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Esperteza é bicho que come o dono. Tudo ao redor do mais novo escândalo de manipulação das redes sociais, apelidado de #PiauíGate, lembra o clássico Golpe do Bilhete Premiado, na moda e na ativa há mais de 70 anos. Neste, o golpista finge ser alguém simples, que ganhou na loteria e geralmente aborda uma pessoa idosa, o tipo que ajudaria alguém em necessidade, dizendo que tem dificuldades com a burocracia para sacar o dinheiro. Então, faz a proposta: troca o bilhete por parte do valor. A pessoa, que já iria ajudar, encontra aí uma forma de se recompensar espertamente – só que o bilhete é falso.

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Não há boa-fé dos envolvidos, mas há arrependimentos. O que mais existe, no entanto, são negativas, que se acumulam nas redes e direcionadas aos jornalistas. As primeiras acusações partiram da jornalista Paula Holanda, militante de esquerda e considerada influenciadora com 6700 seguidores no Twitter. Mas não é por ela que vou começar a desfazer o novelo, vou pelo caminho oposto, para o qual todos os nomes apontam sem tocar.

Miguel Corrêa Junior, 40 anos de idade, é o Golden Boy do PT mineiro, que já ocupou o posto de presidente do partido em Belo Horizonte. Foi delegado jovem da ONU, o vereador mais jovem da capital, Belo Horizonte e logo em seguida alçou vôo para deputado federal, reeleito como o mais votado da capital para um mandato em que foi relator do Orçamento do país. Tem 2 faculdades – Administração e História – e 4 MBAs. Sim, QUATRO.

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Não pára por aí. Também frequenta as páginas das revistas de celebridades desde que, há 3 anos, foi protagonista de um verdadeiro conto de fadas. Casou-se com a ex-BBB Letícia Santiago apenas 4 meses depois de se conhecerem. Seguem juntos, com dois filhos para completar a família, e lives diárias falando da vida política no Facebook do marido. A esposa tem um canal no YouTube em que fala da vida familiar, filhos e dá dicas de beleza.

O que Miguel Corrêa Junior tem a ver com o escândalo da compra de opinião de influencers? Absolutamente NADA. No entanto, é o elo entre o emaranhado de empresas responsáveis por identificar, recrutar e pautar influenciadores online.

Em todos os relatos de influenciadores, seja os que aceitaram ou não a tarefa de falar bem de 3 figuras específicas do PT – Gleisi Hoffmann, Luiz Marinho e Wellington Dias – há uma sobreposição de tarefas entre as empresas Lajoy, vBuilders e Follow. Depois que o escândalo estoura, aparece na jogada também a Be Connected.

Vamos por partes: 3 empresas foram utilizadas para entrar em contato com influencers, Lajoy, vBuilders e Follow. As duas últimas têm relação com ex-assessores do candidato, seja no Legislativo ou nos tempos de executivo. A primeira alega ter sido apenas contratada para identificar influencers e aponta a responsabilidade para a empresa Be Connected, também de propriedade de um assessor do deputado.

 

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AS EMPRESAS ENVOLVIDAS

A primeira a ser denunciada no escândalo foi a Lajoy, por meio da denúncia da jornalista Paula Holanda, que publicou na internet a foto do grupo de whatsapp do qual passavam a fazer parte os “influenciadores” contratados. O nome era #LulaZord, o que poderia ser um indicativo de que se tratava de ação política e não de promoção de pautas progressistas, como diziam os emails iniciais.

A dona da empresa, Joyce Falletti, ficou conhecida no mercado da internet por ter inventado o bombadíssimo perfil de humor Pedreiro On Line, com cantadas de pedreiro que viraram cult. Fundou há 8 anos a Lajoy, que agencia principalmente influenciadores da área de entretenimento e não existe formalmente, não tem um CNPJ. Ela é a Joy, que se diz responsável pelo grupo de whatsapp #LulaZord nesse print.

A conversa entre Joy e Paula Holanda desmontou o castelo de cartas contido no grupo de whatsapp. Inconformada por ter sido removida, a jornalista avisou que iria expor o esquema – e realmente o fez.

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Por e-mail, Joyce Falletti respondeu com a seguinte nota:

“Fui contratada, para o mês de junho e julho, pela empresa Be Connected para dar consultoria sobre quais jovens profissionais tecnológicos e digitais de esquerda eram aptos a construir e sugerir a melhor tática (conteúdo: posts, memes e gifs) de apresentar a proposta para quando chegasse o período eleitoral. Não havendo nenhuma contratação pela minha empresa para este período. Através da minha experiência, conhecimento e proximidade com os influencers, indiquei os que, como eu, discutem e fortalecem as causas progressistas de esquerda. Apenas seguindo a solicitação do nicho pedido pela Be Connected.
Não é surpresa pra ninguém que me acompanha que eu sempre fui de esquerda e sempre fui Lula Livre e sempre fui petista e apoio o PT.  A Lajoy existe há 8 anos. Nossa credibilidade foi conquistada com muito trabalho e responsabilidade. Neste caso, não agimos diferente. Temos segurança da qualidade do nosso trabalho e da parceria consistente com nossos clientes e parceiros.” 
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O nome da Be Connected aparece também via Luís Felipe Veloso de Lima, que teve a vida devassada nas redes sociais após apagar de seu Linkedin o status de fundador da vBuilders, empresa que também entrava e contato com influenciadores propondo participação nas ações:

Conversei com Luís Felipe e ele me disse: “Não estou apto a responder nenhuma outra questão sobre esse assunto. Sugiro que procure os responsáveis pela be.connect”. A parte que ele respondeu é por que tirou o envolvimento com a empresa do próprio perfil. Diz que nem chegou a ter vínculo formal, lançou o conceito e havia colocado no currículo por esse motivo, mas não tem nenhuma relação. Resolveu apagar depois de ser bombardeado por uma chuva de telefonemas.

“Há alguns meses eu fui convidado para estruturar a operação de uma aceleradora no modelo Venture builder, com base na minha experiência no vale do silício, foi quando coloquei a vbuilders no perfil. Mas a ideia da aceleradora ainda não saiu e eu não me tornei sócio da empresa. Só que havia colocado no LinkedIn e acabei esquecendo por lá. Domingo de manhã fui surpreendido por ligações e jornalistas me perguntando a respeito. Por isso retirei, eu não sou sócio, nem coordeno a empresa. Isso pode ser facilmente checado por você. Estou em outra empresa, que não tem nada a ver com eleições. Meu know How é na área de tecnologia.”, explicou Luís Felipe.

Ele confirma que conhece o deputado Miguel Corrêa Junior: “conheço o Miguel, meu relacionamento com ele é porque ele defende a pauta dos empreendedores”. Já quanto à vBuilders, o relacionamento hoje é meramente geográfico, garante: “eu tenho outra empresa no mesmo prédio, mas não tem nada relacionado a política”.

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Restam então como responsáveis a Follow e a Be Connected, ambas de propriedade de Rodrigo Queles Teixeira Cardoso, assessor do deputado Miguel Corrêa Junior, candidato ao senado pelo PT de Minas Gerais.

A primeira é uma plataforma de divulgação de notícias onde o usuário ganha pelo número de pessoas que consegue atingir com as notícias divulgadas. Ela possui aplicativos onde essas notícias são baixadas e, embora muitos participantes do esquema alegassem não saber que se tratava de conteúdo político, parece que era possível desconfiar. Os aplicativos para os quais eles eram direcionados como condição básica de participação nas ações não eram tão isentos assim.

Enviei a Rodrigo Cardoso 4 perguntas:

1. Em que exatamente consistia a ação?
2. Quem é o cliente que está sendo atendido?
3. O valor proposto aos influencers era padrão ou variável?
4. A ação faz parte da campanha eleitoral 2018?

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Ele me respondeu com a mesma nota oficial que foi enviada a todos os veículos de comunicação:

Nós somos contratados para fazer diagnóstico, monitoramento e análises  de ambiente. Extraímos inteligência, damos a visualização da rede de influência e correlação de assuntos de seus monitoramentos. O foco dessa ação é entender o público de esquerda e planejar ações para o momento oportuno.Dentre nossas ações, apontar e combater fakes, robôs e pessoas que não tem identidade com a causa. Analisamos e monitoramos perfis reais para apontar de onde nasceram movimentos de unificação de conteúdo e viralização. Em alguns momentos fizemos isso, como no caso do #Lulazord, que obteve grande aderência da rede de esquerda. Temos uma equipe de profissionais de inteligência digital com o objetivo de colher sugestão do melhor conteúdo: posts, memes, gifs, vídeos e leads compreendendo quais as melhores formas de fortalecer o ativismo da tática nacional.

Nunca contratamos um único influencer ou qualquer ação nesse sentido. 
Repudiamos a compra de apoio e fake news.

Att.,
Rodrigo Cardoso

ESPERTEZA É BICHO QUE COME O DONO


Conversei com alguns influencers que aceitaram a ação e a história é sempre a mesma: apesar do aplicativo Brasil Feliz de Novo e do grupo de whatsapp #LulaZord, foi só no meio do caminho que descobriram tratar-se de uma ação política, coincidemente após a denúncia.

Mas prefiro relatar aqui a conversa que tive com quem NÃO aceitou, com quem nem soube que se tratava de esquema político porque não chegou nesse ponto devido a um simples motivo: anda na linha quando ninguém está olhando.

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A publicitária Alessandra Siedschlag botou a tentação à prova quando recebeu o primeiro contato da Agência Lajoy, em agosto. Não por se tratar de convicção política – aliás, ela nem trata dessa pauta – mas por viver um dilema ético da sua profissão.

O email falava de “uma ação bem grande (nível Brasil) de conteúdo sobre ativismo de esquerda (causas Lgbt, empoderamento feminino, empoderamento de mulheres negras, causa animal, etc).” Alessandra é conhecida defensora da causa animal e lhe ofereciam exatamente os R$ 2 mil mensais que gasta com sua ONG, o Projeto SalvaCão. Só que, no meio do caminho, tinha um dilema ético:

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Por telefone, Alessandra repete “sem sinalizar realmente ser uma ação política” e fica indignada: “Como assim? Isso é contra as regras do CONAR!”. A questão dela nem chegou até política, ficou nos princípios. “Não me importa de quem é. Não gostei disso: não sinalize. Se for tênis, shampoo ou política, não aceito se disser ‘não sinalize’.”

Ela chegou a responder o comunicado, questionando por que não poderia sinalizar que era uma ação política patrocinada. As respostas não foram conclusivas. Depois da Agência Lajoy, foi a vez de a Follow entrar em contato com ela, novamente impondo a condição de não divulgar que se tratava de uma ação política paga e coordenada. Mais uma vez, não aceitou: “Eu sou publicitária, eu jamais faria isso”.

Alessandra diz não ter entendido exatamente de que se tratava quando os e-mails chegaram, mas percebeu que havia algo de errado, já que exigiram o descumprimento de uma regra básica da publicidade, da lei eleitoral e das próprias redes sociais: avisar o público sobre ações patrocinadas. “Eu sou a favor de post pago, acho legal, mas tem de cumprir as regras. Se eu recebo um tênis para testar, testo e gosto, é uma coisa. Se eu recebo um tênis para testar acompanhado de um cheque de R$ 2 mil, é outra e o público tem o direito de saber.”

PROVA DE FOGO DAS REDES SOCIAIS
São centenas as páginas de direita excluídas por orquestrações para manipular a opinião pública, esquemas apurados internamente pelo Facebook e pelo Twitter, jamais admitidos pelos próprios envolvidos.

Agora temos a confissão da manipulação de discursos, mediante pagamento, utilizando influenciadores em diversas redes sociais. Qual será a atitude do Twitter e do Facebook? É a prova de fogo do equilíbrio.

***Enviei e-mails ao deputado Miguel Corrêa Junior com perguntas e dando a oportunidade de direito de resposta. Eles já foram abertos, mas ainda não foram respondidos. Assim que houver resposta, o post será atualizado.