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Manual prático para viver (bem) de música em Curitiba

Meus ilustres baladeiros, finalmente estou de volta com uma remessa fresquinha de abobrinhas! Ontem tive uma epifania. Descobri O SEGREDO do sucesso, a chave para uma vida de glória e abundância no meio artístico. E o melhor, sem precisar sair de Curitiba… como sou generoso, vou dividir tudo o que aprendi com vocês. Portanto, se você é músico, mora na terrinha e sonha em comprar carro, casa própria e ter uma vida confortável com sua arte, não precisa se desesperar por não ter passado no “teste do sofá” da Denorex 80. Basta seguir esses oito passos, e em pouco tempo você estará nas listas de convidados para a Ilha de Caras:

1) Comece limpando a sua mente de todo e qualquer preconceito musical. E não dê bola para os músicos-nas-horas-vagas que envernizam esse preconceito como “critério artístico” ou “bom gosto”. Deixe de torcer o nariz para o axé, pagode, funk carioca e – principalmente – sertanejo. Ouça as músicas, eduque seu ouvido com as sacadas pop que arrastam multidões Brasil afora.

2) Agora concentre o foco no “sertanejo universitário”. Decore “Meteoro”, do Luan Santana, “Borboletas”, do Victor & Léo, “Paga Pau”, do Fernando & Sorocaba e todos os outros megahits do gênero. Se é violonista, baixista ou guitarrista, aprenda a tocá-los. Se é vocalista, aprenda a inflexão característica e decida se você fará a primeira ou a segunda voz, ou se será artista solo – como Luan Santana ou Daniel.

3) Arrisque-se a compor. Escreva letras falando de amores perdidos ou das delícias da solteirice, de baladas, bebedeiras e pegação. Turbine-as com melodias acessíveis e refrões incendiários e pegajosos.

4) Ensaie bastante, treine a performance no palco. Prepare um repertório para umas três horas de show, misturando todos os hits (mas apenas os animados, nada de chororô, que só funcionam nos CDs e MP3 da vida) com uma ou outra música sua.

5) Adote o visual “galãzinho cheiroso”. Se fazia o estilo neohippie, metaleiro tardio, rastafári ou punk de butique, trate de aparar as madeixas, deixando-as cuidadosamente despenteadas. Tatuagens estão liberadas, desde que não estampem inscrições como “AC/DC” ou a caveira do Motörhead. Importante: o estereótipo do cowboy (bota + chapéu + camisa xadrez + cinto com fivelão) já era. Use bons jeans desgastados, tênis caros e camisas ou camisetas de marcas conhecidas. Do universo country, o máximo permitido é um chapéu mais estiloso.

6) Grave um CD promocional, tomando o cuidado de chamar bons músicos e dedicando especial atenção à qualidade do registro.

7) Procure as maiores casas dedicadas ao sertanejo na cidade, marque uma reunião com o(s) responsável(is) pela programação e apresente o seu material.

8) Torça para cair nas graças dessa pessoa e/ou dos proprietários do estabelecimento. Se for chamado, agarre a oportunidade com unhas e dentes, e apresente-se como se estivesse na Festa do Peão de Barretos. Se a galera gostar, cantar e dançar junto e consumir bastante, você está feito.

Altos Agitos
João Bosco & Vinicius: do palco da Woods para o estrelato.

O cachê de uma dupla sertaneja iniciante – mas promissora – gira em torno de R$ 3 mil. Uma mediana, com público cativo, cobra por volta de R$ 20 mil por show. E uma consagrada, como Hugo Pena & Gabriel, embolsa R$ 150 mil. Mas se você for realmente bom, vai acabar tendo o seu “passe” comprado por um empresário ou produtor, que negociará apresentações a longo prazo (com até um ano de antecedência), pagando o valor integral à vista. Lógico que ele vai ganhar ainda mais dinheiro com a valorização do seu passe, mas você vai ficar rico num piscar de olhos. Igualzinho a uma promessa do futebol. Agora pare de choramingar pela falta de público e de reconhecimento na “cena curitibana” e se coce. O estrelato te espera…

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