Meus boêmios de estimação, pela primeira vez na vida posso dizer que me diverti (e muito) num show de música eletrônica. E o responsável foi um nova-iorquino franzino, míope, careca, baixinho, vegetariano e com a maior cara de nerd – que, no melhor estilo Clark Kent/Superman, se transforma num entertainer poderoso em cima do palco. Moby, o cara que criou o álbum de música eletrônica de maior sucesso na história (Play, de 1999, que vendeu 10 milhões de cópias), deu uma aula de rock’n’roll(!) quarta-feira no Curitiba Master Hall.
Acho que foi por isso que eu gostei tanto: a música era eletrônica, mas no lugar de um DJ mexendo em botõezinhos e agitando os braços de vez em quando o que vimos foi uma banda de rock das boas – com um excelente baterista e quatro mulheres também ótimas: uma violinista, uma baixista, uma tecladista/vocalista e uma cantora –, regida com maestria por Moby. Claro que havia samplers, batidas eletrônicas e bases pré-gravadas, mas Moby e a banda tocaram e cantaram “de verdade”. Suaram a camisa para interpretar as músicas, em vez de “apenas” mixar e controlar as batidas por minuto (BPMs).
Mais que um bom DJ e produtor, Moby é um grande músico. Canta razoavelmente bem, toca guitarra, teclado e percussão e tem carisma de sobra. “Bodyrock” foi uma pancada… outra do Play, a melancólica “Why Does my Heart Feel so Bad” foi de arrepiar, assim como “Porcelain”, do mesmo álbum. “Disco Lies”, de Last Night, e “Lift me Up” foram catárticas. Até nos covers ele acertou na mosca: “Walk on the Wild Side”, de Lou Reed, e “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin, levaram a galera ao delírio.
Enfim, foi uma apresentação orgânica, intensa, com gente de carne e osso usando a tecnologia para fazer música real, palpável, com começo, meio e fim. Esse tipo de música eletrônica eu compreendo e gosto.
Skol Sensation 2010
Talvez seja ignorância minha, mas não tive o mesmo tipo de conexão com os grandes DJs que se apresentaram no último sábado no Skol Sensation – que levou mais de 40 mil pessoas ao Anhembi, em São Paulo.
A festa em si foi ótima. Uma megaestrutura, organização impecável, muita gente bonita, cenário, som, luz e efeitos de tirar o fôlego, pirotecnia, performances aquáticas e um line-up com grandes nomes da cena eletrônica mundial – o nosso Life is a Loop, o holandês Chuckie, o norte-americano Felix da Housecat e o alemão Tocadisco. Tudo isso sem falar no impacto visual daquele mar de gente vestida de branco.
Mas sabem o que me pareceu? Que a alegria da galera era meio fake… Quem não estava “muito louco” só se empolgava mesmo quando um dos DJs soltava um pedacinho de uma música muito conhecida – foi assim por exemplo com a introdução de “Welcome to the Jungle”, do Guns N’ Roses, trunfo do Life is a Loop, ou “Rhythm is a Dancer”, do Snap, ressucitada – se não me falha a memória – por Felix. Ou teria sido o Tocadisco? Seja como for, fiquei com a impressão de que a maioria esmagadora daquelas 40 mil pessoas estava lá muito mais pela badalação do que pela música. E que se ao invés desses top DJs quem estivesse na cabine fosse um zé ruela qualquer, mas com uma boa playlist de megahits dançantes, o público teria curtido do mesmo jeito – talvez até mais. Pelo menos nenhum deles apelou para “I Gotta Feeling”, do Black Eyed Peas…
O que me faz matutar cá com meus botões: para que gastar um caminhão de dinheiro trazendo o DJ X de Israel, Y da França ou Z de Ibiza, se você pode arrumar um(a) amigo(a) estiloso(a), queimar alguns CDs pré-mixados e apresentá-lo(a) como a mais nova sensação da house music na Nova Zelândia? Será que alguém se importaria?
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