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História, corrupção e incompetência explicam pequena malha ferroviária do Brasil

Obras da Ferrovia Norte-Sul entre Palmas, Tocantins, e Anápolis (Goiás). Foto: PAC (Foto: )

O colapso que o Brasil vive desde que os caminhoneiros deflagraram a greve despertou na população o questionamento sobre os motivos pelos quais o país não tem uma rede ferroviária digna de seu porte.

Há razões históricas para o déficit, como explica a reportagem “Um terço das ferrovias do país foi construído no Brasil Imperial”, da Gazeta. O país atrelou, em épocas distantes, sua rede ferroviária ao comércio do café; quando a reputação do produto decaiu, a rede ferroviária seguiu a mesma toada. Além disso, na década de 1950 o país fez uma opção pelo transporte rodoviário, com construção de rodovias e incentivos à indústria automobilística, mentalidade que ainda causa eco nos dias atuais.

Mas existem também motivos para o problema que remetem a personagem que prosseguem influentes na política nacional. A Ferrovia Norte-Sul é um dos maiores exemplos desse quadro. Em 1987, quando o presidente da República era José Sarney, a obra foi palco de um cartel de empreiteiras, que combinavam preços para a construção de determinados trechos. Muitas dessas empreiteiras, décadas depois daquele escândalo, estariam em destaque na Lava Jato.

Em 2017, a Gazeta do Povo foi até a cidade de Anápolis (GO), onde passa um trecho da Norte-Sul, e identificou que a via se transformou em um verdadeiro monumento ao desperdício de dinheiro público. Entre a inauguração do trecho, em 2014, e setembro de 2017, quando a matéria foi feita, apenas três cargas, ou 1% da expectativa inicial, havia sido transportado. A reportagem do jornalista Lúcio Vaz constatou que obras de infraestrutura paralela, essenciais para o aproveitamento da ferrovia, não foram executadas na medida correta.

Trem-bala
E não há como falar de projetos ferroviários que não deram certo sem abordar um dos maiores delírios que o Brasil viveu no começo dessa década: o trem-bala que ligaria Rio de Janeiro a São Paulo. “Não estamos trabalhando com a ideia do trem pronto para a Copa, mas confiante de que nós teremos o trem construído e operando para as Olimpíadas de 2016”, disse em 2010 o então ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Nada disso aconteceu. O trem bala acabou se mostrando pouco atrativo para as empresas e o projeto está engavetado.

Nos dias atuais, a gestão de Michel Temer também tem dado sua boa contribuição para esse quadro de problemas. Em 2016, o governo lançou o PPI, Programa de Parcerias de Investimentos, que tinha como objetivo retomar a atividade econômica, e incluía a construção de ferrovias. Mas, até agora, nenhuma concessão foi efetivada; ou seja, nenhuma das ferrovias anunciadas naquela ocasião começou a sair do papel.

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