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Estimados notívagos, escrevo em edição extraordinária para comentar com vocês o triste fim de dois dos espaços mais tradicionais da noite curitibana: o 92 Graus (Rua Des. Benvindo Valente, 280) e o Espaço Cultural Calamengau (Rua Dr. Roberto Barrozo, 1.190). Segundo escreveu meu amigo Cristiano Castilho no Caderno G de hoje, este será o último fim de semana das duas casas – o 92 abre hoje e amanhã, e o Calamengau só amanhã. Depois disso, duas tribos curitibanas estarão sem seus QGs: os fãs do rock alternativo e os simpatizantes do forró e dos ritmos nordestinos.

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A agonia do 92, depois de 19 anos, foi selada pelo desencanto do músico e produtor JR Ferreira, responsável pelo empreendimento, e pelo aumento do aluguel do espaço – a imobiliária pretende duplicar o valor. JR ainda pretende vender a marca 92 Graus, incluindo o equipamento para shows e o alvará para apresentações ao vivo. Cansaço também foi o motivo alegado por Ceará, proprietário do Calamengau, para encerrar as atividades do principal reduto dos forrozeiros curitibanos. “Já são 25 anos nesta vida e chega um ponto em que é desgastante demais. Principalmente para nós, que não trabalhamos com modismos, e sim procuramos oferecer o que acreditamos ser boa música”, explicou.

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Eu lamento pelos dois casos. Hoje o underground curitibano até dispõe de outros palcos, como os do Sláinte, James, Wonka e ocasionalmente Jokers. Mas o 92 Graus – desde os tempos da Visconde do Rio Branco – é A trincheira da música alternativa na cidade. Talvez o mais democrático (dentro do estilo, claro) espaço de Curitiba, pois naquele palco minúsculo já se apresentaram tanto bandas obscuras quanto grandes estrelas subterrâneas – com o perdão do paradoxo –, nacionais e internacionais. Além disso, foi o berço (ou pelo menos um trampolim importante) de diversas bandas relevantes da cena local, como Pelebrói Não Sei, Limbonautas, Catalépticos, Ovos Presley, Cadela Maldita, Garotos Chineses e tantas outras.

A extinção do Calamengau é igualmente doída. Funcionando desde 1998 na Sociedade Vasco da Gama, era a embaixada do forró pé-de-serra na capital paranaense. No início da década, ficou cult, ao consolidar-se como ponto de encontro obrigatório para os jovens universitários de classe média arrebatados pelos ritmos nordestinos. No prosaico casarão da Sociedade Vasco da Gama se apresentaram gigantes da MPB, como Dominguinhos, Tom Zé, Ná Ozetti, Hermeto Pascoal e Elza Soares, entre outros. Eu mesmo já estive em várias baladas bombadíssimas no Calamengau, e também foi lá que assisti a um dos melhores shows da minha vida: a impressionante performance do Cordel do Fogo Encantado (em maio de 2004, se não me falha o Google). E ainda passaram por lá Pedro Luís e a Parede, Geraldo Azevedo, Mestre Ambrósio e muitos outros.

O forró vai sobreviver em Curitiba em lugares como o Alice Bar (Rua Prof. Guido Straube, 6) – que apresenta o Trio Quartinha às quartas e o Xaxá do Xexé aos sábados –, enquanto a boa música brasileira de raiz segue representada em espaços como a Sociedade Treze de Maio (Rua Clotário Portugal, 274) e Aoca Bar (Rua Treze de Maio, 600), entre outros. Mas, pelo menos para mim, o coração da música nordestina em Curitiba vai parar de bater.

AS ÚLTIMAS NOITES

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Para quem pretende testemunhar as últimas horas do 92 e do Calamengau, aí vai a programação:

92 Graus: Hoje, partir das 22 horas, tem Alternative Friday Rock com as bandas Strotz, Lasttape, Garotos Chineses e Pineia. O ingresso custa R$ 5. Amanhã, Saturday Live Rock, com Crushers, Vermstrong, Bando Clandestino e Rabo de Galo. Informações: (41) 3308-2792.

Calamengau: só abre amanhã, a partir das 22 horas, com show da banda paulista Rastapé. Os ingressos custam R$ 15. Informações: (41) 3338-7766.

E vocês, que tal dividirem conosco as peripécias e as melhores noites vividas no 92 Graus ou no Calamengau? O que vocês mais gostavam em cada casa?