Com a derrota de Fernando Haddad, do PT, a luz de alerta sobre a necessidade de um novo olhar sobre a posição da esquerda no Brasil está ligada.
O descolamento da imagem de Lula e até mesmo da coloração vermelha não foi suficiente para os petistas superaram a onda bolsonarista pelo Brasil.
Por sinal, ontem, no comitê de Haddad, muito pouco se falava da figura de Lula e apenas duas vezes em forma de assobio tímido foi possível ouvir um ‘Lula-lá’.
Ao final da fala de Haddad, após o anúncio do TSE sobre sua derrota, a maior parte das lideranças do PT saiu sem falar com a imprensa.
Dilma Rousseff, ex-presidente e candidata derrotada ao Senado, e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, não quiseram se pronunciar. Gleisi, disse inclusive, que não falaria por ‘ser dia do Haddad’.
Juliano Medeiros, presidente do PSOL, reforçou a ideia da unidade. Para ele, é preciso encontrar e dialogar com as pessoas em nome da democracia.
“Nem todo eleitor do Bolsonaro é um ‘bolsomínion’, um fascista, alguém que odeia negro, odeia mulher e odeia LGBT. Tem uma parte que é isso, mas não é a maioria. Vamos ter que encontrar essas pessoas e dialogar com elas, e mostrar que a única saída para o Brasil é por dentro da democracia e com a ampliação de direitos, de investimentos sociais. É assim que a gente vai recuperar a capacidade do Estado brasileiro promover bem estar e felicidade para o povo brasileiro. Isso nós vamos fazer com os 45 milhões que votaram no Haddad, mas com uma parte das pessoas que, iludidas pela circunstâncias, nesse momento acabaram votando no Bolsonaro”.
Guilherme Boulos também não se furtou de falar pós-derrota do PT.
De maneira enérgica, falou em resistência democrática e oposição, pois segundo Boulos, Jair Bolsonaro não será o dono do Brasil.
“Não vai haver silêncio, não vai haver apatia e acovardamento da nossa parte. Nós vamos resistir. Jair Bolsonaro foi eleito presidente, não foi eleito ditador ou dono do Brasil. Não cabe a ele dizer se haverá oposição. Terá oposição e resistência democrática. Estaremos nas ruas, é importante que se diga isso”.
Para finalizar, vale lembrar quanto tempo a esquerda perdeu em não se alinhar e seguir com uma candidatura única.
Para começar, tomemos basicamente como esquerda o PT, PCdoB, PSOL, PSB e PDT.
Em 2014, PCdoB e PDT apoiaram a reeleição de Dilma. No segundo turno, o PSOL anunciou neutralidade, mas alguns nomes como Jean Wyllys, Chico Alencar e Ivan Valente, endossaram a campanha da petista.
Em 2015, após abertura do processo de impeachment de Dilma, o PCdoB tentou barrar o processo no STF.
O PSOL também começou a atacar o processo com nomes do PDT, PCdoB e PCB em atos com PT e movimentos sociais.
Com Temer assumindo o poder, os movimentos se uniram aos partidos de esquerda contra o novo presidente.
A situação fica ainda mais pesada com a delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, contra Temer.
Com a condenação de Lula, houve a unificação definitiva em torno do ex-presidente.
No começo deste ano, o PSB que estava com o governo, inclusive no governo tucano de SP, começou a se reaproximar do PT e de Lula.
Boulos chega ao PSOL em março deste ano e, em seguida, com a morte da vereadora Marielle Franco, no Rio, faz a indignação amalgamar as esquerdas.
O ponto alto, na prisão do ex-presidente, com Boulos, Manuela, Haddad e tantos outros nomes no show-missa feito em São Bernardo do Campo, o recado de Lula pela união era claro ao dizer que era uma ideia em cada um.
Parece que o último recado do ex-presidente em liberdade não ecoou. Boulos e Manuela saíram em voo solo. Ciro também. Já o PSB não soube muito bem o que fazer. E Haddad ficou no deserto até a decisão final da Justiça em proibir a candidatura de Lula.
Nesse tempo todo, faltou a humildade de olhar as origens, voltar às bases e assumir erros. O despertar foi tarde e, como a democracia é uma delícia, será preciso voltar às bases e no fone de ouvido, colocar muito Mano Brown para ouvir.