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Essa gripe vai acabar com o nosso calor humano
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Ilustres e antissépticos notívagos, eu até ia falar de outra coisa, mas depois de ontem, quando eu vi um punk de máscara cirúrgica na rua, me senti obrigado a retomar o assunto dessa misteriosa gripe suína. Também fiquei com a pulga atrás da orelha depois que instalaram recipientes com álcool em gel aqui na Gazeta, mas o que me intrigou mesmo foram as recomendações da equipe de saúde aqui da firma: evitem beijos, abraços e apertos de mão. Ou seja, vamos todos nos inspirar na Glória Perez e adotar a saudação indiana, “namastê” – a pelo menos dois metros de distância do nosso interlocutor.

Como assim? Agora não podemos mais encostar uns nos outros? Estamos irremediavelmente condenados a virar freaks obsessivos, desinfetando compulsivamente nossas mãos e tudo o que tocamos? Parece que estou vendo Melvin Udall, o escritor vivido com maestria por Jack Nicholson em Melhor é Impossível, que jogava fora os sabonetes depois de usá-los uma única vez e só comia com talheres descartáveis, esfregando as mãos esterilizadas com um sorriso malicioso: “quem é o maluco agora?”

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Jack Nicholson em Melhor é Impossível: “eu já sabia!”

E o que será dos curitibanos? Já temos fama de frios e reservados, mas, como bons brasileiros, sempre beijamos, abraçamos e cumprimentamos – pelo menos quem a gente conhece, ou quando somos apresentados a alguém. E agora? Poderemos escolher entre o “namastê”, a reverência oriental ou a discreta inclinação de cabeça – tipo aquela que fazemos quando alguém entra no elevador. Bem lembrado! Como vamos entrar em elevadores, ônibus, bares, shows, casas noturnas, cinemas, teatros, shoppings? Como bem lembrou a Carol no post anterior, ninguém mais vai beijar na boca? E o que será dos avulsos? O que será da raça humana, como vamos perpetuar nossa espécie se não pudermos trocar germes e fluidos? Aos poucos, o vírus da gripe suína vai disseminando um insuspeito efeito colateral: a agorafobia, ou o medo de multidões. Só espero que encontrem logo uma vacina, para que a gente possa voltar a expressar todo o nosso calor humano.

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