Mapeamento classifica alunos como “crente”, “judeu”, “bolsominion”, “liberal de merda” e causa revolta em grupo da São Francisco

Um mapeamento dos novos alunos, feito pelos coletivos responsáveis pela gestão do XI de Agôsto, um dos Centros Acadêmicos mais tradicionais do país, o da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, causou revolta quando vazado parcialmente no grupo fechado de Facebook “Turma 191 – Direito USP 2018”.

De acordo com a descrição das colunas a serem preenchidas, as informações seriam: nome, de onde é, mapa de likes, responsável pelo primeiro contato. O problema surgiu no que os integrantes do Coletivo Contraponto, que se auto-descrevem como pessoas que acreditam fundamental “a busca de uma faculdade inclusiva, um projeto de país soberano, ou um mundo menos injusto” entenderam como “mapa de likes”.

Entre as informações sobre os novos colegas há pérolas como:

Não curte nenhuma página de esquerda. Crente.

Bolsominion, praticamente. Assustador.

Curtidas políticas: Holiday e Doria

De esquerda mas não muito kkkkk

Curte futebol europeu kk só isso

Ideologia desconhecida. Judia.

Liberal de merda

Parece ser de esquerda. Apesar de curtir Deltan Dallagnol kkkk. Judeu.

Maconheiro, de esquerda

Irmão de peixe peixinho é

O Coletivo Contraponto assumiu a autoria do mapeamento e disse que o Levante, que também participa da administração do XI de Agôsto, não teve participação na elaboração do documento. Foi feita uma nota de explicação e retratação. Nela, o coletivo explica que levanta o perfil de todos os 460 novos ingressantes a cada ano, desde 2013, quando começou a atuar, para avaliar a melhor forma de atrair cada um deles para seu projeto político.

Entretanto, isso resultou, conforme já visto, na inserção de alguns comentários despolitizados e de cunho jocoso e depreciativo na planilha elaborada, dos quais ficamos envergonhados, arrependidos e profundamente desconfortáveis. – diz a nota.

O Coletivo Contraponto pediu desculpas a todos os que se sentiram ofendidos e diz entender o constrangimento de ter o próprio nome associado a tais comentários em uma listagem à qual não se tem acesso, assegurando que repudia a presença de termos ofensivos no mapa. Reconhece que os comentários são de extrema gravidade por “reforçar estereótipos e preconceitos, sendo uma postura inaceitável para um grupo político que se propõe a construir um programa de esquerda, pautando sempre o combate às opressões”.

Merece os parabéns o Coletivo Contraponto por assumir o malfeito imediatamente em vez de tentar justificar e o discurso realmente é irretocável, mas e as medidas práticas? Voltemos à nota: ‘Nos comprometemos a não repetir tal postura. Sempre nos mostramos abertos a debater qualquer tema, com este não será diferente’. Oi? Custa acreditar, mas é exatamente isso que a gente está lendo, uma atitude tão dissociada da gravidade do fato que faço questão de colar o original aqui:

O exercício do Direito é mais que um amontoado de tecnicalidades, uso adequado de termos técnicos e clichês ou defesa vazia de ideias, é a defesa ativa da dignidade humana, dos direitos fundamentais, da justiça como reparação e meio de manutenção da ordem social. Se um coletivo responsável pela administração do Centro Acadêmico de uma das faculdades de maior prestígio do país age contra todos os princípios que prega, desrespeitando o direito e a dignidade dos próprios colegas e, flagrado, considera que a única providência que deve tomar é “não repetir tal postura”, estamos diante de um problema gravíssimo de formação – talvez não acadêmica, mas de caráter.