Olá, boêmios das araucárias… normalmente as sextas-feiras me deixam num clima super “u-hu”, empolgadaço com o fim da semana. Mas esta cinzenta e úmida, com essa garoa de molhar trouxa, me deixou mais contemplativo e filosófico. Principalmente depois de algumas cenas que presenciei nas duas últimas semanas, nas quais dou uma pincelada daqui a pouco.
Por que você sai à noite? Você realmente se diverte, ou às vezes volta para casa com a impressão de que só perdeu tempo e dinheiro? Esses questionamentos me foram inspirados por duas experiências recentes – ambas em festas badaladas, cheias de gente bonita, em lugares da moda.
Mas antes de descrevê-las devo confessar duas deficiências minhas: primeira – eu não compreendo a música eletrônica. Não é que eu não goste, é tipo um idioma que eu não entendo. Tenho certeza de que ela é capaz de dizer coisas lindas, empolgantes, e admiro sinceramente quem domina essa linguagem.
O fato é que nesse idioma eu sou um semi-analfabeto: tenho apenas uma remota idéia do que seja house (é quando tem vocal?) e suas variantes, talvez eu consiga reconhecer uma batida drum’n’bass, acho que sei o que é lounge ou chill out (é aquela música ambiente, mais calminha, né?), e só. Em outros subgêneros (psy trance, techno, break beat, minimal, maximal) então, eu sou completamente ignorante. Também admito envergonhado que não conheço quase nenhum desses “top DJs” gringos que pipocam por aqui quase toda semana – o dessa é o argentino Hernán Cattáneo, que se apresenta amanhã na Liqüe.
Segunda deficiência: normalmente eu estou sozinho em minhas andanças noturnas. Pior, sozinho e trabalhando. Duas enormes barreiras para “entrar no clima” das baladas que eu percorro, porque eu não estou com a minha galera, não posso tomar todas nem “bater cabelo”, como diz o Aldrin, meu colega de blogosfera.
Feitas essas ressalvas, relato as duas experiências de que falei lá em cima. Na semana passada eu estive na Liqüe (onde sempre fui muito bem recebido), numa quinta-feira badaladíssima, de lançamento do concurso Beleza Mundial, da agência de John Casablancas (que inclusive apareceu por lá). E quem estava tocando era o DJ britânico John Jones, do selo Hed Kandi – que os iniciados dizem ser o máximo.
A casa estava lotada, com pessoas lindíssimas e muito bem arrumadas… mas que não me passaram a sensação de que estavam se divertindo “de verdade”. Estavam circulando, vendo e sendo vistos, mas não pareciam estar numa daquelas noites de lavar a alma. Sem falar que o som (pelo menos na pista, perto da cabine) estava ensurdecedor – e olha que eu tenho banda há 13 anos e sempre gostei de ouvir música alta.
Ontem no Cafe De La Musique essa dúvida a respeito da autenticidade da diversão chegou ao extremo. A casa, que tem entre os sócios o ex-piloto Tarso Marques e o empresário paulista Álvaro Garnero, é a sensação do momento nesse segmento de baladas “premium”. Ou seja, já tem bombado normalmente. Mas ontem estava absurdo. Não sei se foi o desfile da coleção de verão da Rosa Chá, se foi a presença do DJ e modelo norte-americano Kevin Barnett, ou se foi pura e simplesmente a badalação, mas a casa estava “socada”.
A fila de carros numa das pistas da Avenida Batel chegava perto da famosa Pracinha do bairro. Na frente, mais muvuca. Rapazes e garotas belos, endinheirados e bem vestidos se acotovelavam e se espremiam como se estivessem numa estação-tubo, tentando entrar no Inter 2 na hora do rush. Lá dentro, calor da gota e mais empurra-empurra, gente saindo pelo ladrão. E a tal música que eu não compreendo.
Era aniversário do empresário Marco Brotto, que gentilmente me convidou para o seu camarote. Também foi preciso paciência para chegar à área restrita, que tinha dois seguranças gigantescos abrindo lentamente as comportas do pequeno rio de VIPs. Lá em cima, apesar da densidade demográfica, pelo menos dava para se locomover sem ser esmagado. E de lá também era possível observar quase toda a casa – o que me incutiu a dúvida se aquelas pessoas estavam mesmo se divertindo, ou se estavam ali só porque dava status estar ali.
Eu fiquei uma hora e meia, e quando saí – por volta de 1h30, 2 horas – percebi que várias pessoas também tinham chegado à conclusão de que a noite não estava divertida. Os manobristas do Valet Park não venciam a quantidade de carros para trazer. Ou seja, mais fila, confusão, demora para receber os veículos e estresse: caras e meninas ensandecidos, dando piti e gritando com o coitado do funcionário que pedia os carros pelo rádio. Enquanto uma pergunta martelava na minha cabeça: as pessoas pagam para passar por tudo isso?
Não que outras baladas não sejam desgastantes: eu mesmo já fiquei duas horas na fila do Vox, já enfrentei muvuca e calor no Layout, nas primeiras apresentações da Denorex ou em shows que eu queria ver. Mas os momentos que eu passava nesses lugares, com os meus amigos e ouvindo as músicas que eu gosto, compensavam com sobras todo o sacrifício.
Apenas para efeito de comparação: na semana passada eu estive na Wood’s (a trabalho, já que não sou exatamente fã de sertanejo). A casa também estava abarrotada, com uma fila enorme para entrar, e atrai um público semelhante ao das baladas de música eletrônica. Gente bonita, perfumada e produzida, muitos dos quais com grana. Mas lá a galera parecia realmente empolgada. Dançava, cantava junto com as duplas da noite, conversava, paquerava, ria. Não sei se é o ambiente, que é mais informal, ou se é o apelo da música ao vivo, mas a alegria lá dava a impressão de ser genuína.
E vocês, o que me dizem? É possível se divertir de verdade numa balada de música eletrônica?