Tudo que não se reinventa com o passar do tempo, corre o risco de corroer e sangrar até o fim. Isso também acontece na política partidária.
Sim, estou falando do que foram e do que representam hoje PT e PSDB. Atualmente, se esses partidos fossem destinos turísticos, certamente hoje, após o primeiro turno das eleições 2018, os guias diriam: “visitem as ruínas de PT e PSDB antes que acabem”.
Não é exagero. Basta olhar para trás: desde 1994, as disputas nacionais polarizavam-se entre PSDB e PT. Lula, FHC, Dilma, Serra, Aécio, Geraldo e Haddad.
Os partidos da velha política, que historicamente colocavam-se diametralmente distantes em suas posições ideológicas, nunca se mostraram tão iguais como agora.
Há uma dificuldade gigantesca em ambos assumirem, perceberem e ultrapassar os erros que cometeram. E o pretexto de terem trunfos importantes cada, como o Plano Real, a estabilidade econômica, lei dos medicamentos genéricos, Bolsa Família, programas sociais, PAC, não apagam os deslizes.
Atualmente, partidos que têm lideranças presas ou severamente enroladas em acusações firmes de crimes e que se descolaram totalmente da sociedade que prometeram guardar e defender quando da assinatura de suas atas de fundação.
Pelo PT, a incerteza de quem lançar e fazer o partido seguir em frente ao seu líder maior, o ex-presidente Lula, estar impossibilitado de disputar a eleição, afinal foi condenado em segunda instância pela Lava Jato e está preso desde abril na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná.
As dificuldades surgiram ainda no primeiro mandato de Lula com o escândalo do Mensalão e a mancha sobre José Dirceu, nome forte do partido que vinha sendo formado para ser o sucessor de Lula.
Depois disso, casos estranhos como a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e do prefeito de Campinas, Toninho do PT. Crimes sem respostas claras, mas que têm viés político.
Os escândalos de corrupção aumentaram e lideranças terminaram presas ou fora do partido, por não concordarem com a linha seguida. Faltou ao PT a humildade de reconhecer excessos.
Para o segundo turno, tentando fazer Haddad crescer, um figurão petista, Jaques Wagner, foi chamado para apaziguar ânimos internos.
O mesmo, sem dúvida, ocorreu com o PSDB. A hegemonia em São Paulo jamais fez ecoar no Brasil pós-FHC. A oposição como deveria ser feita, ficava abaixo do esperado e os discursos eram vazios.
Casos de corrupção no ninho tucano seguem em investigação em vários pontos do País. O racha interno também foi verificado e muita gente saiu de bico virado do PSDB.
Em 2016, Doria alçou candidatura à Prefeitura de São Paulo a contragosto de muita gente e bancado por Alckmin. Venceu no primeiro turno e quis mostrar que havia um novo PSDB para 2018.
Daí, a escolha caiu por Alckmin, que novamente não decolou e o voo do tucano despencou de vez. Votação pífia. Nesta terça-feira, troca de acusações e até termos pesados, como chamar de traidor quem tinha uma relação ‘criador-criatura’.
PT e PSDB que eram tão distantes nas ideologias, nunca estiveram tão próximos em seus desgastes. Dessas ruínas, menos deputados, governadores e senadores para cada lado. Quem se beneficia é um cordão de nanicos que, sem nada a perder, (muito menos história) explodiu e faz a reforma política e partidária brasileira ser mais que necessária.
Ambos perderam mais de 30 por cento dos votos para o Senado na comparação com 2010. Na Câmara Federal, o PT caiu de 69 deputados, em 2014, para 56, em 2018, enquanto a situação dos tucanos foi ainda pior, e o partido caiu de 54 para 29 cadeiras.
O tempo de exposição e o desgaste pela falta de credibilidade também atrapalham os partidos tradicionais. Essa é a avaliação de Roberto Gondo, cientista político do Mackenzie, que acrescenta que o caminho acaba aberto para as novidades.
“Os partidos sofreram com a diminuição de seus quadros de representatividade. Em 2014 foi com o PT, agora com o PSDB. Esses partidos foram responsáveis pelo gerenciamento do País por quase três décadas. Essa superexposição, bem como os escândalos de corrupção, fizeram com que ficassem com baixa credibilidade frente ao eleitorado. E com isso, novos players e novas propostas surgiram”, avalia Gondo.
Ainda assim, o sociólogo Rodrigo Prando, do Mackenzie, afirma, no entanto, que as grandes legendas estão longe de ser extintas.
“Os partidos estão desgastados por não dar a solução para os problemas sociais. Nesse momento o PSDB vive seu momento mais crítico, mas não digo que está terminado. Basta relembrar o PT em 2016, que perdeu 60% das prefeituras, Dilma Rousseff sofreu impeachment, a Lava Jato prendeu muita gente, incluindo o Lula. E agora, está vivendo um segundo turno de eleição”, reforça Prando.
Outros assuntos ainda farão barulho sobre a questão dos partidos políticos no Brasil.
O mais temido é a cláusula de barreira, que passa a valer e vai restringir o número de partidos com acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de rádio e TV.
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