Ia escrever sobre outra coisa, mas os acalorados debates nos últimos dois posts sobre a personalidade curitibana (gente, o que foi essa história de “alto nível da cultura sulista”???) me fizeram mudar de rota. Sei que o assunto é batido e a discussão interminável, mas mesmo assim gostaria que vocês me ajudassem a entender o que se passa nos corações e mentes do curitibano típico.
Em tempo: vim ao mundo na capital do Paraná, e vivi aqui 32 dos meus quase 33 anos de vida – o que, creio, me credencia para destrinchar as particularidades dos meus conterrâneos. Também já fui adolescente, e babava ovo em tudo que era daqui. Amava o Jaime Lerner, e engoli com farinha aquela história do “alto grau da exigência” dos curitibanos.
Já na faculdade, segui caminho oposto. Talvez por ter conhecido outros lugares do país e suas gentes, passei a me envergonhar do nosso jeitão bicho-do-mato, de reparar em todos e não conversar com ninguém. Gostava de dizer que era um curitibano de alma nordestina, para tentar me diferenciar dos curitibocas. E também porque eu sempre gostei de conversar e conhecer gente nova, e achava que não me importava tanto assim com a opinião alheia – “o que os outros vão pensar”, linha-mestra do pensamento e das atitudes de quem nasce nesta capital.
E por um bom tempo compartilhei da opinião da Yannik, de que esta era uma cidade sem ALMA, onde as pessoas fingem que vivem e se divertem. Não conseguia entender por que o público da cidade nunca aplaude bandas, músicos e espetáculos daqui (mesmo quando a atração é boa), enquanto urra e festeja de pé se tem algum global no palco – por pior que seja a sua apresentação.
Não compreendia por que as pessoas não dançam (os homens se encostam nas paredes com sua bebida e o máximo da performance é bater o pé no ritmo, enquanto as mulheres “arrasam”, balançando levemente o corpo de um lado para o outro, sem derramar uma gota de suor nem estragar a chapinha), e ao mesmo tempo se dedicam a reparar e tirar sarro de quem ousa se divertir “de verdade”. Não me conformava também com a frieza com que era recebido cada vez que tentava iniciar um diálogo com alguém que eu não conhecesse, e assim por diante.
Escrevi textos e artigos detonando a nossa caipirice, e por um bom tempo reneguei totalmente o “way of life” daqui. Mas a idade e essas andanças pela minha terra aplacaram a minha ira, e hoje eu acho que essa introversão, esse constrangimento para interagir com outras pessoas, se deve muito mais a timidez do que arrogância. Não somos frios, somos “na nossa”. E aos poucos consegui identificar algumas vantagens do jeito curitibano de ser – por exemplo, às vezes, tudo o que você quer é ler o seu jornal em paz no ônibus, sem ter que ficar falando sobre o tempo.
Mesmo assim, ao contrário de muitos dos meus conterrâneos, acho que a cidade só melhora com o maior fluxo de migrantes. Os hábitos e costumes de paulistas, cariocas, gaúchos, mineiros, nordestinos, goianos, matogrossenses, paraenses, misturados ao nosso estilo “bicho-do-mato organizadinho”, vão abrir nossa cabeça e nos fazer evoluir. Alguém contesta?
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