Gosto de pensar que eu ainda sou jovem – afinal, convivo com muitos deles, compreendo a linguagem, uso (mal e mal) as mesmas ferramentas tecnológicas e, acima de tudo, internamente não me sinto assim tão diferente do que quando eu tinha 22 ou 23 anos. Às vésperas de completar 38, meus cabelos me abandonaram, comecei a ter sobras adiposas inimagináveis dez anos atrás e também tenho menos fôlego para noitadas e menor resistência ao álcool. Mas, de resto, continuo fazendo as mesmas coisas que muitos deles.
Acontece, porém, que ultimamente tenho me flagrado pensando como um tiozão – em especial, aquela eterna ladainha a respeito de como “na minha época” era melhor. E o pior é que eu realmente tenho achado que na minha época era melhor. Estendendo o raciocínio para as gerações anteriores, constato horrorizado que todas pareciam ser melhores do que a atual.
Tomemos a música como exemplo: a minha geração cresceu ouvindo a poesia certeira de Renato Russo e Cazuza, a criatividade dos Paralamas do Sucesso, a energia abrasiva dos Titãs e do Lobão – e também o pop bem feito de Lulu Santos, Marina, Leo Jaime, Blitz, Kid Abelha e RPM. Claro que também havia muita porcaria, como Gretchen, Rosana, Sylvinho, Biafra, Dominó etc. Mas nós tínhamos artistas de massa com muito a dizer. Legião Urbana, Titãs, Barão, Paralamas e os outros todos tocavam sem parar nas rádios FM, vendiam milhões de discos, apareciam nos programas mais populares da tevê e lotavam estádios.
O mesmo aconteceu com a geração anterior. Os anos 70 terminaram com a febre alienada e hedonista da discoteca, mas, por outro lado, garantiram um espaço privilegiado para os hoje medalhões do samba e da MPB – Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Gal Costa, Maria Bethânia, Beth Carvalho, Alcione etc. Todos esses também tocavam no rádio, vendiam milhares de discos e tinham carreiras rentáveis.
E assim sucessivamente: quem foi jovem nos anos 60 desfrutou da Jovem Guarda e dos grandes festivais da canção, e também acreditou que podia mudar o mundo por meio das músicas de protesto, em plena ditadura militar. Os jovens dos anos 50, por sua vez, tiveram os primeiros contatos com o rock e viram nascer a bossa nova.
Do outro lado da linha do tempo, a geração seguinte à minha – que foi adolescente nos anos 90 – também conseguiu ter contato com alguma criatividade na música: Raimundos, Chico Science, Pato Fu, O Rappa, Mamonas Assassinas, Marcelo D2, Cássia Eller, Gabriel O Pensador e Marisa Monte são alguns exemplos.
Creio que a coisa começou a degringolar na virada do milênio. Ajude-me a lembrar o que apareceu de inovador e criativo na música brasileira nos anos 2000… só me vem a cabeça o Los Hermanos. E nesta segunda década do século 21? Rappers versáteis como Criolo e Emicida são alguns dos poucos exemplares de uma espécie quase extinta – a boa música brasileira. Porque o rock nacional patina na superficialidade adolescente dos “coloridos” (Restart, Cine e congêneres), a nova MPB virou coisa de cabeçudos e os jovens… ah, esses só querem “tchu” e “tchá”. Ou não?
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