Gunther Schweitzer, o “Guntherzão da Massa”, será candidato a deputado estadual em São Paulo nas eleições de 2018. Você pode até não reconhecer o nome, mas já deve ter esbarrado pela internet com algum texto atribuído a ele – ele é o (falso) “autor” de relatos sobre subornos na Copa do Mundo, sobre a manipulação das urnas eletrônicas, sobre uma “entregada” de Anderson Silva e até mesmo sobre a definição da vencedora da primeira temporada do Masterchef, programa de culinária da Band. Em comum entre todos os textos, a emblemática frase: “Se as pessoas soubessem o que aconteceu, ficariam enojadas”.
Tudo começou após a Copa de 1998, aquela em que o Brasil foi derrotado pela França na final, em jogo marcado pelo mal-estar da estrela do time, Ronaldo. Teorias da conspiração pipocaram depois do vexame apresentado pela seleção brasileira, principalmente motivados pela controversa escalação de Ronaldo. O atacante sofreu uma convulsão horas antes do jogo e até hoje se discute se ele deveria ter entrado em campo: foi uma irresponsabilidade? Imposição da patrocinadora? Prova de que o Brasil havia sido subornado para entregar o jogo aos franceses?
Dois anos depois daquela Copa, Gunther Schweitzer recebeu em seu email um texto que “denunciava” a compra daquele jogo. Os jogadores brasileiros, segundo o relato, haviam sido subornados pelos patrocinadores, e entregariam a partida em troca de contratos ricos de publicidade e de uma facilitação para que o Brasil vencesse a Copa seguinte. Impressionado com o escrito, Gunther o encaminhou a amigos. Sua mensagem trazia seu nome abaixo, como assinatura. Tempos depois, alguém – uma pessoa não identificada – adicionou um “Central Globo de Jornalismo” abaixo do nome de Gunther.
A partir daí, Gunther virou uma celebridade na internet. O mesmo boato passou a ser adaptado para diferentes ocasiões, mas mantendo como padrão a frase “Se as pessoas soubessem o que aconteceu, ficariam enojadas”, e assinatura de Gunther. Como já dito, diferentes “escândalos” foram denunciados por Gunther; e além dos anônimos da internet, gente conhecida já caiu no boato, como o presidente do PRTB, Levy Fidelix e o jornalista e vereador Jorge Kajuru. No ano passado, o clube boliviano Jorge Wilstermann se viu obrigado a publicar uma nota oficial depois que a “denúncia” de Gunther ganhou a internet após o time sofrer 8×0 em um jogo da Libertadores da América.
A verdade é que Gunther Schweitzer, conhecido como “Guntherzão da Massa” nos diversos grupos que o celebram nas redes sociais, não é jornalista e jamais escreveu o famoso boato. Ele é um professor de educação física de Ribeirão Pires (SP), apaixonado por esporte, e que quer ser candidato em 2018 para defender a bandeira da atividade física. “Sou atleta desde os meus 14 anos e pude viver o esporte em várias vertentes. Sei bem da contribuição que o esporte pode dar à saúde: das nove doenças crônicas mais comuns do mundo, sete podem ser combatidas apenas com a atividade física. E como deputado, posso fazer mais, apresentar projetos para levar todo o esporte para o estado de São Paulo”, disse.
Gunther escolheu o Avante para ser seu partido. A sigla, o novo nome do tradicional PTdoB, “está longe das sujeiras”, disse. “Eu não ia colocar minha reputação em um partido com gente ruim, para depois ter meu nome relacionado a essas pessoas”, explica.
No plano federal, Gunther se diz inclinado em votar no governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à presidência: “ele é o mais preparado”. “Se o Bolsonaro tivesse uma plataforma um pouco diferente, não tão extrema, ele seria um candidato bem viável. Ele tem uma atitude que eu gosto, a do ‘bandido bom é bandido morto'”, apontou.
Em relação à campanha eleitoral, Gunther promete gastar pouco e se beneficiar da ampla rede de contatos que construiu com anos de esporte. Mas e o boato que o tornou célebre, terá espaço?
“Eu não posso levantar uma bandeira que não é minha. Afinal, eu não escrevi nada do que está ali. Mas vou levar essa história na esportiva, na brincadeira. Quando comecei a divulgar que era pré-candidato, o pessoal da internet comemorou. ‘Agora vai! O homem das denúncias vai para a política e vai expor tudo o que tem de errado por lá!’. Eu dou muita risada com tudo isso. E como esse ano tem, além de eleição, Copa do Mundo, certamente meu nome vai pipocar por aí”, afirmou.
Mas de uma coisa, Gunther tem certeza: se for eleito e passar a viver o dia a dia da política, ele ficará, como diz o célebre boato que o marcou, “enojado”. “O negócio lá é difícil. Mas não tem problema: vou levar um remédio para não passar mal”, brincou.