Há um lugar onde Lula não tem a performance de “campeão mesmo atrás das grades” alardeada pelo PT, exatamente seu berço político, o Estado de São Paulo. O maior colégio eleitoral do Brasil, com representatividade de mais de 1/5 dos votos do país e cuja capital, sozinha, tem mais eleitores que 23 dos Estados brasileiros, tem um cenário bem diferente das pesquisas nacionais, aponta o levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas entre os dias 12 e 18 de julho com 2 mil eleitores de 84 municípios e registrado no TSE sob o número BR-08361/2018.
Há um dado curioso no comportamento dos paulistas: os eleitores de Bolsonaro são um bloco fechado que praticamente não se altera com a presença do ex-presidente da República no pleito. No cenário com Lula, o petista empata tecnicamente com Bolsonaro: 21,1% contra 21%. No cenário sem Lula, o candidato do PSL tem um crescimento discreto, dentro da margem de erro, chegando a 22,3%.
A única candidatura que sofre alterações significativas no Estado de São Paulo sem a presença de Lula é a de Ciro Gomes, que praticamente dobra de tamanho, saindo de 4,9% para 8,1% ainda que o petista Fernando Haddad esteja na disputa – ele teria 4% dos votos.
A migração dos eleitores de Lula é um capítulo à parte na pesquisa e desafia até mesmo a criatividade dos analistas eleitorais. Boa parte (28,1%), ao ver o ex-presidente fora da disputa, diz que vai votar em “nenhum”. Mas o redirecionamento dos votos para Ciro, Marina e Alckmin (isso mesmo, ALCKMIN) é praticamente equivalente e superior aos votos que iriam para o candidato do PT, Fernando Haddad. Ciro teria 15,7%, Alckmin 13,8%, Marina 13,1% e Haddad 12,4%. 5,7% dos eleitores de Lula votariam em Bolsonaro se ele não fosse candidato.
É inegável que “nenhum” continua sendo candidato fortíssimo na disputa, ou seja, os candidatos postos ainda não conquistaram corações e mentes do eleitorado mesmo com uma pré-campanha que já dura meses e diversos lances midiáticos e nas redes sociais. Se os paulistas têm um herdeiro certo para os votos que seriam do ex-presidente Lula, numericamente é a incerteza. Note-se que “nenhum” passou a ser citado como candidato à parte, um não candidato, em contagem separada de “não sabe” ou “ainda não decidiu”.
Embora eleitoras de Jair Bolsonaro tenham se empenhado espontaneamente na internet para demonstrar que ele tem apoio feminino, não é o que os números revelam. Ele é o candidato com mais dificuldade entre as mulheres, em um balanço poucas vezes – senão jamais – visto em uma campanha para a presidência da República: seu eleitorado feminino é menor que a metade de seu eleitorado masculino.
Se dependesse apenas dos homens de São Paulo, Jair Bolsonaro bateria Lula: 29,3% x 20%. Na preferência das mulheres, ele fica em quarto lugar. Lula está em empate técnico com Geraldo Alckmin: 21,9% x 19,4%. Em seguida vem nenhum, com 18,5% e então Jair Bolsonaro com 13,8%.
Caso o ex-presidente Lula fique fora da disputa, uma em cada quatro mulheres de São Paulo vota em “nenhum”, que seria o candidato vencedor, com 25% dos votos, seguido de perto por Geraldo Alckmin com 22,3% e Jair Bolsonaro colado em Marina Silva: 14,6% x 11,8%. Para os homens, sem Lula é que a disputa estaria definida, com 30,9% dos votos para Bolsonaro e em seguida “nenhum”, com 18,5%. Geraldo Alckmin teria 15,3% e todos os demais ficariam com menos de um dígito.
A 81 dias das Eleições 2018, a campanha definitivamente está nas ruas após o final da Copa do Mundo, mesmo sem as decisões definitivas nas convenções dos partidos. Praticamente 1/3 do maior colégio eleitoral do país, São Paulo, ainda afirma que prefere “nenhum” aos candidatos que foram oferecidos até agora. A exaustiva pré-campanha, tocada por políticos de carreira e marqueteiros experientes com a bolha dos clichês, ainda não conseguiu falar com as mulheres. Quem vencer esses desafios conseguirá a vitória de ser melhor que nada aos olhos dos eleitores.
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