Sabe quando a gente quebra a cabeça por um assunto, debate, discute, rompe amizades e depois de dois ou três meses esquece completamente tudo isso? Pois é: 2017 foi excelente em discussões desse tipo – aqueles debates mortais que acabam não levando a nada.
Vamos começar por um que ganhou força no meio do ano. Por acaso alguém aí se lembra quando a gente estava discutindo, e pra valer, as eleições indiretas no Brasil? Pois é: isso aconteceu depois que a bomba da JBS estourou e achava-se que o Temer não ia concluir o mandato, seja por renúncia, impeachment ou cassação.
As especulações voaram longe e muita gente foi considerada para aquela tal eleição indireta. Um dos nomes mais fortes era o de Nelson Jobim, ex-ministro e ex-presidente do Supremo. O que se dizia é que ele aparecia como um nome para pacificar o país porque tinha respeito no PT, no PSDB, no PMDB e também no meio militar. Outro nome que era muito citado era o do senador Tasso Jereissati, do PSDB, que tinha a experiência como grande triunfo, e do presidente da Câmara, o Rodrigo Maia.
O fato é que o tempo passou, Temer ficou no cargo, e ninguém mais lembrou disso.
Outro assunto que deu confusão, e hoje parece coisa de séculos atrás: vocês se lembram de quando Renan Calheiros rompeu com o governo e saiu da liderança do PMDB? É, isso mesmo. Renan Calheiros falando grosso com um governo. Foi também nesse mesmo período, ali no mês de junho.
A liderança do PMDB no Senado acabou ficando com o Raimundo Lira, da Paraíba. Renan Calheiros continua no partido. Por coincidência ou não, ele recebeu com muita alegria o Lula em alagoas no mês de agosto. Lula, como a gente sabe, é candidato. E o filho de Renan, o Renan Filho, é candidato à reeleição como governador. Bem, os dois lados estão querendo sair ganhando com isso.
Mas talvez a história na política que mais rendeu especulação foi a candidatura de João Doria à presidência da república. Vamos relembrar. O tucano foi eleito prefeito de São Paulo em 2016 em primeiro turno, numa votação que pegou todo mundo de surpresa e que consagrou o Geraldo Alckmin – afinal, Alckmin tinha colocado todas as fichas em um nome externo à política, e acabou fazendo o PSDB ganhar uma eleição na cidade de São Paulo pela primeira vez desde 2004. Tudo parecia perfeito: Alckmin e Doria, criador e criatura, comandando o estado e a cidade de São Paulo e preparando palanque para que o Alckmin fosse o candidato do PSDB à presidência em 2018.
Eis que o Doria assume a prefeitura em primeiro de janeiro, começa a governar e… tem uma aprovação assombrosa. O Brasil inteiro começou a debater aquele prefeito que colocava roupa de gari, comprava briga com pixador e fazia parcerias com o setor privada. E aí veio a pergunta: por que o Doria não poderia ser candidato a presidente?
Então o Doria começou a aparecer nas pesquisas. E, surpresa, ele ia tão bem, ou mesmo melhor, do que tucanos estrelados como Aécio Neves – antes da delação da JBS, claro – e seu próprio padrinho Geraldo Alckmin. Armou-se a confusão. Doria ia ultrapassar Alckmin? Ia abandonar seu padrinho? Ia bater de frente com ele no PSDB, ou mesmo trocar de partido?
Só que, no fim das contas, essa discussão nem chegou a se concluir. A aprovação do Doria em São Paulo foi caindo, aliados do PSDB que tinham prometido apoio a Alckmin disseram que não iriam estar ao lado do Doria, dentro do PSDB o Doria acabou ficando muito mais malvisto, e acabou terminando o ano trocando elogios e lançando Alckmin à Presidência da República.
Sem dúvida, mais elementos poderiam estar aqui. Por exemplo, a operação Carne Fraca, aquela que pegou as irregularidades nas empresas do setor, lá em março: não que a Carne Fraca tenha sido uma perda de tempo, muito pelo contrário, mas… dois meses depois dela estourou a delação da JBS. Como a gente poderia imaginar que aquele reboliço todo não ia ser o maior escândalo envolvendo o universo da produção de carne, hein?
Espero que vocês tenham gostado dessa retrospectiva das grandes discussões que não deram em nada. Que os debates no ano que vem sejam mais produtivos!
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