Poucos grupos políticos foram mais afetados pelas investigações e as operações policiais dos últimos anos do que o MDB do Rio de Janeiro. O antes núcleo superpoderoso e vencedor, com folga, das últimas três eleições para o governo se prepara para ter função de coadjuvanteem 2018 – o que se explica, entre outros fatores, por ter presos três de seus principais líderes históricos: Eduardo Cunha, Sérgio Cabral Filho e Jorge Picciani.
O partido firmou apoio à pré-candidatura de Eduardo Paes ao governo do estado. Paes, que foi uma das figuras mais ilustres da legenda por muitos anos, ingressou recentemente no DEM. Na coligação, o MDB não deve ter protagonismo, limitando-se a compor chapas de candidatos a deputado federal e deputado estadual.
A Assembleia Legislativa fluminense foi um dos principais pontos de domínio dos emedebistas. Atualmente em prisão domiciliar, Jorge Picciani comandou a casa por mais de 10 anos – e estava no posto quando foi atingido em cheio pela operação Cadeia Velha, em novembro do ano passado. Desde então, responde a acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. A operação também levou à prisão de um dos filhos do parlamentar, Felipe, e criou um cenário que motivou outro filho, o também deputado estadual Rafael, não concorrer à reeleição.
Filho de Jorge, deputado federal e presidente do MDB-RJ, Leonardo Picciani diz não temer que as acusações contra o pai prejudiquem sua tentativa de se reeleger para a Câmara. “Eu não acredito que tenha influência na minha candidatura. Eu estou indo para minha quinta eleição. Já fui líder de bancada, ministro… ou seja, a avaliação da minha candidatura é feita sobre a minha atuação, e não sobre a atuação de terceiros”, afirma. Picciani identifica favoritismo de Paes na corrida pelo governo estadual e reiterou apoio ao projeto presidencial de seu correligionário Henrique Meirelles.
Com pai e irmão fora da disputa por uma vaga na Assembleia, Leonardo aposta as fichas no também emedebista Max Lemos para defender o legado do grupo no Legislativo. Lemos, prefeito de Queimados (RJ) por dois mandatos, diz que o MDB vive “um novo momento”. Credita a parceria com Leonardo Picciani pelo apoio que recebeu do deputado na gestão como prefeito e ressalta que “o Jorge tem muita experiência e sempre vai fazer muita falta”, em referência ao patriarca.
O respeito ao líder dos Picciani vem também de um adversário, o deputado estadual Gilberto Palmares (PT). “Independente da opinião que as pessoas tenham sobre ele, era uma figura que exercia uma influência muito grande. Todos, num certo nível, dialogavam com ele. Até o PSOL”, aponta.
Também deputado estadual, Carlos Osório (PSDB) vê que as prisões de Picciani e de outros caciques emedebistas redesenham o cenário político local. “Talvez, por essa circunstância toda, seja a maior modificação pela qual de composição de quadros, de novos equilíbrios da Assembleia do Rio”, ressalta.
Tanto Osório quanto Palmares votaram pela manutenção da prisão de Picciani e dos também emedebistas Paulo Melo e Edson Albertassi na controversa sessão da Assembleia em novembro do ano passado. No entanto, apesar do posicionamento formal contra o cacique, os parlamentares nem sempre estiveram do lado oposto de Picciani: Osório integrava o PMDB até 2016 e o PT de Palmares compôs com o partido de Picciani por anos, inclusive dando a ele suporte na fracassada candidatura ao Senado em 2010.
Apesar de todas as acusações e de ter passado meses em regime fechado, Jorge Picciani ainda é, formalmente, deputado estadual do Rio de Janeiro. Seu nome figura ainda na relação de parlamentares disponível no site da Assembleia e ele continua, todos os meses, recebendo salários.
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