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This is it…
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Vai soar hipócrita e oportunista. Mas eu vou escrever assim mesmo: nós matamos Michael Jackson. Nós e o pai dele, Joseph, que o obrigava – junto com os quatro irmãos mais velhos – a ficar ensaiando horas a fio na volta da escola. Que os dirigia com uma cinta na mão. Que repetia o tempo todo que o pequeno Michael era “feio como um macaco” e o espancava, ao ponto de o garoto vomitar só de vê-lo. Nós, com nosso apetite sádico pelo seu show de horrores, Joseph e ele próprio, Michael, que era egocêntrico demais para perceber que precisava de ajuda – da família, dos amigos e ainda psicológica ou psiquiátrica.

Divulgação (MJJ Pictures.com)
Michael Jackson: de rei a mártir do pop

Ele não tinha maturidade para enxergar isso. E nem para perceber o reverso da moeda do método de Joseph Jackson: se por um lado a disciplina espartana e a ambição desenfreada do pai lhe roubaram a infância, por outro aperfeiçoaram e deram visibilidade ao seu enorme talento – o que ajudou a forjar o mito que Michael se tornaria.

Com a hecatombe de Thriller – embora Off the Wall, seu primeiro álbum solo na idade adulta, também tenha feito enorme sucesso –, Michael Jackson arrombou a porta da MTV e pulverizou a fronteira entre a música negra e a música branca nos Estados Unidos. Foi o primeiro artista negro a aparecer na MTV e o primeiro representante da black music a ter suas músicas tocadas nas rádios de rock – ao mesmo tempo em que levava o rock às rádios de black music. E assim – além de um raro senso estético e um talento assombroso para a dança –, Michael pôs a crítica e o público de joelhos.

Se tivesse paz de espírito, tudo o que ele precisava fazer dali em diante era saborear os louros da vitória – além de manter abertos os canais da sua inspiração. Depois de Thriller, Michael estava milionário, famoso no mundo inteiro, liberto dos irmãos e com autonomia artística e moral para mandar o velho Joseph para onde quisesse.

Não era o caso. Michael era todo mágoa, ressentimento, carência e… ego. E a montanha de dinheiro só fez piorar essa receita: tinham lhe roubado a infância? Pois agora ele iria comprá-la de volta, muito mais grandiosa e cintilante. Por isso Neverland e a necessidade de se cercar de crianças. Estava crescendo, sofrera com as espinhas, era narigudo e “feio como um macaco”? Pois agora ia ter o rosto que quisesse, o nariz que bem entendesse, o cabelo e a pele perfeitos. E faria tudo o que estivesse ao seu alcance para “não crescer”, ficar o mais distante possível da sua tenebrosa referência de homem adulto, o velho Joseph.

Foi o que ele tentou: comprar de volta a sua infância, com direito a amiguinhos para brincar no seu parque de diversões – e sem qualquer malícia, na minha opinião. Para mim, Michael Jackson nunca foi pedófilo. Ele sempre se sentiu uma criança, e se cercava delas por identificação, por sentir-se seguro e protegido. Só que o mesmo dinheiro que proporcionou esse mundo de fantasia, despertou a cobiça dos pais dessas crianças – que perceberam na fragilidade emocional do Rei do Pop a oportunidade para esfolá-lo, inventando as denúncias de abuso sexual que acabaram destruindo a sua carreira. E assim, dolorosamente, ele foi confrontado com a sua condição de adulto – e aprendeu que nem nas crianças podia confiar.

Eu não sei de onde eu tinha tanta convicção da inocência dele, talvez por nunca ter detectado em seu olhar, palavras ou ações qualquer vestígio da malícia e da tensão sexual de um pedófilo. Mas hoje, vasculhando a biografia de Michael, dei de cara com uma informação que, embora não possa ser encarada como verdade absoluta por sua procedência, merece ser levada em consideração: “Durante a investigação [da acusação de pedofilia por parte do garoto Gavin Arvizo, em 2005], o perfil de Jackson foi examinado por um profissional da saúde mental chamado Dr. Stan Katz; o médico também passou várias horas com o acusador. A avaliação feita por Katz dizia que Jackson tinha a mente de um garoto e não se encaixava no perfil de um pedófilo”.

Ah, e achei outra informação, que teria entrado no Guinness Book do ano 2000: “Michael Jackson foi o artista que mais ajudou pessoas no mundo, tendo contribuído com mais de 39 organizações”. Pena não ter conseguido ajudar a si mesmo… por tudo isso, eu lamento profundamente a morte de Michael Jackson.

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