Após o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, sua vida melhorou, piorou ou permaneceu igual? Essa foi a pergunta feita pelo Instituto Paraná Pesquisas a 2002 pessoas em 156 municípios dos 26 Estados e do Distrito Federal entre 2 de abril e 3 de maio. Para 90,5% delas, está igual ou pior. Veja os detalhes:
São dados, números: mais da metade da população acha que a vida NÃO mudou e 1/3 acha que piorou. É um contraste violento com as expectativas que levaram milhões de brasileiros às ruas pelo final do mandato de Dilma Rousseff. Por que as pessoas estão respondendo dessa forma? Acompanhe 3 análises completamente diferentes.
O deputado Carlos Zarattini, que se tornou líder do PT na Câmara logo após a queda do governo, comemorou o resultado do levantamento e não economizou nas tintas para comentar: O golpista que prometia o céu para os brasileiros entregou o inferno. É uma carga tóxica que ninguém quer carregar.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) chega ao mesmo resultado fazendo a conta inversa: para ele, não é pela rivalização com o PT que o governo Temer desilude a população, é pela semelhança.
Era o mesmo grupo político, né? Na verdade, eram duas quadrilhas aí que se uniram. Então poder imaginar que o grupo do PMDB, que deu sustentação ao primeiro mandato da Dilma e ao segundo mandato da Dilma, que eles fizessem algo diferente do que vinha sendo feito pela Dilma era no mínimo ingenuidade, né? Eu disse isso lá, naquela época, não tinha nenhuma esperança de que o Brasil melhorasse: o movimento do impeachment foi no sentido de que o Brasil não afundasse mais. Quem vai ter o compromisso de recuperar o Brasil porque vai recuperar credibilidade do governo e confiança da população é o futuro presidente.
Procurei também o deputado do PMDB que tem a posição mais difícil frente a essa informação: o paranaense João Arruda é da bancada de sustentação do governo e também é sobrinho de Roberto Requião, um dos mais aguerridos opositores de Temer e defensores de Lula. Ele credita o descontentamento à desilusão geral com os últimos presidentes da República:
A grande maioria da população ainda está contaminada pela rejeição pessoal que tem pelos últimos presidentes. São 56% que rejeitam Dilma e Temer. Os 34% que indicam piora constituem um número muito parecido com o de intenções de votos de Lula e do PT. Os 8% que consideram que a vida melhorou coincidem com a aprovação do governo Temer e os que rejeitam mais o governo da Dilma e PT. A opinião pessoal sobre os políticos tem grande influência na percepção de como está a vida.
Para sair da troca de mísseis entre os políticos, enviei a pesquisa ao jornalista e analista político Gaudêncio Torquato, um dos consultores políticos mais próximos de Michel Temer. A resposta dele tira o olhar da briga ideológica e coloca dentro de casa:
A baixa avaliação positiva do governo se deve, entre outros fatores, ao fato de que as reformas empreendidas e a recuperação da economia, em curso, ainda não resultaram em efetivos benefícios sociais. A massa de desempregados praticamente continua a mesma herdada do governo Dilma e os benefícios sociais se medem muito mais pelo conforto do emprego!! Além disso, o clima de denúncias também atinge forte a imagem do governo.
Os comentários também nos propõem uma reflexão interessante: o que REALMENTE conta para o povo, ideologia ou economia? Gaudêncio Torquato foi meu professor de marketing político na faculdade e foi quem me apresentou às 3 regras de ouro colocadas por James Carville, estrategista de campanha de Bill Clinton, na parede do comitê central da campanha presidencial vencedora em 1992:
Se houver melhoria social, mais empregos, reais oportunidades na educação e um atendimento digno de saúde pública, será que a população realmente se importa com a cor partidária ou com o discurso ideológico de quem efetivamente promove as mudanças? Eu aposto TODAS as minhas fichas que não.
O vazio de discursos que se sucedem sem ações que acompanhem as palavras fortes fica claro em um dado que passou despercebido na pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira 43, Perspectivas para as Eleições de 2018, feita pela CNI/Ibope. É o levantamento que ficou conhecido por apontar que 44% dos eleitores estão pessimistas com as eleições presidenciais. Mas ele tem um dado importantíssimo que coincide exatamente com o levantamento da Paraná Pesquisas: as demandas da população vão muito além do combate à corrupção.