O presidente eleito Jair Bolsonaro falou em diversas ocasiões, durante a campanha e mesmo depois da vitória nas urnas, que uma de suas prioridades para o governo era abrir o que chamou de “caixa preta” do BNDES, um histórico de empréstimos feitos pelo banco de forma pouco transparente.
A Gazeta do Povo destacou nesta quarta-feira (28) que a era “caixa preta” do BNDES nasceu durante a gestão de Dilma Rousseff, quando o governo determinou que operações feitas pelo banco ficassem em sigilo. Nas gestões do PT, de Dilma e de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, o banco passou a ter mais protagonismo na economia e empreendeu duas políticas que foram (e até hoje são) fontes de questionamentos: a dos “campeões nacionais”, com o financiamento para que empresas brasileiras se tornassem líderes mundiais, e aportes para que empreiteiras brasileiras realizassem projetos no exterior. Países como Cuba, Venezuela e Angola foram privilegiados com obras custeadas com empréstimos feitos pelo banco.
A atuação do BNDES nos últimos anos, mesmo depois da era PT, sempre despertou críticas por parte das oposições de ocasião. Tanto que duas CPIs foram instauradas no Congresso para apurar as atividades do banco, uma em 2015 e outra em 2017. Em ambos os casos, as comissões tiveram resultados frustrantes: foram encerradas com relatórios que não pediram nenhum indiciamento.
A de 2015 foi criada na esteira da operação Lava Jato e se focava em casos como os polpudos financiamentos obtidos pela Odebrecht. Pouco depois de ser beneficiada com um desses financiamentos, em 2012, a empreiteira contratou para uma obra na África uma empresa pertencente a Taiguara Rodrigues, sobrinho da ex-mulher do ex-presidente Lula. O negócio despertou suspeitas por uma suposta falta de capacidade de Rodrigues para exercer as funções. O empresário chegou a prestar depoimento, e teve seu indiciamento pedido pela oposição da época, capitaneada pelo PSDB. Ele acabou ileso, assim como Lula e outros investigados, entre eles o governador Fernando Pimentel (PT-MG) e o empresário Eike Batista.
Já a de 2017 se instalou dias após a divulgação das conversas dos empresários Wesley e Joesley Batista, proprietários da JBS, com políticos de alto escalão, como o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). A companhia dos Batista figurava como uma das mais beneficiadas pelo banco e as denúncias de pagamentos de propinas indicariam uma explicação pela “boa vontade” da instituição. Mas, tal qual a investigação de 2015, a CPI mais recente – que se encerrou em março de 2018 – terminou sem indiciamentos, apenas com o envio dos documentos produzidos a órgãos de controle. Na ocasião, o relator, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), disse não ter apontado indiciamentos por não querer afetar os empregos gerados pelas empresas que recebem empréstimos do BNDES.