. Ela tampouco teve maior reconhecimento, apesar do vozeirão e de ter cantado Cindy Lauper e até Janis Joplin impecavelmente.

Silvana Camboim
Esse aí sou eu, aos pés da aristocracia.

Ah, vocês dirão, eles podem simplesmente não ter gostado do show. É verdade, mas não era isso que transparecia nas expressões e na gingadinha tímida que arriscavam – sem falar nos diversos cumprimentos que recebemos depois do show.

A impressão que dá é que nesse tipo de ambiente há uma certa institucionalização da frieza e do distanciamento – mais ou menos na linha “soltar a franga é coisa de quem não tem berço”.

Um constraste absurdo com a reação do público no show da Ivete Sangalo – não, não estou comparando a minha banda de garagem com a rainha do axé -, um mar de gente empolgada, que pulava, dançava e cantava conforme a orientação da cantora.


Ivete Sangalo: 20 mil pessoas na mão.

O fenônemo é ainda mais curioso se levarmos em conta que algumas das pessoas que não derramaram uma gota de suor no Graciosa, no dia seguinte, protegidas entre os anônimos dos camarotes, executaram à risca todos os passos das coreografias da baiana. Vou tentar colocar a DeLorean num trio elétrico na próxima Caiobanda, para ver se angario mais simpatia…

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