O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), de 87 anos, publicou em seu site no último dia 30 de dezembro a crônica “O velhinho até que é bom”, em que fala sobre seu avô. Quatro dias depois, foi citado como responsável pelo recuo do presidente Michel Temer, que desistiu de nomear o deputado federal Pedro Fernandes (PTB-MA) para o Ministério do Trabalho. Como o parlamentar é rival de Sarney no Maranhão, Temer decidiu ir atrás de outro nome para não se indispor com o antigo aliado.
Na crônica, Sarney fala sobre sobre as festas de fim de ano e conta experiências de seu avô, Assuéro, que viveu até os 96 anos. “Se a minha alma tiver vergonha nunca mais sai do Maranhão. Ô terra boa. Já tive até um neto que foi governador”, dizia Assuéro, segundo Sarney.
O mandato de governador, destacado pelo avô, foi exercido por Sarney entre 1966 e 1970. A partir dali, Sarney ocupou os mais nobres cargos e ainda hoje, sem mandato, posiciona-se como peça-chave na política nacional – por exemplo, vetando Fernandes.
Sarney nega ter operado para barrar Fernandes. A informação – ou boato – teve como um dos principais disseminadores em Brasília o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB.
A atuação de Sarney no caso do Ministério do Trabalho seria a segunda dele na gestão Temer. A primeira foi quando da escolha de Fernando Segovia para ser o novo diretor-geral da Polícia Federal. Segovia atuou no Maranhão e lá teria se aproximado de Sarney e outros líderes locais, como o senador Edison Lobão. O ex-presidente da República também nega a interferência no episódio.
Mas a trajetória de Sarney no governismo é bem antiga ao mandato de Michel Temer. Desde que deixou a chefia do Executivo nacional, em 1990, Sarney permaneceu como figura decisiva para os rumos da política. Sempre foi um dos parlamentares mais influentes do Congresso, e uma das provas disso é que foi muito cotado, até meses antes da eleição, para ser candidato a presidente pelo PMDB em 1994.
Quando começou o governo de Fernando Henrique Cardoso, Sarney foi presidente do Senado no primeiro biênio do mandato inicial do tucano, entre 1995 e 1997, e emplacou seu filho, Sarney Filho, como ministro do Meio Ambiente – mesmo cargo que ele exerce nos dias atuais.
Mas foi no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que Sarney mais se fez presente. Antes inimigos públicos, Lula e Sarney começaram a se aproximar nas eleições de 2002, quando o petista venceu a disputa presidencial pela primeira vez. Nas gestões de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff, Sarney foi presidente do senado por três mandatos e sempre exerceu sua influência. Por exemplo, fez com que um dos seus principais aliados, Edison Lobão, fosse ministro de Minas e Energia na gestão Lula e durante todo o primeiro mandato de Dilma.
Em 2013, durante uma sessão solene do Congresso para comemorar os 25 anos da Constituição, Lula dirigiu as seguintes palavras a José Sarney: “presidente Sarney, já que Ulysses Guimarães não está entre nós, está apenas as suas ideias e o seu comportamento, eu quero lhe dizer claramente que o senhor merece a minha homenagem pelo seu comportamento digno como presidente da República”.
Cabe destacar que em 2015, ainda antes de se falar de vez em impeachment mas com o segundo mandato de Dilma já contestado, Lula participou de uma seleta reunião do PMDB, ao lado de Sarney e de outros nomes como os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL), e nessa reunião o petista defendeu maior participação do PMDB no governo.
Curiosamente, quando a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), foi questionada no mês passado sobre a aliança do partido com o Sarney, disse que é o Sarney que busca o Lula, e não o contrário. A declaração descreve um cenário oposto do apresentado por Sarney em entrevista de 2011 – na ocasião, o ex-presidente disse que não apenas Lula, mas também Fernando Henrique Cardoso a ele pediu apoio.
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