Ave, notívagos! Para não perder o costume, vou dar uma de advogado do diabo: que lógica tortuosa faz com que as pessoas queiram usufruir do ambiente, das atrações e dos funcionários das casas noturnas, mas achem absurdo pagar por isso? Por que tanta gente reclama de pagar entrada, chora por desconto ou pede para converter o ingresso em “consumação”?

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Afinal, todos os bares, boates e casas de shows são empreendimentos privados, com custos consideráveis, mas fins lucrativos. Como qualquer empresa, precisam ter faturamento suficiente para cobrir a folha de pagamento, pagar impostos, honrar os compromissos com fornecedores, investir, divulgar e ainda dar lucro.

Só que esse tipo de negócio, se não me engano, só tem três fontes legais de receita: o que se arrecada com a entrada (ou venda de camarotes e aluguel do espaço para festas e eventos), com a venda de comida e bebida e com a comercialização de espaços publicitários.

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Se as casas são pressionadas a cobrar menos (ou nada) pelo ingresso, precisam compensar no valor dos itens no cardápio – e assim quem realmente consome na balada paga o pato dos que não querem pagar entrada e passam a noite toda com uma garrafa d’água, um refri ou uma cerveja (ou pior, ficam na aba dos “camaradas”).

Além disso, para garantir o faturamento e o lucro dos empresários, os vencimentos dos funcionários (assim como o cachê dos músicos e DJs) são achatados. É a lógica do capitalismo, o lado mais fraco da corda esgarça primeiro…

Ah, alguns espernearão, mas tem dono de balada que fatura rios de dinheiro com entradas absurdas e preços extorsivos no bar. Pois eu digo que em geral o valor dos ingressos na noite curitibana é irrisório. Mesmo espaços altamente elitizados, como a Liqüe, cobra R$ 40 de entrada (masculina) em dias normais. Em São Paulo qualquer boteco fuleiro cobra mais de R$ 50 de entrada.

Antes que comece a sessão de apedrejamento público, devo dizer que sou durango e também passei boa parte da minha vida tentando dar um jeito de pagar menos (ou nada) para entrar nos lugares que eu julgava bacanas.

Só fui perceber o quanto isso é desagradável (e mesmo injusto) depois que a banda decolou e eu passei a trabalhar regularmente na balada, o que me deu um contato mais estreito com as entranhas da vida noturna.

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Vocês não acreditam no tanto de gente que azucrina pra gente “liberar” a entrada – como se a ilustre presença deles devesse ser remunerada, e não a casa, os funcionários ou o artista, que lhes proporcionaram uma noite agradável.

EVIDENTE que os parentes, parceiros ou amigos mais próximos a gente procura eximir do ingresso, assim como muitas casas noturnas fazem com os habitués ou suas listas de relacionamentos. Mas o que mais irrita são as pessoas que têm dinheiro e ainda assim usam de todo tipo de subterfúgio para entrar sem pagar.

É a abominável Lei de Gérson aplicada na noite: o que importa é levar vantagem. Soube que em lugares mais civilizados, como alguns países da Europa, a passagem de ônibus é cobrada no meio do trajeto – de uma forma que, se você se fingir de morto, anda de graça. Mas ninguém faz isso, simplesmente porque sabe que está usufruindo de um serviço que, para funcionar, precisa ser remunerado. Mas isso no Brasil chega a ser utopia delirante…

A propósito: é CLARO que quando eu estou a serviço da coluna, normalmente sou isento de entrada nas casas noturnas. Mas é uma iniciativa dos proprietários, que têm interesse na visibilidade que a Gazeta do Povo proporciona. Que comece o debate!