A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse nesta segunda-feira (4/12) que a desconfiança pública em relação ao seu compromisso com o combate à corrupção é autêntica e compatível com a história brasileira, “marcada” por desvios de dinheiro.
“Nestes dois meses e meio de mandato tenho ouvido preocupações sinceras sobre o efetivo compromisso do Ministério Público em minha gestão contra a corrupção. São indagações autênticas, verdadeiras e coerentes”, afirmou Dodge em evento pelo Dia Internacional Contra a Corrupção. “Acolho essas preocupações com claros sinais da seriedade do meu mandato e da seriedade que o povo brasileiro atualmente reserva para este assunto.”
Dodge discursou por mais de meia hora e, citando o líder estadunidense Martin Luther King e a poetisa Cora Coralina, defendeu a execução da pena em segunda instância e os acordos de colaboração premiada feitos pelo Ministério Público Federal (MPF).
A Procuradora-Geral afirmou que trabalhará pela “honestidade em terras brasileiras”, já que as práticas de corrupção continuam em curso e que o país ainda está “contando o dinheiro desviado”.
Segundo estimativas da Procuradoria-Geral da República divulgadas nesta segunda-feira, aproximadamente 70% das ações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ) envolvendo autoridades com foro privilegiado estão ligadas à corrupção.
A PGR disse que a tolerância institucional à corrupção, além de “interesses espúrios, ganância” e a burocracia das instituições, dificultam o trabalho a ser feito, mas que o Ministério Público vai redobrar os esforços para aplicar a lei e já antevê ilicitudes nas eleições do ano que vem.
“Algumas quadrilhas foram desbaratadas, mas muitas continuam a agir com desfaçatez, à luz do dia, e em conluios que não escapam a registros a câmaras de vídeo e a colaborações premiadas”, afirmou. “Outras quadrilhas escondem quantias milionárias, às vezes de modo tão petulante e displicente que nos dão a certeza de que não temem a punição.”