Houve uma geração de políticos que passou metade da vida prometendo, durante a Ditadura Militar, que a liberdade política seria uma nova era para o Brasil. Alguns presos e outros exilados prometiam um mundo novo, embalados por artistas censurados, queixosos também por não poder mostrar seus melhores trabalhos devido ao cala-boca dado pelos militares.
Veio a abertura, veio a Constituição Cidadã, passaram-se 30 anos e, da mesma forma que não apareceram as obras de arte também não vieram as maravilhosas técnicas de administração, gestão e os grandes estadistas gestados sob a mão de ferro da opressão. Talvez os espíritos tenham sido quebrados, talvez eles nunca tenham existido.
Mas a marca dessas três décadas de abertura política é clara: a vaidade. Nossas lideranças todas têm cabelos brancos, muitos. Alguns fazem a constrangedora tintura acaju, outros fazem reflexo ao contrário e nenhum consegue esconder a idade porque o brasileiro médio lembra-se dos mesmos nomes na vida pública desde que era criança.
Pode não ser de propósito, pode ser ato falho, pode ser coisa da velhice mesmo, já que decoram nomes de aliados há muitas décadas, mas os dois únicos presidentes da República que cumpriram seus mandatos até o final depois da Constituição de 1988 não sabem nem como se escreve o nome daqueles que indicam para prosseguir com a missão. Lula não sabe escrever o nome de Fernando Haddad.
Guardem as piadas, FHC também não sabe como escrever o nome de Geraldo Alckmin.
Não há justificativa. Não são apenas erros de ortografia de dois senhores de idade avançada. São falhas de homens que entendem e sabem fazer o jogo mais refinado do poder, dominam a arte de dizer sem ter de falar uma palavra. Ao não sentir a necessidade de checar com suas imensas e qualificadas assessorias os nomes dos candidatos que apóiam à presidência, tanto Lula quanto FHC dizem sem abrir a boca: não tenho sucessor. Pelo menos não daquele jeito, não àquela altura.
É um apoio, mas um apoio a esse rapaz aí, que não é meu sucessor, a continuidade da minha obra, do meu legado. O apoio a essa pessoa cujo nome eu sequer sei soletrar, que até poderia tirar a dúvida mas não achei necessário o trabalho e publiquei mesmo assim porque nenhum dos dois teria a ousadia de reclamar de um ato meu, do alto deste pedestal. É ali que estão os dois, literalmente. São leões que domaram o que nós, brasileiros, temos chamado de democracia.
Entenderam bem como os eleitores – e até os correligionários – aceitam ser tratados: de cima para baixo. Talvez seja por isso que se sejam os únicos a ter se segurado durante dois mandatos inteiros após a Constituição de 1988.