As eleições deste ano trazem um toque de caserna à disputa. Sim: muitos militares, sejam das polícias ou das forças armadas, entraram na corrida por cargos executivos e legislativos este ano.
Mas, o destaque fica, de fato, no grande número de militares disputando cargos do Poder Executivo na esfera federal e pelos estados brasileiros.
Conversei com alguns candidatos nos bastidores e a fala é praticamente a mesma: atendem ao clamor da população brasileira que cansou dos exemplos de políticos que temos atualmente.
Para os militares, a presença em candidaturas pode trazer a voz de comando e a obediência hierárquica para colocar ordem na política nacional, manchada pela corrupção.
Outro ponto importante que os militares dizem entender bem – e que o Brasil está carente – é o da segurança pública.
Recentemente falamos do Anuário da Segurança Pública que mostrou que mais de 63 mil pessoas morreram no Brasil de maneira violenta, como em casos de homicídio e latrocínio, por exemplo. Este é um tema que praticamente não apareceu no primeiro debate feito na televisão, mas que precisa ser levado em conta pelos concorrentes aos cargos eletivos.
O número de candidatos militares praticamente dobrou desde a eleição de 2014, incluindo até mesmo militar filiado a partidos de esquerda.
Quem acompanha a Gazeta do Povo viu reportagem sobre esse assunto, onde foram identificados pelo menos 25 militares, da ativa ou da reserva, que vão concorrer aos cargos de presidente, vice-presidente, governador ou vice-governador. Na eleição passada eram 13 nomes.
Leia mais: O fenômeno dos candidatos militares: quem é e o que propõe a ‘chapa da farda’
O número é ainda maior se compararmos com as eleições de 2010, quando apenas sete militares disputaram os cargos majoritários.
Percentualmente, nessas eleições, pensando somente no executivo, os militares representam 7% dos nomes já anunciados pelos partidos, contra 3% das últimas eleições.
Do universo que concorrerá este ano, seis são do Exército. Marinha e Aeronáutica estão sem representantes. Os demais são 17 policiais militares e dois bombeiros militares.
Somente na corrida ao Palácio do Planalto, como candidato a presidente ou vice, estão Jair Bolsonaro (PSL), que é capitão da reserva do Exército, e seu candidato a vice, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), além do deputado Cabo Daciolo (Patriota), ex-bombeiro militar.
Os outros 22 nomes disputam cargos de governador ou vice. No Rio de Janeiro, o PRTB lançou uma chapa pura formada por dois policiais militares.
Já em São Paulo, exemplo bem diferente do visto em outras disputas: três mulheres da Polícia Militar foram convidadas para compor chapas como candidatas a vice-governadora do Estado.
Em comum, a maioria dos candidatos baterá na tecla da violência e do fortalecimento das Forças Armadas e polícias. Por outro lado, há a inexperiência política e em gestão pública, uma vez que muitos nunca concorreram a cargos eletivos.
O cientista político Roberto Gondo, professor do Mackenzie, dá sua visão deste fenômeno e lembra que os militares haviam criado imagem negativa desde o regime, como questões de tortura e presos políticos. Mas isso muda com a atual falta de lideranças no País.
“De 2013 para frente, em paralelo com a reivindicação do impeachment de Dilma Rousseff, a decadência do PT e a necessidade de novas lideranças, movimentos de extrema direita estimularam a ideia de militares voltarem dentro da democracia brasileira. Esse clamor acabou acontecendo, partidos menores observaram isso como nicho estratégico e foram buscar essas pessoas para combater o que estamos vendo no Brasil”, analisa
Depois do regime militar, somente dois militares que haviam sido governadores biônicos durante a ditadura chegaram ao poder pelo voto direto: o vice-almirante da Marinha Annibal Barcellos, no Amapá, e o brigadeiro da Aeronáutica Ottomar Pinto, em Roraima.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião