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Se as Fake News fossem um ser humano, em que estágio de desenvolvimento elas estariam no Brasil? “Tirando o bebê do berço”, responde Arick Wierson, estrategista político, que liderou a campanha de Michael Bloomberg e está instalando sua consultoria política por aqui.

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Temos diversas tentativas de lutar contra as Fake News, todas elas focadas em regras vindas do Legislativo, do Judiciário, do Executivo, algumas até de esforços das redes sociais. Mas temos de considerar o fator humano, que faz do cidadão comum o maior contribuinte desse fenômeno, que ganhou agora nome e notoriedade, mas é histórico.

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Houve um exemplo histórico muito interessante na história romana, quando Otaviano cria um fake news para detonar o Marco Antônio para virar o Cesar. Isso talvez seja o primeiro exemplo de fake news na história mas, assim, de lá para cá só cresceu. Claro, com internet, isso se propaga com muito mais facilidade, com muito mais rapidez e eu acredito inclusive que estamos na ponta do iceberg, eu acredito que, na próxima etapa do fake news vai passar para vídeo e isso vai ser uma coisa que vai mexer muito no Brasil. – prevê Arick Wierson.

Fake News em vídeo não é simplesmente fazer um vídeo propagando notícias falsas, é fazer uma espécie de robô, simulando a figura e voz de uma pessoa, falando algo que ela jamais disse e divulgar pela internet. Já foi feito um desses por pesquisadores, utilizando a imagem de Barack Obama em que ele dava razão a Donald Trump em assuntos delicados como, por exemplo, o Medicare. É quase impossível distinguir o vídeo forjado de um vídeo real.

Imagine o efeito dessa tecnologia em um processo eleitoral brasileiro.

Vai espalhar na internet, até ele contrariar isso todo mundo já crê que ele de fato falou isso. Pode ser uma coisa muito racista, uma coisa muito misógina, uma coisa muito terrível, todo mundo vai acreditar porque estão vendo ele falando. Uma coisa é ler um jornal e pensar ‘ah, ele não falou isso’, mas quando você VÊ o cara falando isso, você acha que é verdade, né? – pondera o estrategista.

HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO

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Não haveria Fake News sem a ajuda de cidadãos comuns, pessoas de bem, que têm a consciência de estar espalhando conteúdo duvidoso mas que atende às suas convicções filosóficas e ideológicas. O confronto com a verdade não é confortável para o ser humano e é dessa fraqueza psicológica que se aproveitam os produtores de fake news.

Muitas vezes, sobretudo no âmbito político, muita gente espalha fake news sabendo que talvez não seja 100% verídica, mas apoia ou reafirma um pensamento filosófico ou ideológico que a pessoa detém. – explica Arick Wierson.

Fake News virou um termo da moda, elástico, que passou a definir desde as fake news em si até aquelas notícias legítimas de que as pessoas discordam por motivos de filosofia ou ideologia. Mas há uma definição exata para elas:

As completamente falsas, que podem ser criadas porque o título é atrativo e gera cliques para monetizar sites que vivem de cliques ou para espalhar boatos que atendam interesses políticos.

As que misturam verdade com mentira, tanto com objetivo de ganhar cliques quanto de ganhar poder político, utilizando algumas informações reais e outras adicionadas de um repertório fictício, tornando mais difícil separar a verdade da mentira.

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O jargão “fake news” para artigos da imprensa tradicional, utilizado por personalidades públicas que se sentem injustiçadas por reportagens malfeitas ou quando simplesmente não têm nenhum outro argumento para rebater reportagens muito bem feitas.

Há uma imensidão de propostas no Legislativo, no Judiciário e no Executivo para combater a difusão de Fake News, mas Arick Wierson acredita que nenhuma delas terá resultado.

Isso não vai acontecer! Se houver uma solução, vai ser através do setor privado. O setor privado acho que vai acabar criando suas próprias ferramentas para tentar controlar ou amenizar isso. De fato, acho que acabar com isso, parar com fake news, só quando o ser humano parar de mentir. – estima o estrategista político.

 

A IMPORTÂNCIA DAS REDES NAS ELEIÇÕES DE 2018

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Se, por um lado, são um risco, por outro, as redes são a salvação dos candidatos que estão fora do sistema políticos que garante tempo de rádio e televisão. Eles não têm outra alternativa a não ser depender das redes sociais. Arick Wierson faz a conta na ponta do lápis:

Se você olhar para o Brasil, 205 milhões de habitantes, 160 milhões de eleitores – o Brasil tem 130 milhões de usuários de facebook, 120 milhões de usuários de whatsapp. Evidentemente usando essas redes tem uma grande capiladirade que se aproxima mas não bate a televisão aberta e o rádio mas, mesmo assim, é uma ferramenta muito poderosa e, ao longo dos próximos 4 ou 8 anos, a convergência da penetração de TV e rádio – que é quase 100% – e do meio digital vão se encontrar.

O grande problema não é com os números, é com o conteúdo. O marketing político no Brasil tem muitos problemas além de estar atrás das grades: o conservadorismo de procurar os canais mais influentes em vez do discurso mais verdadeiro ou mais significativo para a população.

Eu acho uma coisa muito curiosa aqui no Brasil, que há uma grande preocupação com canais, com onde eu vou distribuir meu conteúdo, ou seja, se vai ser no face, se vai ser na televisão, se vai ser no whatsapp, etc. Mas, na verdade, a minha maneira de ver isso e é justamente por causa disso que eu vim aqui. – diz o estrategista político que está se instalando no Brasil.

A lógica brasileira ainda é a da influência, não a do conteúdo. O marketeiro brasileiro é retrógrado, na visão do estrategista: foca em onde vai estar e não na mensagem que vai comunicar e no quanto ela é significativa para a população. A tentativa é sempre estar nos canais mais importantes, sem ter real atenção com a mensagem que vai ser passada às pessoas.

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O bom conteúdo, que nem água, sempre vai achar o canal certo. Mas, se você simplesmente está falando uma coisa com luz ruim, um papo chato, sem um fundo interessante, sem ação, sem ideias novas, uma linguagem prolixa, pode até passar por todos os canais possíveis e imagináveis que nunca vai ter um efeito. – explica Arick Wierson

CAPACIDADE DE PRESTAÇÃO DE CONTAS

É prática comum dos políticos brasileiros pesquisar o que deve ser dito à população, prometer e, uma vez no cargo, simplesmente esquecer o que foi dito. Arick Wierson lembra que Michael Bloomberg reuniu sua equipe após a campanha e pediu um apanhado geral das promessas de campanha: o que disse em debate, falou à toa em evento, enfim, tudo. As promessas foram organizadas por setor e, no final do primeiro ano, avaliadas com os secretários nas seguintes divisões: feita, cumprida, em curso, abandonada, não conseguiu. O relatório foi publicado para a imprensa.

Uma ideia assim seria muito bem vista aqui no Brasil, um político realmente estar preparado para ser avaliado pela performance dele. – diz Arick Wierson

AS ELEIÇÕES DE 2018

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Todos nós já percebemos que, pelo menos nas candidaturas presidenciais, não teremos grandes mudanças. O estrategista político também prevê o mesmo cenário, mas assinala que estamos estabelecendo as bases para um futuro mais promissor:

Eu vejo este ciclo eleitoral como um ciclo em que os alicerces do futuro serão fincados no chão e uma plataforma está sendo construída para ter talvez uma grande revolução no campo político em 2020 e 2022, sobretudo.

Arick Wierson considera que nenhum nome diferente parece ter oportunidade na presidência do país neste ciclo, mas que o sucesso pode ser medido na Câmara dos Deputados, no Senado e entre alguns governadores.

Temos que olhar o que está acontecendo no Brasil nessa fase pós: depois de o Lula ir para a cadeia, depois do impeachment da Dilma, depois da crise econômica, depois da Lava Jato. Temos que ver essa fase como uma transição que vai levar alguns anos. O Brasil nunca foi um país que fez nada da noite para o dia e esse processo também vai levar alguns anos para ser cumprido. – analisa o estrategista político.

DICA PARA O ELEITOR

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Pedi a ele uma dica para o cidadão comum que quer tomar boas decisões em 2018 e o estrategista político foi taxativo: não se deixe levar por pesquisas de opinião. Quem está ganhando as pesquisas? Brancos e nulos. Ou seja, ainda temos muita estrada pela frente.

O eleitor brasileiro tem de manter a cabeça aberta, não ser maria-vai-com as outras, não escolher fulano de tal só porque está com tantos por cento e vai para o segundo turno. – aconselha Arick Wierson

Analise propostas, derrube preconceitos, ouça o que os candidatos têm a dizer. Pela primeira vez temos um país que puniu empresários e políticos poderosos. É o início de uma revolução, todos nós temos um dever a cumprir.

 

 

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