Começa agosto, o mundo da política já começa a se perguntar se este ano vem algo por aí. Há quem diga que a expressão "mês do cachorro louco" tem suas origens na biologia. Devido ao clima, há mais cadelas no cio neste mês e os cachorros ficam loucos, brigam por elas. Isso teria alguma relação com o fato de ser o mês preferencial para a vacinação contra a raiva.
Aliás, não seria uma má ideia este ano estender a campanha destinada aos cachorros à classe política. Na era da superficialidade, acabamos muitas vezes confundindo com coragem o que é só descontrole emocional e espumar pela boca.
Mas a realidade é que o mundo político coleciona fatos tristes e nefastos em agosto, tanto no Brasil quanto no exterior. As maiores tragédias da história da humanidade têm ligação com este mês, que também concentra fatos trágicos da política nacional.
A Primeira Guerra Mundial começou em 1o de agosto de 1914. Tudo bem que a invasão da Sérvia pelo Império Austro-Húngaro foi em 28 de julho, mas considera-se o início da guerra a entrada das grandes potências. Foi só em agosto que a Alemanha e a Rússia fizeram suas declarações de guerra e que a França mobilizou suas tropas. Tendo a concordar, inclusive porque a lenda fica bem melhor.
Foi em 2 de agosto de 1934 que, com apoio da sociedade alemã e sem resistência suficiente contra o que então pareciam excentricidades, ousadia ou disparates, Adolf Hitler tornou-se Chefe de Estado da Alemanha, ganhou o título de "führer" e iniciou o projeto de poder mais maligno da história da humanidade.
Em 1945, numa ação bárbara que matou mais de 200 mil pessoas e deixou sequelas por gerações, os Estados Unidos, ao final da Segunda Guerra Mundial, bombardearam as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
Aqui no Brasil, felizmente, a sintomatologia do mês do cachorro louco não é a morte de civis, o genocídio e a barbárie. Colecionamos uma sucessão de fatos negativos e importantes envolvendo a presidência da República.
A história de Getúlio Vargas teve seu desfecho trágico em 24 de agosto de 1954. O ditador havia sido apeado do poder, mas voltou à presidência com o voto popular após 15 anos. Brasileiro não guarda rancor. O estilo populista e o passado do presidente geravam fortes atritos com o Congresso. Quando descobriram que a guarda presidencial havia sido responsável por um atentado contra um grande adversário de Vargas, Carlos Lacerda, onde morreu um militar, a crise se agravou. A saída do presidente foi um tiro no peito.
Tentando copiar Getúlio - não no suicídio, na volta ao poder pelos braços do povo -, Jânio Quadros cometeu seu suicídio político. Eleito prometendo mudar tudo, usando o símbolo de uma vassoura para "varrer a bandalheira", arrumou encrenca com o mesmo Carlos Lacerda quando quis, em plena Guerra Fria, se aproximar da Rússia e da China. A coisa degringolou quando condecorou Che Guevara. Em 25 de agosto de 1961, renunciou imaginando que iria voltar nos braços do povo. Só não havia combinado com o povo.
Outro presidente icônico teve uma morte trágica em agosto de 1976. Juscelino Kubistchek sofreu um acidente de carro no dia 22. Ele e o motorista morreram quando foram atingidos por um caminhão que já havia se acidentado com um ônibus. Apenas recentemente foi desfeita a suspeita de que era uma morte encomendada pela ditadura. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, foi acidente mesmo.
Mais um presidente eleito com a promessa de mudar tudo e sanear a política se estrepou na ilusão de ter apoio incondicional do povo num mês de agosto. Fernando Collor de Mello ganhou as eleições se declarando um "caçador de marajás", aquele que acabaria com os privilégios dos políticos e do funcionalismo. No final, o irmão dele denunciou o esquema de corrupção em que estava metido com o tesoureiro de campanha. Resolveu pedir ao povo, em rede nacional, que fosse às ruas de verde e amarelo em apoio ao governo no dia 16 de agosto de 1992. As pessoas foram, só que de preto. Não durou mais um mês no poder.
Em 13 de agosto de 2014, as eleições presidenciais ganharam um componente traumático. O avião que levava o candidato do PSB, Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, caiu na cidade de Santos, litoral de São Paulo. Todos os ocupantes do avião morreram: o candidato e mais 6 pessoas. As investigações concluíram que, devido ás más condições do clima, o avião estava voando fora da rota.
Essas eleições foram vencidas por Dilma Rousseff, que também sofreu da maldição presidencial do mês do cachorro louco. Seu impeachment foi votado no Senado dia 31 de agosto de 2016. A presidente da República, no entanto, não perdeu seus direitos políticos como Fernando Collor. Realmente eu gostaria de ter explicação para isso, mas até hoje não entendi direito.
Michel Temer escapou da maldição de agosto. Em 2017, foi nesse mês que tentaram votar seu pedido de impeachment, vindo depois do escândalo detonado por Joesley Batista. Habilidoso, mesmo em meio à turbulência política, o presidente conseguiu 263 votos a seu favor e contra a denúncia da Procuradoria-Geral da República. 227 deputados votaram a favor do impeachment, mas o processo não chegou nem a ir ao Senado.
Felizmente este ano só temos boas perspectivas para o mês. A monarquia pode ser consolidada quando presidente resolver indicar seu filho para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Não esperemos, no entanto, o decoro da monarquia britânica. Para manter acesa a chama da horda de sádicos que ataca pelas redes sociais quem o critica, Jair Bolsonaro é praticamente obrigado a dizer cada dia uma boçalidade mais baixa que a anterior.
Em termos de declarações ao público, comportamento e respeito às instituições, não temos o que temer no mês do cachorro louco: já estamos em agosto desde o início da campanha.
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