Seres da noite, perdoem o silêncio prolongado – fruto de novas atribuições aqui na Gazeta. Hoje vou conclamá-los para uma campanha cívica, que imagino ser a única saída para evitar a ruína completa e absoluta do litoral paranaense: a recondução da cidade de Paranaguá à categoria de capital do estado (posto que ocupou até 1853, quando a quinta comarca de São Paulo se transformou na Província do Paraná).
Foi o começo do fim para o nosso exíguo litoral. Aliás, com exceção de São Paulo, que já tinha uma povoação consistente na sua faixa litorânea, o fenômeno se repete nos dois outros estados além do Paraná – entre os 17 com saída para o mar – cujas capitais não são banhadas pelo Oceano Atlântico: Rio Grande do Sul (onde dizem que as praias não são lá essas coisas) e Piauí – que tem a sorte de estar no Nordeste, mas consegue ter menor extensão de praias do que a gente, e sem muita infra-estrutura, se comparada aos outros estados nordestinos.
Mas no Paraná a situação é deprimente. Primeiro, fomos prejudicados pela própria natureza – que conseguiu a proeza de concentrar as praias mais sem graça do país em apenas 98 km de extensão (antes que me apedrejem: OK, retiro a Ilha do Mel e Superagüi do adjetivo “sem graça”). Ou como disse o comediante Marco Zenni numa apresentação: “Quando Deus estava criando a costa brasileira, fez o litoral do Rio Grande do Sul, o de Santa Catarina, aí descansou, fez o de São Paulo, do Rio…”
Mesmo assim, as praias do Paraná já tiveram seus dias de glória: Caiobá, no tempo da Garota Caiobá, promoção do colunista Dino Almeida, era a nossa “princesinha do mar”. Muita gente bonita e bem-sucedida desfilava pelo calçadão, os imóveis eram disputadíssimos, a vida cultural agitada, e os investimentos abundantes. Guaratuba vinha logo atrás, mas em menor escala.
A partir dos anos 90, porém, a coisa degringolou. A erosão marítima corroeu a orla de Matinhos, hoje um cenário inóspito, uma sucessão de crateras e entulho. Legiões de farofeiros (ou “tigres”, como tenho ouvido por aí) tomaram conta dos balneários, sujando as praias e infernizando os veranistas com seus porta-malas ensurdecedores e sua algazarra movida a cerveja. Os políticos também pouco fizeram, os locais mais preocupados com as disputas paroquiais, e o governo do estado quase sempre surdo e míope para uma região com tão poucos eleitores. Tudo bem, a criação do câmpus litoral da UFPR já é alguma coisa, mas o caminho ainda é longo.
Tudo isso, aliado à sazonalidade extrema da região (que praticamente “morre” fora da temporada) e à facilidade para se chegar a Santa Catarina – desde que a BR-376 foi duplicada – , afugentaram os veranistas mais refinados, que levaram consigo os investidores e comerciantes. É incrível a quantidade de apartamentos de luxo e boas casas à venda em Caiobá, os imóveis se desvalorizaram e os hotéis estão às moscas. Na sexta-feira, 7 de setembro, fui dar uma volta no calçadão e a desolação era total. Até a D’Vicz entre a Praia Brava e a Praia Mansa estava fechada…
Por isso defendo que a capital seja transferida para o litoral. Pense na infra-estrutura e na vida que teríamos lá se Paranaguá tivesse sido mantida como a capital da província do Paraná… o Morro do Boi seria o nosso Pão de Açúcar, Praia de Leste seria o nosso Aterro do Flamengo, Guaratuba a Barra da Tijuca das Araucárias, a Baía de Antonina a nossa Guanabara, Superagüi a Paquetá… É, talvez tivéssemos favelas ao invés de Mata Atlântica na Serra do Mar, mas isso é o ônus do progresso.
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